Operação Mãos Limpas, a "Lava Jato da Itália", faz 25 anos
Em 17 de fevereiro de 1992, há 25 anos, a Procuradoria da República em Milão dava início à Operação Mãos Limpas (Mani Pulite, em italiano), que provocaria uma crise política sem precedentes na Itália e, já no século 21, serviria de inspiração para o juiz Sérgio Moro e a Lava Jato.
O primeiro ato da operação que desmoronou as principais legendas da época foi a prisão de Mario Chiesa, expoente do Partido Socialista Italiano (PSI) e então presidente do Pio Albergo Trivulzio, entidade municipal que gere hospitais e centros de assistência para idosos em Milão.
Chiesa foi pego em flagrante recebendo uma propina de 7 milhões de liras - algo em torno de 3,6 mil euros (R$ 11,7 mil, segundo a cotação atual) - de um empresário chamado Luca Magni, que administrava uma pequena firma de limpeza e queria garantir a vitória em uma licitação pública.
Comandada pelos promotores Antonio Di Pietro, Piercamillo Davigo e Gherardo Colombo, a "Mãos Limpas" investigou 4,5 mil pessoas, indiciou 3,2 mil e obteve cerca de 1,3 mil condenações, redefinindo o mapa político da Itália e causando a extinção do PSI e da Democracia Cristã, que governavam o país desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
O total de propinas e dinheiro sujo envolvidos nas denúncias teria chegado a 3,5 bilhões de liras (1,8 milhão de euros), uma quantia irrisória se comparada aos mais de R$ 10 bilhões estimados pelo Ministério Público Federal (MPF) na Lava Jato.
Boa parte desse valor saiu dos caixas da ENI, a estatal italiana de petróleo e gás.
Os três anos da "Mãos Limpas" provocaram uma desconfiança generalizada em relação aos partidos e também foram marcados por uma grave crise econômica, prisões em sequência e atentados da máfia. Ao mesmo tempo, havia a esperança - mais tarde despedaçada - de que a investigação levasse mais transparência e honestidade ao poder público.
"De um lado, permanece a amargura ao constatar que, apesar de tudo o que a 'Mãos Limpas' descobriu, o sistema de corrupção na administração pública continua existindo, mas não como antes: ele se sofisticou para garantir maior impunidade. Por outro lado, é preciso sublinhar que a magistratura nunca abaixou a guarda na luta contra a corrupção", disse Di Pietro, o mais célebre dos promotores da operação.
Após ter pendurado a toga, no fim de 1994, o ex-magistrado enfrentou processos por abuso de poder, foi absolvido e entrou para a política. Entre a segunda metade dos anos 1990 e a primeira década do século 21, exerceu os cargos de eurodeputado, senador da República, ministro do Trabalho e ministro dos Transportes - estes dois últimos a convite do centro-esquerdista Romano Prodi.
Hoje, aos 66 anos, não ocupa funções públicas, mas continua participando ativamente do debate sobre os rumos da Itália, inclusive por meio de um blog pessoal. "A 'Mãos Limpas' não tinha fins políticos, foi só uma investigação que pegou no flagra inclusive políticos. Não foi culpa da magistratura se quem estava roubando eram políticos, homens das instituições e funcionários públicos", ressaltou Di Pietro.
Um dos resultados imediatos da operação foi a ascensão de Silvio Berlusconi, que se aproveitou de um império televisivo e do sucesso como dono do Milan para surfar no descrédito dos italianos em relação aos partidos tradicionais, destruídos pela "Mãos Limpas".
Sem nenhuma experiência em cargos públicos, se candidatou a primeiro-ministro em 1994, ganhou e logo tratou de aprovar leis que dificultariam a punição de corruptos. Depois de uma curta experiência de governo que durou até 1995, se alternou no poder com a esquerda até anos mais recentes.
Perguntado se a Itália falhou ao combater ilegalidades no período após a "Mãos Limpas", Di Pietro é direto: "Fracassou quem devia tomar medidas para que houvesse leis, meios e prevenção. E não preciso acrescentar mais nada".
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