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Jornal denuncia ação russa para ajudar populistas na Itália

01/03/2018 19h24

ROMA, 01 MAR (ANSA) - Às vésperas das eleições legislativas na Itália, uma nova denúncia acusa partidos de extrema direita de terem sido beneficiados por uma "campanha de desinformação" sobre imigração promovida pela máquina de propaganda da Rússia.   

A denúncia foi publicada pelo jornal espanhol "El País" e representa mais um elo na suposta cadeia que une legendas populistas e o Kremlin, interessado em fortalecer grupos eurocéticos na União Europeia.   

De acordo com o diário, a "máquina de ingerências russa" concentrou seus esforços nos últimos meses em uma "campanha de desinformação sobre a situação migratória na Itália, com o objetivo de impulsionar partidos radicais" em vista das eleições de 4 de março.   

"El País" teve acesso a mais de 1 milhão de mensagens de 98 mil usuários de redes sociais e desvendou uma rede de ativistas que divulgava sobretudo links da agência "Sputnik", que tem serviços em vários idiomas, inclusive italiano e português, para "propagar a falsa imagem de uma Itália invadida por refugiados".   

Ainda de acordo com o jornal, os russos culpavam a "passividade dos políticos europeístas e a União Europeia" pela crise migratória no Mar Mediterrâneo, que leva, todos os anos, dezenas de milhares de migrantes forçados para portos italianos.   

Em 26 de julho de 2017, por exemplo, a "Sputnik" publicou que, em 2065, a cota de imigrantes na população da Itália pode ultrapassar os 40% - atualmente, esse índice é de 8,4%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (Istat). Para alcançar o patamar divulgado pela agência russa, o indicador precisaria crescer 500% em menos de 50 anos, sendo que a expansão em relação a 2017 foi de somente 0,1 ponto percentual. O estudo publicado por "El País" foi feito pela consultoria internacional Alto Data Analytics, especializada em big data.   

"A conclusão é que a 'Sputnik' foi muito influente na hora de radicalizar o debate sobre a crise migratória. De todos os meios internacionais que operam na Itália, esse meio russo é o segundo mais influente, atrás da versão italiana do 'Huffington Post'", diz o jornal.   

Dois partidos de extrema direita - Liga Norte e Irmãos da Itália (FDI) - integram a coalizão conservadora que lidera as pesquisas de intenção de voto, junto com o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi. O secretário da Liga, Matteo Salvini, notoriamente contrário à imigração ilegal e aos resgates no Mediterrâneo, é cotado para ser ministro do Interior, justamente a pasta responsável pela gestão da crise migratória.   

Ainda de acordo com o jornal espanhol, um indício da atuação de "robôs" para favorecer a extrema direita é que a comunidade pró-imigração nas redes sociais tem o dobro dos integrantes dos grupos anti-imigrantes, mas publicou menos da metade de seu conteúdo.   

Reviravolta - A campanha eleitoral na Itália começou com a questão migratória em segundo plano e mais voltada para os impostos, mas o cenário se inverteu no fim de janeiro, quando uma jovem de 18 anos foi encontrada desmembrada na província de Macerata, centro do país.   

Após a divulgação de que nigerianos estavam sendo investigados pelo crime, um neofascista que havia sido candidato pela Liga Norte disparou contra seis imigrantes negros que nada tinham a ver com o caso. Todos sobreviveram.   

Desde então, o país conviveu com diversos episódios de violência política, com o temor declarado pelas principais lideranças do país quanto a um retorno do fascismo. Para recuperar terreno na questão migratória, o governo de centro-esquerda de Paolo Gentiloni adotou uma série de medidas para conter a crise no Mediterrâneo, como o acordo para treinar a Guarda Costeira da Líbia e o código de conduto que limitou a atuação de ONGs na região.   

Como resultado disso ou não, o fato é que o fluxo migratório no Mediterrâneo vem caindo desde julho do ano passado.   

Laços - Em entrevista à ANSA em janeiro de 2018, o opositor russo Alexei Navalny já acusara o Kremlin de ter um conluio não apenas com a Liga Norte, mas também com o antissistema Movimento 5 Estrelas. Segundo ele, o partido de Salvini "ama Putin, e Putin o ama".   

As relações entre a Liga e o Rússia Unida, partido do presidente, não são novidade. Em março de 2017, as duas legendas assinaram um "acordo de cooperação" válido por cinco anos, para "trocar informações sobre temas da atualidade". (ANSA)
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