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Ordenação de padres casados divide Sínodo da Amazônia

06.out.2019 - Papa Francisco celebra missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, para abrir o Sínodo da Amazônia - Tiziana FABI/AFP
06.out.2019 - Papa Francisco celebra missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, para abrir o Sínodo da Amazônia Imagem: Tiziana FABI/AFP

Na Cidade do Vaticano

18/10/2019 10h42

A proposta para ordenar padres casados dividiu os bispos que participam do Sínodo para a Região Pan-Amazônica, no Vaticano.

Esse é um dos principais temas em discussão na assembleia episcopal, que se reúne até 27 de outubro e busca novas formas para evangelizar povos indígenas na Amazônia e fazer frente ao crescimento das igrejas neopentecostais.

A proposta prevê a extensão do sacerdócio aos chamados "viri probati", homens casados, de fé comprovada e capazes de administrar espiritualmente uma comunidade de fiéis.

Um relatório de bispos de língua portuguesa pede explicitamente que o papa Francisco aceite homens casados como padres, "preferivelmente indígenas, respeitados e reconhecidos por sua comunidade, ainda que já tenham uma família".

Já um relatório do círculo de língua italiana alega que a proposta pode "reduzir o valor do celibato" e prejudicar o "ímpeto missionário a serviço das comunidades mais distantes".

Os críticos da ideia dos "viri probati" ainda afirmam que o tema deve ser submetido à "opinião de toda a Igreja" e sugerem um "Sínodo universal" sobre o assunto.

Um dos principais desafios para o catolicismo na Amazônia é a escassez de padres, o que faz com que muitos fiéis não recebam os sacramentos que estão na base da religião, como a comunhão.

Até o momento, os bispos que atuam na parte brasileira da floresta têm sido os maiores defensores da ordenação de homens casados.

O bispo emérito do Xingu, Erwin Kräutler, chegou a dizer que os índios não entendem o celibato e que a proposta dos "viri probati" é a única possibilidade para a Igreja na Amazônia.

Segundo ele, milhares de comunidades indígenas recebem a Eucaristia apenas duas ou três vezes por ano.

"Para a Igreja Católica, a Eucaristia está no centro, mas colocamos o celibato acima da Eucaristia", acrescentou. O relator do Sínodo, cardeal Cláudio Hummes, também é defensor da proposta. Os bispos de língua portuguesa ainda manifestaram apoio à criação de um diaconato para as mulheres.

No catolicismo, os diáconos não são sacerdotes, mas podem proclamar o Evangelho e a liturgia. "Considerando que a presença das mulheres é decisiva na vida e na missão da Igreja na Amazônia e que o Concílio Vaticano II reintroduziu o diaconato permanente para os homens, por considerá-lo bom e útil para a Igreja, achamos que, do mesmo modo, o argumento é válido para criar um diaconato para as mulheres na Igreja na Amazônia", diz a proposta dos bispos de língua portuguesa.