Segundo turno confirma vitória da esquerda em eleições na Itália
O segundo turno das eleições municipais na Itália confirmou a vitória acachapante da centro-esquerda nas maiores cidades do país, encerrando um período de hegemonia eleitoral da direita que durava desde a ascensão de Matteo Salvini, em 2018.
No primeiro turno, em 3 e 4 de outubro, candidatos progressistas já haviam sido eleitos com mais de 50% dos votos em três das seis capitais regionais que foram às urnas (Bolonha, Milão e Nápoles), mas o saldo vitorioso aumentou hoje, com os triunfos de Roberto Gualtieri em Roma e de Stefano Lo Russo em Turim.
As duas cidades eram governadas pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que vive uma crise de popularidade e sequer chegou ao segundo turno. O resultado mostra poder de reação da centro-esquerda após três anos de repetidas vitórias da direita em eleições municipais e regionais.
Entre as três capitais que tiveram segundo turno, a coalizão conservadora venceu apenas em Trieste, com Roberto Dipiazza, o que reflete o momento conturbado vivido pela aliança.
Essa coligação é formada pelos partidos ultranacionalistas Liga, de Salvini, e Irmãos da Itália (FdI), de Giorgia Meloni, e pelo moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi. Contudo, a ascensão de Meloni à liderança das pesquisas nacionais expôs uma disputa interna com Salvini e atrasou o processo de escolha dos candidatos para as eleições municipais.
Pressionado pelas pesquisas e pelo crescimento de Meloni no eleitorado de extrema-direita, Salvini evitou falar em derrota nesta segunda-feira e preferiu se concentrar na abstenção - apenas 43,94% dos eleitores foram às urnas em 17 e 18 de outubro.
"Se alguém é eleito pela minoria, isso é um problema para a democracia", declarou o senador ultranacionalista em coletiva de imprensa em Catanzaro. "Hoje a centro-direita tem mais prefeitos do que há 15 dias", acrescentou.
Já o ex-premiê Enrico Letta, líder do Partido Democrático (PD), maior força de centro-esquerda na Itália, ironizou as palavras de Salvini. "Ouvi uma coletiva de imprensa surreal de Salvini, que falava em vitória da centro-direita. Talvez fossem imagens de arquivo", declarou.
Roma
Na "cidade eterna", Meloni bancou o radialista e advogado Enrico Michetti, mas o candidato foi indicado apenas em junho, enquanto seu principal adversário, o deputado de centro-esquerda Roberto Gualtieri, estava em pré-campanha desde março.
Além disso, Michetti sofreu com o fogo amigo na direita, especialmente por parte da Liga, e não conseguiu manter a dianteira conquistada no primeiro turno. Com quase 100% das urnas apuradas, Gualtieri tem 60,1% dos votos, contra 39,9% do radialista.
Com 55 anos de idade, o prefeito eleito de Roma foi deputado do Parlamento Europeu durante uma década, período em que se notabilizou por sua oposição às medidas de austeridade da União Europeia. No entanto, passou a se concentrar mais na política italiana em setembro de 2019, quando foi nomeado ministro da Economia no segundo governo de Giuseppe Conte (Movimento 5 Estrelas).
Ele ocupou o cargo até fevereiro de 2021 e foi um dos artífices do inédito fundo de recuperação de 750 bilhões de euros criado pela UE para favorecer a retomada econômica no pós-pandemia - a Itália é a maior beneficiará desse programa em termos absolutos, com direito a quase 200 bilhões de euros.
Atualmente, Gualtieri ocupa um assento na Câmara dos Deputados.
O prefeito eleito também fala português, é apaixonado por bossa nova e admirador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Li atentamente toda a sentença do processo [do tríplex do Guarujá] e fiquei chocado com a ausência de provas e de culpas.
"Acho que essa sentença será estudada por muitos anos na universidade como um caso de má justiça", afirmou Gualtieri após visitar Lula na cadeia em 2018.
Como prefeito, ele terá o desafio de colocar nos trilhos uma cidade que se tornou nos últimos anos um moedor de carreiras políticas, ao invés de um trampolim para voos mais altos.
A prefeita Raggi amargou apenas um quarto lugar nas eleições municipais, enquanto seus dois antecessores, Gianni Alemanno (direita) e Ignazio Marino (esquerda), tiveram mandatos conturbados devido a problemas com a Justiça.
"Serei o prefeito de todas as romanas e de todos os romanos.
Vamos começar um trabalho extraordinário para relançar Roma e fazê-la crescer", disse Gualtieri nesta segunda-feira. Entre seus principais desafios estão os problemas crônicos da capital com lixo urbano e transporte público, além da degradação das periferias. "Todos os distritos serão motores fundamentais para nós. Queremos uma cidade dos bairros, é o tempo de realizar um grande pacto pelo desenvolvimento e emprego", acrescentou o prefeito eleito.
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