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Blogueira baleada por Taleban receberá tratamento na Grã-Bretanha

Estudantes exibem foto de Malala Yousafzai, durante manifestação em Karachi, no Paquistão - Ahmed Naseer/Reuters
Estudantes exibem foto de Malala Yousafzai, durante manifestação em Karachi, no Paquistão Imagem: Ahmed Naseer/Reuters

15/10/2012 04h19

A adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, que foi baleada na cabeça pelo Taleban por fazer críticas ao movimento insurgente em seu blog, receberá tratamento médico na Grã-Bretanha.

A informação foi divulgada pelo Exército do Paquistão. Os militares disseram que a garota, de 14 anos, precisa fazer um tratamento longo. O tratamento na Grã-Bretanha será patrocinado pelo governo dos Emirados Árabes.

Após tomar um tiro na cabeça, a menina foi submetida a uma cirurgia no hospital militar da cidade de Rawalpindi. Segundo os médicos, o ritmo de recuperação nos próximos dias será crucial para determinar suas chances de sobrevivência e de possíveis sequelas.

Malala Yousafzai relatava em seu blog as dificuldades de viver em uma região sob forte influência do Taleban. O movimento insurgente disse que a menina promove o "secularismo", e prometeu atacá-la novamente, caso ela sobreviva.

Ataque

O ataque ocorreu na terça-feira (9) da semana passada, quando a menina estava voltando da escola para casa, na cidade de Mingora, na província de Swat.

Dois homens armados abordaram a van escolar que transportava Malala e cerca de dez crianças em uma congestionada avenida da cidade.

Um deles entrou na van e perguntou quem era Malala. Ao receber a resposta, ele disparou três tiros - acertando Malala na cabeça e ferindo outras duas meninas.

Quatro pessoas foram presas, suspeitas de terem participado do ataque. Elas estavam entre as cem pessoas que foram abordadas na última semana pelos investigadores.

O caso teve grande repercussão nacional e internacional. Na sexta-feira (12), diversos serviços religiosos foram realizados em todo o Paquistão em homenagem à Malala.

Blog

Malala tornou-se conhecida ainda em 2009, aos 12 anos, quando assinava o blog Diário de uma Estudante Paquistanesa na BBC Urdu, site da BBC para o Paquistão.

Na época, ela comentava os impactos na comunidade de medidas do Taleban que, naquele ano, havia fechado mais de 150 escolas para meninas, e explodido outras cinco no vale de Swat.

O clima já era tenso na época e havia uma ameaça constante de que escolas de meninas pudessem ser alvo de ataques. Malala relatava que muitas de suas colegas haviam se mudado com suas famílias para cidades maiores como Lahore, Peshawar e Rawalpindi.

"Ontem, eu tive um sonho terrível com helicópteros do Exército e o Taleban. Tenho tido esses sonhos desde o início da operação militar em Swat. Minha mãe fez meu café da manhã e eu fui para a escola. Estou com medo de ir à escola porque o Taleban emitiu um alerta banindo todas as meninas de frequentarem as escolas", dizia um post da garota no dia 3 de janeiro de 2009.

"Na volta da escola para casa, ouvi um homem dizendo 'eu vou te matar'. Eu acelerei o passo e, depois de um tempo, olhei para trás para ver se ele ainda me seguia, mas para o meu alívio ele estava falando com alguém no celular. Talvez tenha ameaçado outra pessoa pelo telefone".

Para M Ilyas Khan, correspondente da BBC em Islamabad, a vida de Malala e sua família jamais será a mesma, e é provável que ela tenha de viver sob proteção policial ou seja forçada a buscar asilo político no exterior.