Fernanda Magnotta

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Opinião

Crise climática e o papel do Brasil: reflexões a partir da tragédia no RS

As recentes enchentes no Rio Grande do Sul ilustram os impactos devastadores da crise climática, que não se limita a fronteiras nacionais e demanda uma resposta global coordenada. Esses eventos extremos, que têm se tornado mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas, destacam a vulnerabilidade de diversas regiões e a urgência de políticas eficazes de mitigação e adaptação. Nesse contexto, o Brasil desempenha um papel crucial como um dos grandes países em desenvolvimento e detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta.

A liderança brasileira na promoção de práticas sustentáveis é fundamental não apenas para a conservação de seus ecossistemas, mas também como parte de uma estratégia global para enfrentar a crise climática. Além disso, o Brasil pode influenciar outros países através de iniciativas multilaterais e da participação em acordos internacionais, reforçando a importância de uma ação coletiva contra os efeitos cada vez mais visíveis das mudanças climáticas.

Nesse sentido, é importante relembrar que o Brasil tem desempenhado um papel notável na arena ambiental global desde suas primeiras participações em conferências internacionais até a era recente, marcada por desafios e compromissos renovados.

Desde a Conferência de Paris em 1968 e a subsequente reunião em Estocolmo em 1972, o Brasil adota uma postura que enfatiza a soberania nacional e o desenvolvimento sustentável. Não à toa, desde a publicação do Relatório Brundtland de 1987, que introduziu esse conceito, destacando a necessidade de equilibrar as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento, o país tem se orientado por essa lógica em negociações multilaterais. Foi justamente este relatório que determinou a convocação da Conferência do Rio em 1992, também conhecida como Eco-92, em que o Brasil desempenhou um papel central no debate do tema ambiental. Na Eco-92, foram estabelecidos princípios fundamentais que pautam a agenda até os dias de hoje.

Durante as décadas seguintes, o Brasil continuou a ser um player influente em convenções ambientais globais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. Estas convenções abordaram questões desde a conservação da biodiversidade até a mitigação dos efeitos da mudança climática e desertificação, com o Brasil frequentemente defendendo a integração de objetivos ambientais com desenvolvimento econômico e justiça social.

Mais recentemente, na Conferência do Clima em Paris (COP 21) e na subsequente COP 26, em Glasgow, o Brasil comprometeu-se com metas significativas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o combate ao desmatamento, refletindo um papel proativo nas negociações climáticas globais. Ainda assim, desafios internos, como as queimadas na Amazônia e as críticas internacionais sobre a gestão em outras questões, colocaram o Brasil em uma posição de ter que defender e reafirmar seu compromisso com práticas sustentáveis.

Está amplamente documentado que o aquecimento global e a crise climática são fenômenos intensificados pela ação humana. Essas mudanças têm levado ao derretimento das geleiras e à consequente elevação do nível dos mares, além de uma série de outros sintomas. Assim, na luta contra a emergência climática, diversas "armas de combate" são fundamentais.

A defesa da Ciência, em particular, desempenha um papel crucial ao fornecer o conhecimento e as inovações necessárias para entender e combater aos desafios que se impõem. Além disso, a mobilização da opinião pública global é essencial para impulsionar ações governamentais e individuais. A solidariedade com as populações mais vulneráveis, frequentemente as mais afetadas pelas mudanças climáticas, também é vital, reforçando a necessidade de uma abordagem inclusiva e empática em políticas públicas.

Para enfrentar efetivamente o aquecimento global e seus desdobramentos, algumas medidas práticas são necessárias. Aumentar a eficiência energética por meio do uso ampliado de energias renováveis, em contraposição aos combustíveis fósseis, é uma das estratégias mais eficazes. Além disso, mudanças no uso da terra, especialmente na agricultura, podem contribuir significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Combater diretamente esses gases e as queimadas, além de incentivar a criação de bens e serviços não poluentes, são passos essenciais para mitigar os impactos das atividades humanas sobre o clima.

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Por fim, é crucial investigar as causas antropogênicas, ou seja, as alterações provocadas pelo homem no meio ambiente, e explorar estratégias de adaptação para aliviar ou diminuir esses efeitos. Questões como a crise dos alimentos e o mecanismo de crédito de carbono também merecem atenção especial, pois estão intrinsecamente ligadas à economia global e à sustentabilidade ambiental. Com um entendimento mais profundo dessas questões, será possível desenvolver respostas mais eficazes e direcionadas para os desafios climáticos de agora e do futuro para que não testemunhemos, ano após ano, manifestações como as que nesse momento devastam tão tristemente o sul do nosso país.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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