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Como os EUA podem atingir as armas químicas sírias?

Jonathan Marcus

Analista de Defesa da BBC News

04/09/2013 07h20

Os Estados Unidos estão tentando viabilizar uma ação militar contra a Síria em resposta a um ataque com armas químicas que teria ocorrido no mês passado. Mas será que o presidente Barack Obama conseguirá atingir o arsenal químico de Bashar al-Assad?

Em discurso no fim de agosto ele deixou claro o objetivo de realizar alguma ação militar contra a Síria.

Seu propósito, explicou, deve ser "responsabilizar o regime de Assad pelo uso de armas químicas, deter esse tipo de comportamento e diminuir a capacidade deles para continuar com isso".

Agora, Obama está procurando aprovação do Congresso para uma eventual ação militar, mas muitas questões permanecem, como os alvos e a escala de um ataque - e se atingirá diretamente os locais onde estão as armas químicas.

Em face do que tem ocorrido, isso é altamente improvável.

Algumas partes dos complexos de armas químicas da Síria podem estar enterradas no subsolo, mas grande parte deles pode ser facilmente vista em imagens de satélites.

Muitos desses complexos ficam localizados razoavelmente próximos de áreas populosas - e esse é o problema. Atacar esses lugares com bombas e explosivos normais pode causar danos consideráveis, mas também pode fazer com que os estoque de armas químicas entrem em contato com a atmosfera, dispersando-os por uma grande área e consequentemente provocando um grande número de vítimas civis.

Calor intenso

Por quatro anos os EUA tem procurado desenvolver ogivas que possam ser usadas para destruir estoques de armas químicas sem causar danos à população.

As chamadas "armas de anulação de agentes" provavelmente estão à disposição de comandantes americanos. Elas têm características diferentes, mas seguem todas o mesmo princípio de usar o calor intenso - de uma bomba superincendiária - para destruir agentes químicos ou biológicos nos lugares em que estão armazenados.

As temperaturas necessárias para obter tal resultado são dramaticamente altas - entre 1.200ºC e 1.500ºC.

Embora alguns especialistas sugiram que as temperaturas mais altas dessa escala seriam necessárias para destruir armas biológicas, armamentos químicos como o VX, que atua no sistema nervoso, poderiam ser neutralizados com as temperaturas mais baixas dessa faixa.

A situação exata dessas munições no arsenal americano é incerta.

Um sistema é conhecido como "crashPAD", bomba incendiária de alta temperatura. Outro é conhecido como PAW (sigla para Arma de Ataque Passivo), que depende da energia cinética de uma massa de aço ou bastões de tungstênio para produzir o calor necessário.

Contudo, a escala das instalações sírias e sua proximidade de áreas populadas podem convencer os estrategistas americanos a evitar atingir todas as instalações dos complexos de armas químicas.

Eles podem optar por determinados elementos dessas instalações, tais como aqueles responsáveis pelo suprimento de força. Uma opção mais segura seria, porém, neutralizar outros recursos militares da Síria, especialmente sistemas de lançamento de mísseis e projéteis.

Tarefa difícil

Isso significa atacar baterias de artilharia, sistemas de lançamento de foguetes e mísseis, aeronaves e também instalações de produção de mísseis. Quartéis-generais e outros edifícios associados a unidades ligadas ao programa de armas químicas também seriam atacados.

Mas há um outro problema para o presidente Obama. Muitos desses alvos potenciais - artilharia e aviação, por exemplo - são elementos-chave para a superioridade do presidente Assad sobre os rebeldes.

Se esses recursos forem destruídos em grande quantidade, existe o risco significante de alterar o equilíbrio militar no terreno a favor dos rebeldes, o que Obama aparentemente queria evitar. Talvez ele esteja mudando de opinião enquanto tenta conquistar um Congresso cético.

Uma boa parte dos figurões do Capitólio quer ver ações mais resolutas contra o regime de Assad. Mas há também aqueles que não querem ataques ou defendem uma ação militar muito limitada.

Obama tem uma tarefa duplamente difícil. Primeiro tem que vender em casa a ideia de um ataque punitivo para políticos com uma grande variedade de opiniões.

Depois ele precisa calibrar a escala e os alvos do ataque em si, se ele for aprovado, para assegurar que funcione como o tipo de alerta necessário sem mudar completamente a situação no terreno.