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Itamaraty confirma veto a visto de instrutor acusado de violência contra mulheres

Ricardo Senra

Em São Paulo

13/11/2014 18h47

Como a "BBC Brasil" adiantou na noite de quarta-feira (12), o Ministério das Relações Exteriores confirmou ter elementos suficientes para recomendar a negação do visto de permanência ao suíço Julien Blanc no país.

Em nota, o Itamaraty ressalta que até o momento não há registro de pedido de visto. "Caso uma solicitação de visto seja recebida por qualquer Embaixada ou Consulado no exterior, já existem elementos suficientes que recomendam a denegação. Para tanto, o Itamaraty acompanha o assunto em coordenação com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Políticas para as Mulheres", diz o texto.

O ministério também confirmou que instruiu suas representações diplomáticas e consulares pelo mundo a entrar em contato com Brasília em caso de pedido de entrada no país, conforme adiantado pelo #SalaSocial.

Petição

O caso ganhou visibilidade por meio de uma petição no site Avaaz contra a vinda de Blanc. Em menos de dois dias, ela ultrapassou 278 mil assinaturas. O rapaz é instrutor executivo da Real Social Dynamics, empresa norte-americana que ensina métodos considerados machistas e pautados por violência, intimidação e humilhação por meio de palestras e vídeos destinados a homens solteiros em busca de mulheres.

A empresa retirou de seu site a página em que permitia que clientes pagassem adiantado para participar de palestras do suiço em território nacional, anteriormente marcadas para os dias 22 e 25 de janeiro do ano que vem, em Florianópolis, e 29 a 31 do mesmo mês, no Rio de Janeiro, em locais sigilosos.

Pelas aulas, era cobrado o valor de US$ 2.500. As técnicas ensinadas em seus vídeos vão desde beijos à força até puxar a cabeça de mulheres em direção a região genital masculina. Blanc também sugere que rapazes ignorem quando mulheres dizem não às investidas sexuais e promete métodos para "ativar a prostituta que existe dentro delas".

Para atrair companheiras, ele ainda sugere táticas como fazer com que elas peçam dinheiro, diminuir sua autoestima e fazer com que elas tenham medo. Sobre as informações, Blanc ironiza: "É ofensivo, inapropriado, emocionalmente assustador, mas efetivo", diz, em seu site.

Repúdio

Também em nota, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) afirmou ser "radicalmente contra qualquer tipo de violência contra as mulheres e pela defesa dos direitos delas".

No texto, a pasta afirma que os "conteúdos das atividades (de Julien Blanc) são considerados sexistas e racistas". Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, estima-se que mais de 143 mil mulheres podem ter sido estupradas em 2013 no Brasil (o número oficial fica em torno de 50 mil, mas a subnotificação do crime aponta para um total muito superior). De acordo com a secretaria, os cerca de 50 mil casos registrados indicam "que se teria um estupro a cada 10 minutos no país".

"A SPM-PR é contra, portanto, quaisquer cursos, investimentos e outras atividades que promovam essas atitudes. As quais, inclusive, levaram esse senhor a ser expulso da Austrália. A SPM-PR informa ainda que solicitou providências cabíveis ao Exmo Sr. José Eduardo Cardoso, Ministro de Estado da Justiça", finaliza.