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Você sabia que viver um dia comum pode ser tão arriscado quanto um esporte radical?

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Imagem: Thinkstock

Da BBC Mundo

18/05/2015 16h44

Uma notícia abalou o mundo dos esportes radicais: Dean Potter, um dos atletas destas modalidades mais destemidos e conhecidos do mundo, morreu durante um voo de wingsuit, uma espécie de macacão com asas, na Califórnia no domingo (17).

Além do experiente e renomado Potter, de 43 anos, outro famoso atleta, Graham Hunt, de 29 anos, também morreu. Os dois tentavam passar em alta velocidade por uma abertura estreita saltando do penhasco Taft Point, à beira de um cânion no Parque Nacional de Yosemite, a uma altura de 2.300 metros.

Potter e Hunt estavam praticando salto de base jump, mas, segundo a imprensa americana e agências de notícias, nenhum dos dois paraquedas foi utilizado na queda. O caso está sendo investigado.

A palavra base, da modalidade base jump, é uma abreviação das palavras em inglês building, antenna, span e earth, que se referem aos diferentes pontos fixos dos quais a pessoa pode se lançar, respectivamente edifício, antena, o vão de uma ponte e um rochedo.

Esta modalidade apresenta um alto grau de risco, muito maior do que um salto normal de paraquedas a partir de uma aeronave.

E a morte dos dois gera a discussão de quais são os riscos reais nas práticas destes esportes.

Definição e riscos

Não há uma definição específica, mas, em geral, os esportes extremos são atividades que, por sua natureza, oferecem um grau elevado de perigo e risco. Tendem a ser praticados mais individualmente do que por equipes.

Entre os mais conhecidos estão o paraquedismo, base jump, asa-delta, kitesurf, motocross, escalada ou caiaque por corredeiras, mas existem muitos outros.

Em um de seus trabalhos, o especialista em estatística britânico David Spielgelhalter tentou estabelecer qual o risco destes esportes que movimentam milhões de dólares no mundo todo.

Spiegelhalter estudou disciplinas diferentes para estabelecer o nível de risco levando em conta uma medida chamada de micromort.

Esta unidade, introduzida por pesquisadores da Universidade de Stanford nos anos 1970, define o risco de morte a que cada pessoa está exposta dependendo da atividade que realiza. A unidade se refere à probabilidade de morte de um em um milhão.

Tomando como referência uma estatística da Associação de Paraquedismo dos Estados Unidos, o estudioso britânico conseguiu comprovar que os 2,6 milhões de saltos anuais realizados entre os anos 2000 e 2010 causaram 279 mortes, 25 por ano, o que equivale a um risco de dez micromorts por salto.

O base jump é muito mais perigoso do que isso.

Um dos lugares mais populares para a prática deste esporte é a montanha de Kjerag, na Noruega --considerada bastante segura. Lá ocorreram 20.850 saltos em 11 anos com nove mortes e 82 acidentes, o equivalente ao índice de 430 micromorts por salto.

Estes números ainda são muito menores quando comparados ao risco a que uma pessoa se expõe ao escalar montanhas com mais de 8.000 metros, no Himalaia, por exemplo.

Dos 20 mil montanhistas que escalaram aquelas montanhas entre 1990 e 2006 houve um número estimado de 238 mortos, o equivalente a uma média de 12 mil micromorts por escalada.

Outro estudo, mais antigo, sobre expedições de montanhistas britânicos, mostrou que, de 533 pessoas, 23 morreram, o que é igual a 43 mil micromorts por escalada, o que supera a média de uma missão de bombardeio na Segunda Guerra Mundial.

Risco cotidiano

No entanto, outras atividades também registram riscos. Mergulho, por exemplo, registra uma média de oito micromorts por cada submersão; correr uma maratona, sete micromorts a cada 42.192 metros percorridos.

A maioria dos esportes extremos oferecem um risco que pode ser aceito como normal, de cerca de dez micromorts por atividade.

Segundo Spiegelhalter, uma micromort é, aproximadamente, o risco que assumimos a cada dia simplesmente por estarmos vivos, um número que pode variar dependendo da idade da pessoa.

As dez micromorts que são a média geral de risco dos esportes extremos, por exemplo, equivalem ao risco de morte de um homem de 30 anos durante quatro dias de sua vida, que se reduz a um dia se esta pessoa tem 50 anos.

O certo é que são muitas as variáveis para determinar os riscos e também há muitas opções para as pessoas decidirem como querem aproveitar sua "dose" diária de micromorts, como dirigir um automóvel durante 400 quilômetros, andar de bicicleta por 32 quilômetros, esquiar ou simplesmente subir uma escada para enfeitar a casa.

Mas, como nenhuma destas atividades são tão atrativas ou diferentes, elas não causam um aumento na adrenalina, não estão na moda. Com isso, não é tão difícil entender porque as pessoas preferem aumentar o risco ou número de micromorts na vida diária.

Lesões

Um estudo liderado pela médica Vani J. Sabesan, professora de Cirurgia Ortopédica da Escola de Medicina da Universidade Western Michigan, aponta que, em um período de 11 anos, mais de 4 milhões de lesões foram atribuídas à prática de esportes radicais.

"Os jovens tendem a mostrar pouco juízo. Eles veem Shaun White [estrela do snowboard] elevar o esporte a um nível completamente diferente e muitos garotos querem imitar seus truques", disse Sabesan.

A recomendação de Sabesan para reduzir o número de lesões causadas por estes esportes é a prevenção e aplicação de todas as medidas de segurança possíveis para a prática destas modalidades.