Conteúdo publicado há 23 dias

Alunos de direito da PUC-SP acusados de racismo deixam escritórios famosos

Ao menos dois alunos do curso de direito da PUC-SP não integram mais o quadro de funcionários de grandes escritórios de advocacia, na capital paulista, depois ser serem acusados de racismo contra estudantes da USP. Vídeos nas redes sociais mostram integrantes de torcida da PUC-SP xingando alunos do time adversário de "pobres" e "cotistas" nos Jogos Jurídicos.

O que aconteceu

Identidade de três alunos supostamente envolvidos no caso de racismo circulam nas redes sociais. Os escritórios Pinheiro Neto Advogados e Castro Barros tinham dois dos estudantes no quadro de funcionários como estagiários e confirmaram ao UOL que os jovens não integram mais as equipes (veja abaixo os posicionamentos na íntegra).

Ao que tudo indica, estudantes foram demitidos. Os escritórios, porém, não confirmaram a informação à reportagem até o momento desta publicação. O espaço segue aberto a manifestações.

Outra estudante estagiava no Machado Meyer, escritório que se posicionou, mas sem confirmar demissão. "O Machado Meyer recebeu ao longo do final de semana notícias a respeito dos eventos ocorridos nos jogos jurídicos estaduais de São Paulo. Neste contexto, informa que fará as apurações necessárias e avaliará as medidas a serem tomadas", divulgou em nota.

Defesa dos alunos acusados ainda não foi localizada. O espaço segue aberto a manifestações das partes denunciadas.

Veja como cada escritório se posicionou sobre estudantes

O escritório Pinheiro Neto Advogados lamenta o episódio ocorrido durante os Jogos Jurídicos Estaduais, no último sábado (16). O escritório reitera que não tolera e repudia racismo ou qualquer outro tipo de preconceito. Informamos que a estagiária envolvida nesse episódio não integra mais o escritório. Escritório Pinheiro Neto, em nota

O Castro Barros Advogados não admite qualquer ato discriminatório praticado por qualquer um de seus integrantes, dentro ou fora do Escritório. Qualquer pessoa que ignore ou despreze esse fato não tem condições de fazer parte do Castro Barros Advogados. Escritório Castro Barros, em nota

O Machado Meyer recebeu ao longo do final de semana notícias a respeito dos eventos ocorridos nos jogos jurídicos estaduais de São Paulo. Neste contexto, informa que fará as apurações necessárias e avaliará as medidas a serem tomadas. O escritório reforça que repudia, veementemente, qualquer ato de preconceito ou discriminação. O Machado Meyer tem a diversidade como um de seus pilares essenciais e reitera o seu empenho em garantir um ambiente profissional pautado pela ética e pelo respeito às diferenças. Escritório Machado Meyer, em nota

Continua após a publicidade

Entenda o caso

Torcida da PUC-SP xingou alunos da USP de "pobres" e "cotistas". Estudantes eram da Torcida da Atlética 22 de Agosto, e as ofensas ocorreram durante partida de handebol masculino contra estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, nos Jogos Jurídicos Estaduais de São Paulo, segundo divulgado por coletivos da própria Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no sábado (veja mais abaixo).

Parlamentares do PSOL acionaram MP-SP para pedir instauração de inquérito policial e denúncia criminal dos autores das ofensas. "As referidas ofensas transcendem o ambiente de rivalidade esportiva e configuram um comportamento discriminatório que associa a condição socioeconômica e racial de estudantes cotistas a uma suposta inferioridade. (...) Os atos descritos enquadram-se no conceito de racismo, crime previsto no artigo 20 da Lei n.º 7.716/89", diz um trecho da ação protocolada no Ministério Público de São Paulo pela deputada federal Sâmia Bomfim, a vereadora paulistana Luana Alves, e a co-deputada estadual Letícia Chagas, todas do PSOL.

MP-SP informou que caso está "sob análise da Promotoria Criminal de Americana". As vítimas das ofensas prestaram depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, em São Paulo, nesta segunda, de acordo com o advogado Leonardo Mariz, que protocolou a ação no Ministério Público.

Coletivos consideram ofensas "explicitamente racistas e aporofobicas". Em comunicado, os coletivos Saravá e Da Ponte para Cá, formados por estudantes negros e bolsistas da PUC-SP, se posicionaram "com extrema indignação e repúdio aos ataques racistas ocorridos" contra estudantes negros da USP na competição universitária.

É importante frisar que ataques de ódio como este acontecem há muito tempo. Antes de ocorrerem durante os Jogos Jurídicos, esses ataques se iniciam nos corredores e salas da PUC-SP. Observamos uma intensificação dessas violências racistas e aporofobicas [tanto] por parte do corpo docente quanto discente da universidade (...) Este cenário é reflexo da estrutura racista e elitista da PUC-SP, que se intensificou expressivamente nos últimos anos. Diversas denúncias feitas internamente por meio da ouvidoria, sobre casos de racismo e aporofobia sequer recebem uma resposta. Coletivos Saravá e Da Ponte para Cá, em nota divulgada no Instagram no sábado (16)

Continua após a publicidade

Ato de ridicularizar os atletas universitários, usando referências a cotas e pobreza como motivo de escárnio, reforça hierarquias raciais preexistentes. Esse é o argumento usado na representação enviada ao MP-SP por parlamentares do PSOL. "Por meio do humor, busca-se afirmar que, mesmo competindo em igualdade de condições, os atletas ainda pertencem a um grupo social e racial considerado inferior e, portanto, passível de ser tratado como objeto de desprezo e piada."

O que dizem universidades e coletivos envolvidos

Autores das ofensas estão sendo identificados, segundo Atlética. Em nota, a Associação Atlética Acadêmica 22 de Agosto escreveu que repudia "veementemente os atos discriminatórios, seja este de cunho racista, homofóbico, classista ou qualquer outro cometido por todo e qualquer participante de nossos times, jogos e outros eventos". "Tomamos as medidas que estavam a nosso alcance no presente momento, contribuindo para a identificação dos alunos, proibindo o acesso deles a todos os nossos eventos — sejam eles jogos ou festas. Ademais, nos comprometemos a contatar a Fundação São Paulo [Fundasp — mantenedora da PUC-SP] para comunicar o ocorrido e solicitar que sejam tomadas as providências cabíveis."

Reitoria da PUC-SP se solidarizou com as vítimas. Em nota, a PUC-SP disse que "repudia com veemência toda e qualquer forma de violência, racismo e aporofobia, e lamenta profundamente o episódio." A faculdade afirmou ainda que manifestações discriminatórias são vedadas pelo regimento da universidade, "além de serem inadmissíveis e incompatíveis com os princípios e valores de nossa instituição". "Nos solidarizamos com os estudantes ofendidos e com todos que presenciaram esse episódio intolerável. Na PUC-SP, combatemos o racismo a partir de uma perspectiva antirracista ativa", informou a reitoria.

Nota de repúdio conjunta foi publicada pelas diretorias das faculdades de Direito da USP e da PUC-SP. As entidades dizem que "comprometem-se a apurar rigorosamente o caso, garantindo a ampla defesa e o devido processo legal, e a responsabilizar os envolvidos de maneira justa e exemplar".

Além da responsabilização dos envolvidos, é indispensável avançarmos na direção de políticas preventivas e de acolhimento. Planejamos implementar protocolos que fortaleçam ouvidorias, promovam a prevenção e a educação antirracista e assegurem um ambiente inclusivo e respeitoso para todos os alunos e alunas. Essa é uma demanda frequente da comunidade acadêmica, que exige ações concretas e eficazes. Trecho de nota

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.