Entenda as diferenças e divergências entre sunitas e xiitas
A execução de um importante clérigo xiita pela Arábia Saudita, reino de maioria sunita, expôs as delicadas relações entre sunitas e xiitas na região.
A Arábia Saudita, de maioria sunita, é rival tradicional do Irã, a grande potência xiita no Oriente Médio, que monitora - com grande interesse - a questão de minorias xiitas em outros países.
O clérigo Nimr Al-Nimr era conhecido por manifestar o sentimento da minoria xiita na Arábia Saudita, que se sente marginalizada e discriminada, e por suas críticas à família real saudita.
O clérigo e outras 46 pessoas foram executados no sábado, após serem condenadas por crimes de terrorismo na Arábia Saudita.
Após as execuções, manifestantes iranianos invadiram a embaixada saudita em Teerã. Na noite de domingo, o governo saudita anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o Irã e deu um prazo de 48 horas para que diplomatas iranianos deixassem o país.
Mas o que opõe as duas maiores correntes do islã? Veja abaixo algumas respostas para entender o que opõe sunitas a xiitas.
Quais são as diferenças entre sunitas e xiitas?
A separação teve origem em uma disputa logo após a morte do profeta Maomé sobre quem deveria liderar a comunidade muçulmana.
A grande maioria dos muçulmanos é sunita - estima-se que entre 85% e 90%.
Membros das duas vertentes coexistem há séculos e compartilham muitas práticas e crenças fundamentais.
Apesar de se misturarem pouco, há exceções. Nas áreas urbanas do Iraque, por exemplo, casamentos entre sunitas e xiitas eram comuns até recentemente.
As diferenças entre os dois grupos estão mais nos campos da doutrina, rituais, lei, teologia e organização religiosa.
Seus líderes também parecem constantemente estar competindo entre si.
Do Líbano e Síria ao Iraque e Paquistão, vários conflitos recentes enfatizaram divisões sectárias, dividindo comunidades.
Quem são os sunitas?
Muçulmanos sunitas se consideram o ramo ortodoxo e tradicionalista do islã.
A palavra sunita vem de "Ahl al-Sunna", as pessoas da tradição. A tradição, neste caso, refere-se a práticas baseadas em precedentes ou relatos das ações do profeta Maomé e daqueles próximos a ele.
Os sunitas veneram todos os profetas mencionados no Corão, mas veem Maomé como o profeta derradeiro.
Em contraste com os xiitas, os líderes e professores de religião sunitas historicamente ficaram sob controle do Estado.
A tradição sunita também enfatiza um sistema codificado da lei islâmica e adesão a quatro escolas da lei.
Quem são os xiitas?
Nos primórdios da história islâmica os xiitas eram uma facção política, - literalmente os "Shiat Ali", ou partido de Ali.
Os xiitas reivindicavam o direito de Ali, genro do profeta Maomé, e de seus descendentes de guiar a comunidade islâmica.
Ali foi morto como resultado de intrigas, violência e guerra civil que marcaram seu califado. Seus filhos, Hassan e Hussein, viram negado o que achavam ser seu direito legítimo à ascensão ao califado. Acredita-se que Hassan tenha sido envenenado por Muawiyah, o primeiro califa (líder muçulmano) da dinastia Umayyad.
Seu irmão, Hussein, foi morto no campo de batalha com outros membros de sua família, após ser convidado por partidários a ir para a cidade de Cufa (onde ficava o califado de Ali) onde prometeram jurar aliança a ele.
Esses eventos deram início ao conceito xiita de martírio e de rituais como a autoflagelação.
Há um elemento messiânico característico nesta fé e os xiitas têm uma hierarquia de clérigos que praticam interpretações independentes e constantemente atualizadas dos textos islâmicos.
Os xiitas seriam cerca de um décimo do total de muçulmanos, entre 120 e 170 milhões.
Muçulmanos xiitas são maioria no Irã, Iraque, Barein, Azerbaijão e, segundo algumas estimativas, Iêmen. Há grandes comunidades xiitas no Afeganistão, Índia, Kuwait, Líbano, Paquistão, Catar, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Qual o papel do sectarismo em crises recentes?
Em países que foram governados por sunitas, xiitas tendem a representar os setores mais pobres da sociedade. Eles normalmente se veem como vítimas de discriminação e opressão. Algumas doutrinas extremistas sunitas defendem o ódio aos xiitas.
A revolução iraniana de 1979 lançou uma agenda xiita radical que foi percebida como um desafio por regimes conservadores sunitas, particularmente no Golfo Pérsico.
A política de Teerã de apoiar milícias xiitas e partidos além de suas fronteiras foi adotada por Estados do Golfo, que reforçaram suas ligações com governos sunitas e movimentos no exterior.
Durante a guerra civil no Líbano, os xiitas ganharam força política graças às atividades militares do Hezbollah.
No Paquistão e no Afeganistão, grupos sunitas linha-dura, como o Taleban, atacaram com frequência lugares de fé xiita.
Os conflitos atuais no Iraque e na Síria também têm fortes tons sectários. Jovens sunitas nos dois países se uniram a grupos rebeldes, muitos dos quais ecoam a ideologia da Al-Qaeda.
Enquanto isso, jovens da comunidade xiita estão lutando pelas - ou com - as forças do governo nestes países.
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