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O que o mais sangrento dia no Iraque em 1 ano diz sobre a nova estratégia do Estado Islâmico

04/07/2016 07h06

Foram três ataques atribuídos ao grupo autodenominado Estado Islâmico em uma semana: primeiro na Turquia, depois em Bangladesh e o último no Iraque.

O atentado na capital iraquiana, Bagdá, no domingo matou pelo menos 165 pessoas e deixou 225 feridos.

Um caminhão carregado de explosivos foi detonado no distrito de Karrada, enquanto muitas famílias faziam compras para celebrar o fim do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos.

Socorristas disseram que famílias inteiras morreram e muitas vítimas sofreram queimaduras que tornam impossível o reconhecimento.

Em um comunicado na internet, o EI disse que o atentado foi feito por um iraniano como parte das operações de segurança "em curso".

O governo do Iraque decretou três dias de luto pelo ataque, o mais sangrento de Bagdá em um ano.

Motivos

Segundo o correspondente da BBC no Oriente Médio, Jeremy Bowen, um dos motivos principais do ataque foi a perda do controle da cidade de Fallujah pelo Estado Islâmico.

A cidade, recuperada no mês passado pelo Exército iraquiano, era estratégica para o EI porque fica a apenas uma hora de Bagdá.

Desde que fora ocupada, no final de 2013, Fallujah serviu como um bastião para os jihadistas.

"Toda essa destruição e morte é uma mensagem clara do EI", disse Bowen.

"Eles podem ser derrotados no campo de batalha, mas respondem atacando onde mais dói: matando civis no coração desta e de outras capitais", acrescentou.

E esses ataques podem se repetir.

"O medo é que, à medida que o EI sofrer mais pressão militar, perdendo terreno, mais ataques como o de Bagdá ocorram", diz o correspondente.

Sucessão de violência

O ataque na capital iraquiana ocorreu em uma semana em que outras duas cidades foram alvos de atentados.

O primeiro ocorreu na terça-feira passada no aeroporto de Istambul, Turquia, quando homens primeiro dispararam contra civis e depois se explodiram, causando a morte de pelo menos 46 pessoas.

O segundo foi na sexta-feira em Dacca, Bangladesh, quando militantes extremistas entraram em um café e mataram pelo menos 20 pessoas.

Essa sucessão de atentados fora das fronteiras do califado do EI ocorre em um intervalo muito curto de tempo e surpreende.

Outro dado que chama atenção é que estes ataques, começando pelo de Paris e o de Bruxelas, foram feitos por grupos de militantes, e não por indivíduos solitários.

Adam B. Schiff, democrata integrante do Comitê Permanente de Inteligência do Senado americano, disse à rede de TV CBS no domingo que o Estado Islâmico "está perdendo muito território, mas ao mesmo tempo expandindo sua presença global".

A CIA já havia alertado para isso.

"Acreditamos que o EI vai intensificar sua campanha de terror global para manter seu domínio na agenda mundial sobre terrorismo", disse o diretor da CIA, John Brennan, em declarações ao Senado americano no mês passado, segundo jornal The Washington Post.

Segundo o correspondente da BBC em Bagdá, "a guerra sectária começou em meio ao caos e violência que se instalou com a ocupação do Reino Unido e dos EUA no Iraque em 2003. Ela continua, mas é mais uma disputa de poder que religiosa."