Como apoio de 'socialista' pode ajudar Hillary a vencer eleição nos EUA
Após meses de intenso embate, o senador e pré-candidato à presidência americana Bernie Sanders anunciou nesta terça-feira que apoiará a candidatura da rival Hillary Clinton na eleição de novembro.
O anúncio ocorre a duas semanas da convenção do Partido Democrata, que deve oficializar a vitória de Hillary nas primárias e torná-la a candidata oficial da agremiação na disputa contra o empresário Donald Trump, do Partido Republicano.
Sanders, que se define como "socialista democrático", já não tinha chances de ultrapassar Hillary, mas fez questão se manter em campanha até a véspera da convenção.
Ele aproveitou a projeção conquistada nas primárias para continuar divulgando suas bandeiras, como tornar as universidades públicas gratuitas, aumentar os impostos sobre os mais ricos e ampliar o controle sobre o setor financeiro.
Com o apoio de Sanders, Hillary espera herdar os votos conquistados pelo senador nas primárias - especialmente em Estados onde ele se saiu bem e as pesquisas apontam uma disputa apertada entre Hillary e Trump, caso de Colorado, Indiana e Minnesota, entre outros.
Na semana passada, a candidata acenou ao senador ao incorporar parcialmente a proposta dele sobre as universidades públicas, defendendo torná-las gratuitas para famílias com renda anual de até US$ 125 mil (R$ 409 mil).
Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, 85% dos eleitores que votaram em Sanders nas primárias pretendem apoiar Hillary na eleição nacional.
Mas para a candidata também seria desejável herdar o entusiasmo dos eleitores do senador.
Enquanto Hillary até agora atravessou a campanha respondendo perguntas indesejadas sobre o uso de um servidor privado para trocar emails quando era secretária de Estado ou sendo questionada sobre os financiadores da fundação que gere com o marido, Bill Clinton, Sanders obteve uma projeção que muitos consideravam inimaginável e passou a ser tratado quase como herói por parte dos apoiadores.
A campanha do senador foi extremamente popular entre universitários e americanos brancos descontentes com a política em Washington, dois públicos com os quais Hillary tem dificuldades.
Sanders também teve bons resultados em antigas regiões industriais, onde muitos perderam o emprego nas últimas décadas e um discurso antiglobalização vem ganhando força.
Nessas áreas, o discurso de Trump contra acordos comerciais também tem ressoado bem, o que, segundo analistas, poderia levar alguns eleitores de Sanders a migrar para o empresário.
Com o apoio do senador, Hillary quer impedir essa migração e conquistar também os eleitores independentes que pendiam para Sanders.
Ainda não está claro, porém, até que ponto ela está disposta a incorporar bandeiras mais à esquerda e qual espaço Sanders terá em sua campanha. A possibilidade de que o senador seja convidado a ser vice na chapa parece remota hoje.
O simples anúncio do endosso, porém, já deixa a candidata numa posição mais confortável que a de Trump, que tem sofrido para conquistar apoios entre líderes republicanos.
Importantes membros do partido - como os da família Bush, o ex-governador Mitt Romney e os senadores John McCain e Marco Rubio - já disseram que não participarão da convenção republicana na semana que vem, evidenciando o racha na agremiação.
Até agora, o empresário parece combater em duas frentes: numa, ataca os competidores democratas; na outra, lida com o "fogo amigo" e a desconfiança do próprio partido.
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