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O que significa a vitória contra o Estado Islâmico em Mossul, cidade onde grupo criou seu califado

Mossul foi retomada do controle do Estado Islâmico - Felipe Dana/AP
Mossul foi retomada do controle do Estado Islâmico Imagem: Felipe Dana/AP

09/07/2017 16h45

O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, declarou neste domingo a "libertação" da cidade iraquiana de Mossul, depois uma sangrenta batalha contra o grupo extremista autodenominado Estado islâmico que durou nove meses.

Abadi foi à cidade para anunciar a conquista e "felicitar os heroicos combatentes e o povo iraquiano por ter conseguido esta grande vitória", segundo um comunicado do governo.

Há três anos, o Estado Islâmico assumiu o controle da cidade de Mossul, onde o grupo proclamou seu "califado", um estado governado de acordo com a Sharia (lei islâmica), pelo substituto de Deus na Terra, o califa.

Em outubro 2016, e com o apoio aéreo dos EUA e de seus aliados, tropas iraquianas começaram uma campanha militar para libertar a cidade.

Combatentes curdos, árabes-sunitas e militantes xiitas também se juntaram à luta.

A guerra para reconquistar Mossul foi muito mais difícil do que o esperado.

Em janeiro, o governo anunciou a "libertação" da parte leste da cidade, mas o lado oeste apresentou desafios muito maiores por causa das ruas estreitas e sinuosas e da grande população.

De acordo com organizações humanitárias, cerca de 900.000 pessoas foram deslocadas da cidade desde 2014, quase a metade da população que existia antes da guerra.

Por que Mossul é importante?

Antes da guerra, Mossul, com seus quase dois milhões de habitantes, era uma das cidades mais diversas do Iraque, com uma população de árabes, curdos, assírios, turcomanos e muitas outras minorias religiosas.

Foi a capital rica em petróleo da província de Nínive, no norte do Iraque.

Mas em junho de 2014, a cidade foi invadida pelo Estado Islâmico, e foi de lá que o grupo extremista enviou uma mensagem que chocou o mundo.

Segundo a correspondente da BBC Caroline Hawley, "antes de tomar o controle de Mossul, o Estado Islâmico era apenas um grupo local. Ao tomar a cidade, o grupo extremista explodiu no cenário global".

"Quando tomaram Mossul com um ataque impressionante que o exército iraquiano não pôde repelir, de repente todo mundo começou a ouvir sobre o EI, e este se tornou uma grave ameaça que tinha de ser levada a sério."

Seis meses antes de tomar Mossul, o grupo, que então era chamado de "Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla em inglês)", havia capturado a cidade oriental de Fallujah e em seguida obteve importantes vitórias na guerra civil na Síria.

Mas quando entraram Mossul, entre 10.000 e 30.000 soldados e forças de segurança iraquianas abandonaram suas armas e fugiram frente a cerca de 800 extremistas, segundo estimativas atuais.

Desde então, o grupo destruiu a autoridade do Estado na região, estabeleceu um regime brutal que levou a um êxodo em massa dos habitantes e impôs sua autoridade perseguindo minorias e matando oponentes.

Sobrevivência

Como observado por correspondentes, a libertação de Mossul é uma pancada no EI.

A perda priva os islamitas de muitas das suas principais rotas de abastecimento que saem do Iraque em direção à Síria, onde o grupo também mantém uma forte presença.

Atualmente, a coalizão liderada pelos Estados Unidos está travando uma batalha dura contra o Estado Islâmico em terras sírias, para recuperar o controle de Raqqa, onde a organização estabeleceu sua capital.

Mas, apesar da perda dos territórios, que são bases urbanas extremamente importantes, é pouco provável que o grupo diminuía sua influência.

Em entrevista à BBC, o professor Paul Rogers, do Departamento de Estudos da Paz da Universidade de Bradford, na Inglaterra, e autor de livro sobre o tema, disse que o grupo já demonstrou sua capacidade de recrutar seguidores e organizar ataques em todo o mundo.

"Há cada vez mais evidências de que a EI está se tornando um insurgente de longo prazo no Iraque e na Síria, e também está se desenvolvendo como um movimento global."

"Então", acrescenta o especialista, "não devemos nos apressar para declarar a derrota do grupo jihadista".