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Cinco 'efeitos colaterais' da Reforma Protestante de Martinho Lutero

Fernando Duarte - BBC

31/10/2017 17h05

O 31 de outubro não é apenas o dia em que se celebra o "Halloween" em muitos lugares do mundo. A data marca também o aniversário de 500 anos das "95 teses" escritas pelo teólogo Martinho Lutero (1483-1546), que deram origem à Reforma Protestante.

Os documentos de Lutero dirigiam uma série de críticas à Igreja Católica e provocaram um racha no cristianismo - os ataques do teólogo desencadearam mudanças profundas capazes de surpreender até mesmo os mais familiarizados com esse episódio.

A BBC lista alguns dos "efeitos colaterais" provocados pelo movimento que pulverizou o cristianismo até então monopolizado pelos católicos, mas que vão muito além de ter dado origem às congregações evangélicas.

Portas abertas para mulheres e gays

Martinho Lutero condenou o celibato dos padres ao se casar com a ex-freira Katharina von Bora em 1525. A união dos dois estabeleceu as bases de uma reforma dentro da Reforma Protestante.

Denominações como os metodistas, por exemplo, passaram a aceitar pastoras há mais de 200 anos. Mais recentemente, apesar de um enorme protesto das alas mais conservadoras, a Igreja Episcopal nos EUA começou a ordenar sacerdotes LGBT.

Inspiração para o Movimento dos direitos civis nos EUA

Em 1934, o pastor americano Martin King visitou a Alemanha para participar do 5º Congresso da Aliança Batista Mundial em Berlim.

Quando ele voltou para casa, decidiu adicionar o nome Luther (de Lutero) no próprio nome e também ao nome do filho dele, em homenagem ao cristão rebelde do século 16.

O filho era Martin Luther King Jr., que se transformou numa das personalidades mais influentes do século 20 e foi condecorado com o prêmio Nobel da Paz.

Ligações nazistas

Apesar de o antissemitismo existir na Alemanha muito antes da ascensão dos nazistas ao poder, poucas pessoas sabem que Martinho Lutero é apontado como um dos responsáveis pelo sentimento hostil e preconceituoso contra judeus.

Até 1536, Lutero era um entusiasta em tentar converter judeus em cristãos como parte da Reforma. Mas diante da dificuldade de fazer com que eles trocassem de religião, publicou em 1543 uma resposta ao fracasso pessoal dele intitulada "Sobre os judeus e suas mentiras".

Trata-se de um documento de 65 mil palavras no qual Lutero não apenas desqualifica judeus, como também incita a perseguição deles, incluindo queimar sinagogas e impor a rabinos o trabalho forçado.

'Eu serei Bach'

Como parte de seu conjunto de reformas, Lutero defendeu mudanças nas missas e celebrações para dar mais espaço às músicas cantadas na Igreja, definindo os corais como parte integrante da experiência espiritual.

A decisão levou a uma evolução dos corais na Alemanha. As famosas cantatas Johan Sebastian Bach (1685-1750) foram extraídas da filosofia de Lutero, ainda que mais de 100 anos depois.

'Separatismo medieval'

Por ter desafiado a Igreja Católica, Martinho Lutero foi excomungado pelo Papa Leão 10. Mas a decisão de expulsá-lo da Igreja Católica não foi suficiente para impedir que as ideias de Lutero ganhassem adeptos.

O apoio veio tanto dos mais ressentidos com os privilégios do clero quanto dos poderosos príncipes alemães. A monarquia alemã estava ansiosa para desafiar a hegemonia de Carlos 5º, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, um complexo multiétnico de territórios na Europa Central.

O Sacro Império Romano-Germânico acabou polarizado entre nacionalistas e religiosos, o que gerou conflitos armados como a Guerra dos Trinta Anos (1618-48). Essas disputas promoveram a fragmentação gradual do império, que acabou com a dissolução formal em 1806.