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Como funciona o "Big Brother" da China, com 170 milhões de câmeras que fazem identificação visual

15/12/2017 17h43

A China tem em uso o maior e mais moderno sistema de vigilância do mundo, que usa o reconhecimento facial para identificar os cidadãos – e, desta maneira, prender criminosos e suspeitos.

No país, existem 170 milhões de câmeras CCTV (de circuito fechado de TV) e outras 400 milhões serão instaladas.

Os equipamentos conseguem reconhecer o rosto das pessoas e fazer imediatamente a associação com suas informações registradas. Essa leitura permite também identificar o gênero e a idade das pessoas.

O sistema também associa a cara do cidadão a informações como o carro que utiliza, a seus parentes e às pessoas com quem ele tem entrado em contato.

Segundo um representante da fabricante de câmeras Dahua Technology, com câmeras suficientes é possível identificar com quem as pessoas se encontram frequentemente.

O correspondente da BBC na China, John Sudworth, testou o sistema “big brother” na cidade de Guiyang.

Ele foi identificado como sendo um suspeito na base de dados da polícia e um alerta foi disparado com seus dados.

Sudworth então decidiu dar uma pequena volta na cidade. Em apenas sete minutos, ele já estava sendo abordado pela polícia.

A ideia é que o sistema de vigilância não apenas impeça crimes que estejam acontecendo, como também os previna.

Segundo a polícia de Guiyang, as informações de cidadãos comuns só serão coletadas quando eles precisarem de ajuda. As informações, afirma à BBC a policial Xu Yan, ficarão retidas na base de dados da polícia. “Os cidadãos não precisam se preocupar”, fala.

Segurança ou vigilância ideológica?

Mas nem todos os chineses estão convencidos disso.

O poeta Ji Feng, crítico do governo de Xi Jinping, vive numa área de Pequim cheia de artistas. Ele acredita que as autoridades veem a comunidade como uma ameaça.

“Você consegue sentir os olhos sobre você todos os dias”, diz à BBC. “Olhos invisíveis te seguindo. Então, não importa o que você faça, você sempre hesita.”

Segundo ele, as câmeras facilitarão o trabalho da polícia de manter a segurança. “Mas se a mentalidade da polícia não mudar, a vigilância sobre os dissidentes poderá se intensificar”.

A China tem pouca proteção de privacidade e seus tribunais não são independentes.

Os fabricantes das novas câmeras de vigilância sabem que os equipamentos levantam questões.

“A tecnologia é uma ferramenta para o ser humano, assim como uma arma. Se ela estiver em mãos erradas, pode fazer coisas ruins. Os governos também desenvolvem armas. Há razões pelas quais a tecnologia segue avançando com a inteligência artificial, porque ela pode fazer muitas coisas boas”.