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O multibilionário que criou empresa aos 17 e usava roupas de segunda mão e carro de 15 anos

28/01/2018 16h02

Aos cinco anos de idade, ele vendia fósforos para os vizinhos. Aos dez, percorria o bairro com sua bicicleta, vendendo decorações e cartões de Natal, sementes de flores e lápis. Descobriu que era possível comprar fósforos em grande quantidade por um preço mais barato e depois vendê-los um pouco mais caro.

Aos 17 anos, o sueco Ingvar Kamprad fundou o próprio negócio: a Ikea. Com o dinheiro que seu pai lhe deu como prêmio por se sair bem na escola, em 1943, ele estabeleceu a empresa cujo nome é abreviação de Ingvar (I) Kamprad (K) de Elmtaryd (E), Agunnaryd (A), sua fazenda e vila de origem.

A empresa que começou vendendo canetas, carteiras, relógios e porta-retratos se transformaria no gigante e bilionário fabricante de móveis, com lojas espalhadas por 49 países.

Ingvar Kamprad faleceu neste sábado, aos 91 anos, em sua casa na região de Småland, na Suécia, após um breve período doente, segundo comunicado da empresa. Ele foi o pioneiro na venda de móveis desmontados, que devem ser montados em casa pelo consumidor.

"Ele trabalhou até o fim da vida, sendo fiel à sua crença de que 'a maioria das coisas ainda está por fazer'. Ele foi um grande empreendedor e um típico sueco do Sul - trabalhador e teimoso, muito caloroso e brincalhão, com brilho nos olhos", disse o comunicado da Ikea.

Desde 1988, Kamprad fazia parte do conselho da empresa. Em 2013, deixou o cargo, dando lugar a seu filho mais novo.

A empresa continua sendo operada pela família Kamprad, mas sua estrutura de negócios complexa gera controvérsias na Europa. No ano passado, a Comissão Europeia afirmou que estava investigando a maneira como a Ikea paga impostos.

O Partido Verde europeu disse, na época, que a empresa tinha deixado de pagar cerca de 1 bilhão de euros em impostos entre 2009 e 2014.

Um porta-voz da Inter Ikea, uma das duas divisões da empresa, afirmou que ela havia sido cobrada "de acordo com as regras europeias".

Vida 'modesta', mas controversa

Apesar de ter criado um negócio bilionáiro, com um total de 412 lojas e R$ 142,5 bilhões em vendas em 2016, Kamprad era conhecido por manter uma vida "modesta".

Por muito tempo dirigiu um carro Volvo velho. Viajava de avião na classe econômica e usava roupas de segunda mão. Em uma entrevista para um canal de TV sueco em 2016, afirmou que era da natureza de Småland, região onde nasceu, ser "frugal".

"Olhe para mim agora. Não estou usando nada que não seja de brechós", afirmou.

Nos últimos anos de sua vida, Kamprad foi criticado pelo seu passado ligado a grupos fascistas. Em um livro publicado em 1988, ele admitiu ter sido membro do grupo fascista Novo Movimento Sueco entre 1942 e 1945, dizendo ter sido "estupidez juvenil" e "o maior erro" de sua vida.

Mas em 2011, um livro escrito pela jornalista sueca Elisabeth Asbrink diz que Kamprad também recrutou pessoas para um grupo nazista sueco e continuou próximo aos simpatizantes nazistas muito tempo depois da Segunda Guerra Mundial.

Um porta-voz de Kamprad disse que, apesar da proximidade com os grupos durante a juventude, "Ingvar não tem nenhum tipo de simpatia pelo Nazismo em seus pensamentos".

Praticidade

Em 1945, dois anos após a fundação da Ikea, os primeiros anúncios publicitários começaram a ser publicados em jornais locais. Com o crescimento acima do previsto, Kamrpad recorreu a uma van que entregava leite para distribuir seus produtos aos clientes.

Os móveis - hoje o produto mais famoso da empresa - foram incluídos na loja em 1948. Eram produzidos por trabalhadores que viviam nas florestas próximas à casa de Kamprad.

E a primeira vez que os consumidores puderam ver os produtos ao vivo e experimentá-los antes de comprá-los foi em 1953, em um showroom em Almhult, na Suécia. Antes, as vendas eram feitas pelo catálogo da Ikea.

A história que se conta sobre o tipo de móvel "monte você mesmo", que ficou notório por causa da Ikea é que, em 1955, Kamprad teve a ideia ao ver um funcionário retirar as pernas de uma mesa para fazê-la caber dentro do carro de um cliente.

Essa funcionalidade - característica que agradaria aos suecos - e a simplicidade dos móveis estabeleceram a estética e a marca da empresa. Em uma entrevista nos anos 1980, Kamprad afirmou que criou a Ikea para que ela facilitasse a vida dos consumidores.

Políticos suecos lamentaram a morte do empresário em seus perfis de Twitter na manhã deste domingo. A ministra das Relações Exteriores sueca, Margot Wallstrom, disse em seu perfil de Twitter que Kamprad, "pôs a Suécia no mapa".

"Ele era um grande empreendedor que ajudou a levar a Suécia ao mundo. Meus sentimentos à família."