Descobri aos 63 anos que sou filho de um campeão de Fórmula 1 e herdei milhões
Quando tinha 57 anos, o argentino Rubén Juan Vázquez trabalhava em um hotel no balneário de Pinamar, na Província de Buenos Aires, quando um hóspede lhe disse que ele era a cara do campeão argentino de Fórmula 1 Juan Manuel Fangio.
O hóspede lhe disse ainda que Fangio, morto em 1995, teria tido um filho e Rubén deveria verificar se não era ele. Aquela conversa ocorreu poucos anos após a morte do piloto, que até hoje é apontado como referência na modalidade.
Fangio venceu cinco vezes o mais importante campeonato mundial de automobilismo, recorde quebrado apenas pelo alemão Michael Schumacher décadas mais tarde. Um ícone do esporte, Fangio considerava o brasileiro Ayrton Senna seu sucessor nas pistas.
A vida de Rubén pouco lembrava o glamour do ídolo. Nos anos 1990, ele perdeu o emprego em uma ferrovia e foi trabalhar para a rede hoteleira da costa argentina.
De família simples, ele perguntou à sua mãe, Catalina Basili, se a suspeita do hóspede poderia ser verdadeira. Em um primeiro momento, Catalina negou. Mas, cinco anos mais tarde, quando tinha quase 90 anos e seu marido, que criara Rubén como filho, já morrera, Catalina chamou seu filho e revelou que ele era fruto de um amor proibido.
Catalina e Fangio tiveram um breve romance nos anos 1940, durante um curto período de tempo em que ela esteve separada do marido.
Com a história confirmada pela mãe, Rubén procurou um advogado. Catalina decidiu colaborar: registrou em cartório que Rubén era filho de Fangio e acompanhou boa parte da disputa judicial até morrer, aos 103 anos, em 2012. "Só lamento não ter convivido com ele. Mas, fora isso, só sinto orgulho e emoção", afirmou Rubén.
A batalha judicial
Desde criança, Rubén desconfiava ter algum laço com Fangio. Ele nasceu e foi criado em Balcarce, também cidade natal do astro automobilístico, na Província de Buenos Aires, e na adolescência chegou a lhe pedir emprego.
"Quando ele entrou aqui no meu escritório e disse que era filho de Fangio, não tive dúvida. Eles são muito parecidos", disse o advogado Miguel Ángel Pierri, que defendeu Rubén no processo. Rubén já tinha então 63 anos quando foi iniciada uma batalha judicial que terminou há poucos dias, 13 anos mais tarde.
A luta nos tribunais teve várias etapas. A primeira incluiu, após idas e vindas, a exumação do corpo do campeão das pistas para os exames de DNA, em 2015. Dois anos depois, com os resultados confirmados, Rubén foi autorizado a mudar seu nome no documento de identidade e passou a se chamar Rubén Juan Fangio. No caminho da investigação, até os tons de voz de Rubén e de seu pai biológico foram analisados por um especialista americano, como contou Pierre. "Também são parecidos", afirmou.
A última etapa, segundo Rubén e seu advogado, foi a declaração da Justiça de que Rubén era herdeiro de Fangio. A fortuna do ex-campeão mundial é avaliada em mais de US$ 50 milhões, de acordo com os advogados que já iniciaram levantamentos sobre as terras, imóveis e automóveis deixados pelo corredor. Também entrarão na conta os valores obtidos a partir do uso da marca Fangio em diferentes produtos no mercado internacional. A partir da decisão judicial, o filho recém-confirmado deverá ter seu aval para peças publicitárias com o nome do pai.
Rubén descreve o périplo judicial como "uma corrida e uma batalha longas". Ele, no entanto, não hesitou em embarcar nelas. "Depois que eu soube que era filho do Fangio, nunca mais tive dúvidas (sobre a paternidade)", afirmou.
"Eu fiquei muito emocionado com a decisão da Justiça. Fiquei emocionado por ter minha identidade reconhecida. E por ser filho do piloto que foi cinco vezes campeão mundial de Fórmula 1", disse ele à BBC News Brasil.
Aos 76 anos, casado, pai de três filhos e avô de sete netos, Rubén, agora aposentado, parece não gostar que lhe chamem de milionário. "Não gosto de falar destes assuntos. Mas o que posso dizer é que tudo o que está acontecendo é importante. Consegui minha identidade e estou feliz porque as coisas estão sendo feitas corretamente, como deveriam ser", respondeu.
Irmãos aos 70 anos
As fotos atuais de Rubén Fangio mostram como ele se parece com o corredor, conhecido na Argentina também pela vida discreta que levava fora das pistas. Oficialmente, o piloto não teve filhos. Mas exames de DNA confirmaram que outro argentino, Oscar 'Cacho' Fangio, quatro anos mais velho que Rubén, também é filho do piloto. 'Cacho' foi corredor de automóveis de Fórmula 3, conviveu com o ex-campeão e também era chamado de Fangio nas pistas. Mas só agora também está mudando seu nome nos documentos.
"Fangio e a mãe de Oscar moraram juntos e existem cartas, fotos e vídeos dos dois juntos, por exemplo, nas corridas que o piloto participou na Alemanha e em outros países da Europa", disse à BBC News Brasil o advogado de Oscar, Oscar Scarcella, que trabalha em Mar del Plata, onde seu cliente mora.
Hoje, os dois, Oscar e Rubén, se chamam de irmãos, mesmo tendo se conhecido depois dos 70 anos de idade. Nesta semana, contou Rubén pelo telefone, eles estão percorrendo a Espanha juntos e de lá seguem para a Inglaterra, a convite de pilotos britânicos, fãs de Fangio, para assistir ao torneio de Silverstone, neste domingo. "Estou viajando com meu irmão e estamos felizes. Estamos curtindo", disse Rubén.
O advogado de Rubén, Pierri, e o advogado de Oscar, Scarcella, afirmam que os dois são, oficialmente, os únicos herdeiros reconhecidos de Fangio.
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