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Eleições 2018: Por que metade dos governadores enfrenta dificuldades para se reeleger mesmo com a 'máquina na mão'

Fernanda Odilla - Da BBC News Brasil em Londres

21/09/2018 11h00

Vinte dos atuais 27 governadores do país disputam as eleições de olho em um segundo mandato. Mas, mesmo com a "máquina na mão", apenas metade deles está na frente em pesquisas de intenção de votos para se manter no poder.

Ainda que as disputas regionais guardem peculiaridades, muitos governadores candidatos à reeleição compartilham dificuldades comuns que podem mantê-los fora do segundo turno ou até mesmo fazê-los perder o cargo.

Na avaliação de analistas ouvidos pela BBC News Brasil, escândalos e denúncias de corrupção, déficit fiscal e orçamento enxuto, além do descrédito de boa parte dos eleitores com a classe política são empecilhos que têm prejudicado o desempenho de muitos governadores candidatos.

Associada a essas dificuldades há ainda uma fiscalização mais eficiente que tem contido certos tipos abuso de poder econômico e político típicos de quem está no comando da máquina estatal.

E, diferentemente das eleições presidenciais, nas quais todos os presidentes que tentaram a reeleição conseguiram um segundo mandato, a reeleição para o governo nunca foi 100% garantida.


Taxa de sucesso eleitoral

É fato, porém, que historicamente os governadores têm alcançado uma taxa de sucesso bem alta desde que a reeleição foi instituída em 1998, por meio de uma emenda constitucional aprovada no ano anterior no governo de Fernando Henrique Cardoso - ele próprio se beneficiou da mudança na legislação eleitoral e acabou sendo eleito para o segundo mandato.

Segundo a cientista política Magna Inácio, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e o cientista social Geraldo Tadeu Monteiro, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), uma média de 70% dos governadores que se candidatam se reelegem.

"Entretanto, esse resultado não pode ser atribuído apenas ao cargo ocupado, mas a um conjunto de fatores que definem a competitividade do governador na disputa pela reeleição. Mais candidatos à reeleição indicam uma oferta maior de governadores em primeiro mandato e, possivelmente, maior variação nas condições em que eles estão disputando", explica a Magna Inácio.

Este ano, 74% dos governadores tentam se reeleger - é o maior percentual desde 1998. Mas nem todos estão numa situação confortável na campanha. A competitividade dos 20 candidatos disputando a reeleição para governador varia consideravelmente.

Estado

Candidato à reeleição

Partido

Foi eleito vice e assumiu vaga do titular

Lidera pesquisas(até 21.Set)

MG

Fernando Pimentel

PT

não

DF

Rodrigo Rollemberg

PSD

não

MT

Pedro Taques

PSDB

não

AP

Waldez de Goes

PDT

não

RR

Suely Campos

PP

não

RN

Robinson Faria

PSD

não

SE

Belivaldo Chagas

PSD

x

não

GO

Ze Eliton

PSDB

x

não

SP

Marcio França

PSB

x

não

PR

Cida Borghetti

PP

x

não

AM

Amazonino Mendes (eleito em agosto de 2017)

PDT

sim

TO

Mauro Carlesse (eleito governador interino em junho de 2018)

PHS

sim

AL

Renan Filho

MDB

sim

BA

Rui Costa

PT

sim

CE

Camilo Santana

PT

sim

MA

Flavio Dino

PCdoB

sim

PE

Paulo Camara

PSB

sim

PI

Welington Dias

PT

sim

MS

Reinaldo Azambuja

PSDB

sim

RS

José Ivo Sartori

MDB

sim

Pouca chance de vitória no primeiro turno

São poucos, por exemplo, os que têm chance de vitória no primeiro turno, como os governadores Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará) e Wellington Dias (Piauí), todos do PT.

Já no Rio Grande do Norte, a petista Fátima Bezerra lidera as pesquisas e pode ir para o segundo turno com o candidato Carlos Eduardo (PDT), derrotando o atual governador Robinson Faria (PSD), que aparece em terceiro na preferência do eleitorado.

Contra a gestão do governador potiguar pesa, principalmente, problemas com segurança pública que se agravaram nos últimos anos no Estado, apesar da promessa de Faria, nas eleições de 2014, de combater a criminalidade.

"Não é de se estranhar a boa performance do PT no Nordeste, onde a presença de Lula é muito forte", observa Geraldo Tadeu Monteiro, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

Denúncias, cofres vazios e falta de aliados

Em Minas Gerais, no entanto, o atual governador Fernando Pimentel, também do PT, está 10 pontos percentuais atrás de Antônio Anastasia (PSDB). A administração petista tem atrasado o pagamento dos salários do funcionalismo, dos fornecedores, além de ter suspendido o repasse de verbas para muitos municípios.

Além dos problemas de gestão, Pimentel, que é alvo de processo por suspeita de corrupção que tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça), também perdeu credibilidade junto ao eleitorado e viu a coalizão esfacelar quando rompeu com o vice-governador do MDB, Toninho Andrade.

As dificuldades financeiras enfrentadas pelo Distrito Federal, bem como problemas com alianças partidárias, também estão prejudicando o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB).

Sem poder firmar uma aliança com o PDT, Rollemberg ficou isolado na campanha. Ele aparece em quarto nas pesquisas - ainda que empatado tecnicamente com os segundo e terceiro colocados. No DF, a ex-deputada distrital Eliana Pedrosa (Pros) lidera a disputa.

Já os candidatos do PSDB enfrentam dificuldades distintas.

O governador Ricardo Azambuja lidera as pesquisas no Mato Grosso do Sul, mas, no meio da campanha, viu a Polícia Federal cumprir mandados de busca no gabinete e na casa dele no meio da campanha.

A investigação, que teve início com a delação premiada dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, apura se empresas pagaram propina a integrantes do governo estadual - Azambuja nega as acusações.

Por sua vez, o governador do Mato Grosso, Pedro Taques, está dez pontos atrás de Mauro Mendes (DEM) e empatado tecnicamente em segundo lugar com Wellington Fagundes (PR). A campanha de Taques é assombrada pela delação de um empresário que diz ter participado de um esquema de repasses de caixa dois e desvio de dinheiro público que envolve o governador tucano - o tucano rechaça as acusações.

E, em Goiás, Zé Eliton ainda tenta se tornar conhecido do eleitorado e garantir presença no segundo turno. Ele assumiu o governo em abril, depois que Marconi Perillo se descompatibilizou do cargo para disputar o Senado.

No Estado, Ronaldo Caiado (DEM) lidera as pesquisas e Daniel Vilela (MDB) aparece empatado tecnicamente com o governador na segunda colocação.

"O PSDB está se desintegrando nacionalmente e isso pode ter a ver com os escândalos contra integrantes do partido e também por ter apoiado o governo de Michel Temer. Esse processo de esvaziamento impacta também as candidaturas nos Estados", diz o professor do Iuperj, lembrando que acusações e denúncias podem servir como munição poderosa para os opositores.

Vices desconhecidos

Além de Ze Eliton, outros três governadores eram vice e assumiram o cargo já na fase final do governo. Além do pouco tempo para ficarem conhecidos, eles também correm para tentar associar seus respectivos nomes aos feitos dos seus respectivos governos. É o caso de Márcio França (PSB) em São Paulo, Cida Borghetti (PP) no Paraná e Belivaldo Chagas (PSD) em Sergipe.

Em terceiro, França, que era vice do presidenciável Geraldo Alckmin, dificilmente vai conseguir uma vaga no segundo turno em São Paulo, onde a disputa está sendo travada entre o ex-prefeito João Doria (PSDB) e Paulo Skaff (MDB).

Entre os dez governadores que não são front-runners (líderes nas pesquisas), que estão posicionados na segunda ou terceira posição nas intenções de voto, quatro são vice-governadores que assumiram o cargo já na fase final do governo e cinco estão sendo investigados em processos da Justiça Eleitoral.

Ou seja, uma parte terá mais dificuldades em associar os seus nomes às realizações dos governos, e a outra tem registros negativos que impactam os eleitores e que serão certamente utilizados pelos concorrentes para reduzir as vantagens que o cargo poderia propiciar, diz Magna Inácio.

Cautela nas análises eleitorais

Magna Inácio pondera que "o fato de metade dos governadores não estar liderando as pesquisas não indica, ainda, chance de sucesso ou insucesso na reeleição".

"A campanha eleitoral ainda está em curso, e a proporção de indecisos é alta em alguns Estados. (...) É preciso, portanto, cautela, pois esse quadro pode se alterar ainda. Até esse momento ainda são poucos os candidatos à reeleição com chances de vitória no primeiro turno, como é o caso do governador da Bahia e do Ceará. Em outros, o resultado ainda é incerto, uma vez que há concorrentes competitivos, como em Pernambuco ou no Rio Grande do Sul", avalia a professora.

Apesar de o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), liderar as intenções de votos, Armando Monteiro (PTB) tem crescido a ponto de aparecer empatado tecnicamente com ele em algumas pesquisas. No Rio Grande do Sul, a disputa entre José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) também está acirrada.

Se o emedebista ganhar, contudo, vai ser a primeira vez que o Rio Grande do Sul vai reeleger um candidato. Nenhum governador nunca conseguiu um segundo mandato consecutivo no Estado.

Vantagens e desvantagens

Candidatos à reeleição não precisam, de acordo com a legislação, deixar os cargos durante a campanha. Mas a lei proíbe inaugurações de obras, propagandas do governo e novas contratações. Ainda assim, segundo especialistas, os governadores tendem a levar vantagem em relação aos concorrentes.

"Quem está no poder tem mais visibilidade porque divide a campanha com as funções de governador e já é naturalmente mais conhecido do eleitor. Num cenário como o de agora, com uma campanha mais curta e sem doações de empresas, os candidatos à reeleição saem beneficiados", avalia Geraldo Tadeu Monteiro, IUPERJ.

Por outro lado, diz o próprio Monteiro, há uma enorme rejeição à classe política, que pode ser observada na quantidade de pessoas que declara querer votar branco ou nulo.

"O efeito deste descrédito político sobre a reeleição dos governadores pode ser maior ou menor dependendo das condições de disputa em cada estado. Em alguns estados, alianças foram feitas para barrar concorrentes vistos como ameaças potenciais", lembra a professora Magna Inácio.

Ela cita como exemplo o acordo firmado entre PT-PSB, no qual o PSB optou por ficar neutro na disputa presidencial em troca da retirada de candidaturas ou do apoio ao PT em alguns Estados. "Candidatos potencialmente competitivos foram alijados da disputa eleitoral devido às estratégias de reduzir a oferta de desafiantes nesses Estados", pondera.

Magna Inácio observa ainda que escândalos ou investigações também reduzem as vantagens reputacionais ou o peso das máquinas partidárias estaduais dos candidatos à reeleição. Isso, segundo ela, aconteceu em Minas Gerais e no Paraná.