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As 3 economias da América Latina próximas de se tornarem as maiores decepções de 2018

09/12/2018 10h38

Enquanto a crise se agrava na Venezuela, país com o pior desempenho econômico na América Latina, três outras economias da região correm o risco de fechar o ano sob fortes quedas.

É o caso da Nicarágua, da Argentina e do Equador, que têm dado sinais de que terminarão 2018 numa situação complicada.

No início do ano, poucos imaginavam que haveria uma revolta popular nicaraguense e que ela provocaria centenas de mortes.

Na Argentina, o bom desempenho econômico no primeiro trimestre não indicava que meses depois haveria uma corrida contra a moeda local, o peso, e que a taxa básica de juros chegaria a 60% (no Brasil, ela é de 6,5%).

Quanto ao Equador, os analistas se preocupam com o alto nível de endividamento público.

Já o Brasil, que nos últimos anos se habituou a figurar nos rankings das economias com pior desempenho do continente, escapou desta vez. Segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o país deve crescer 1,6% em 2018 - 0,1 ponto percentual acima da média de crescimento de toda a América Latina, segundo a comissão.

Nicarágua: o impacto da crise social e política

A crise social e política na Nicarágua resultou em mais de 300 mortes e quase 2.000 pessoas feridas, segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

A organização denunciou execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e barreiras ao acesso à assistência médica num país que enfrenta protestos massivos contra o presidente Daniel Ortega.

Em meio à crise, a Cepal projeta uma busca queda no crescimento econômico, que deve passar de 4,9%, em 2017, para 0,5% neste ano.

O conflito teve um impacto profundo no turismo, no comércio e na agricultura, além de afetar exportações e investimentos.

"Se o baixo crescimento persistir e as tensões sociais não se resolverem, deve-se esperar que os indicadores sociais comecem a deteriorar", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Daniel Titelman, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal.

Mas há um elemento importante na economia local, que são as remessas de nicaraguenses no exterior - o economista estima que não haverá redução desse volume, ao menos um fator positivo num país tão convulsionado.

A Nicarágua representa 0,3% do PIB da América Latina e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 2.217 (cerca de R$ 8.600). O país tem 6,2 milhões de habitantes.

Argentina em situação de emergência

A Argentina, com 44,5 milhões de habitantes, tem vivido dias sombrios. O presidente Mauricio Macri declarou que o país está em uma "situação de emergência" e anunciou um plano de ajuste que inclui uma redução no número de ministérios a menos da metade e volte a impor impostos sobre as exportações agrícolas.

O peso argentino perdeu 50% de seu valor ante o dólar no último ano, e espera-se que a depreciação acelere ainda mais a inflação, que já superou os 30%.

Além disso, a taxa de juros chegou a 60%, algo difícil de imaginar no primeiro trimestre, quando as coisas caminhavam dentro do previsto.

Macri busca diminuir o déficit orçamentário para convencer investidores de que o país pagará sua dívida, uma das condições acordadas como parte de um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de US$ 50 bilhões (o equivalente a quase R$ 195 bilhões).

O governo esperava atingir um equilíbrio fiscal até 2020 e o adiantou para 2019, impondo-se uma meta difícil de alcançar.

"A Argentina tem problemas de baixo crescimento, alta inflação e baixa credibilidade por parte dos mercados. Não é fácil manejar essa situação", afirma Titelman, da Cepal.

A Cepal projeta que a economia argentina, que cresceu 2,9% em 2017, tenha uma queda de 0,3% neste ano.

Terceira maior economia da região, a Argentina representa 11,7% do PIB regional e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 14.305 (cerca de R$ 56 mil).

O Equador e o ajuste do gasto público

O Equador cresceu 3% em 2017, principalmente graças ao aumento do consumo privado e do gasto público, financiado por meio de endividamentos.

É justamente o tamanho da dívida uma das pressões econômicas que inquietam os analistas estrangeiros.

Outro aspecto preocupante é que no ano passado o investimento caiu 0,5%, um dos fatores que fizeram a Cepal projetar um crescimento de 1,5% na economia do país neste ano.

Como essa queda ocorreu em apenas 12 meses? "Os motores que empurravam a economia em 2017 se debilitaram", diz Titelman, da Cepal.

No Equador, o petróleo tem um papel muito importante na economia, e a produção total do óleo teve uma queda de quase 3,4% em 2017.

Isso, somado a outras incertezas, como o ajuste de gastos promovido pelo governo de Lenín Moreno, influenciaram na redução das projeções.

A Cepal estima que haverá queda no consumo em meio a uma política monetária mais restritiva.

O Equador é uma economia dolarizada altamente sujeita aos vaivéns externos. "Quando o dólar se valoriza, isso não convém ao Equador, porque ele perde competitividade", disse Titelman.

E já que os EUA estão subindo as taxas de juros, novas nuvens podem surgir no horizonte. Frente a esses desafios, o governo equatoriano apostou em medidas de austeridade para reduzir o déficit e a dívida pública, com o intuito de aumentar a arrecadação.

O plano foi anunciado em abril deste ano e deixou organismos internacionais e investidores esperançosos. O Equador representa 1,9% da economia latino-americana e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 6.199 (cerca de R$ 24 mil). O país tem 16,8 milhões de pessoas.