5 principais pontos do encontro entre Bolsonaro e Trump
O encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, que encerrou nesta terça-feira (19) a primeira visita do líder brasileiro aos EUA como chefe de Estado, foi marcado por cinco pontos estratégicos na relação entre os dois países.
Em cerimônia no jardim da Casa Branca, onde discursaram e concederam entrevistas, eles trataram do apoio americano à entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de uma eventual invasão militar da Venezuela, do avanço do socialismo no continente americano, do acordo bilateral em torno da base de Alcântara e do comércio com a China.
"Este nosso encontro retoma uma antiga tradição de parceria e, ao mesmo tempo, abre um capítulo inédito da relação do Brasil com os Estados Unidos. Hoje, destravamos assuntos que já estavam na pauta há décadas e abrimos novas frentes de cooperação", disse Bolsonaro.
"Sei que teremos um ótimo relacionamento de trabalho, com muitas visões parecidas, e certamente a relação do Brasil com os EUA, por causa de nossa amizade, será provavelmente melhor que jamais foi", afirmou Trump em seu discurso.
Após o encontro, Bolsonaro seguiria para o cemitério de Arlington, que fica bem próximo à capital americana, onde Bolsonaro deve homenagear militares americanos mortos em combate. O presidente retornará na noite de hoje ao Brasil.
Veja abaixo os cinco principais pontos do encontro.
Entrada na OCDE
"Vamos apoiar. Vamos pedir algumas coisas, mas queremos um relacionamento muito justo", afirmou Trump sobre o pedido de Bolsonaro por apoio à entrada do Brasil na OCDE.
O ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, declarou a jornalistas nos EUA nesta segunda-feira (18) que o representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, prometeu dar apoio ao pleito brasileiro na OCDE caso o Brasil abra mão de pertencer à lista de países com tratamento diferenciado - como aqueles em desenvolvimento - na Organização Mundial do Comércio.
Mas nos discursos e nas entrevistas desta terça-feira, os presidentes do Brasil e dos EUA não abordaram especificamente os termos dessa negociação.
"Seguimos firmemente dedicados a equilibrar as contas públicas e transformar o ambiente de negócios. O apoio americano ao ingresso do Brasil na OCDE será entendido com um gesto de reconhecimento que marcará ainda mais a união que buscamos", afirmou Bolsonaro.
Defensores de uma eventual entrada do Brasil na OCDE avaliam que o ingresso atrairia investimentos ao país - a entrada na organização funciona como uma espécie de selo de qualidade. Mas críticos dessa estratégia afirmam que o país ganharia pouco com a entrada na OCDE se tiver de abrir mão de muita coisa na OMC, sem deixar de ser efetivamente um país em desenvolvimento.
Um dos principais empecilhos passa também pela posição do governo americano acerca da expansão da OCDE - os EUA relutaram em permitir a entrada simultânea de vários novos postulantes. Hoje, a OCDE tem 36 países-membros. Além do Brasil, cinco países aguardam uma decisão sobre pedidos de adesão: Argentina, Peru, Croácia, Bulgária e Romênia. O Brasil foi o último a solicitar o ingresso.
Trump já havia manifestado apoio à candidatura da Argentina e gostaria que fosse dada preferência ao país, que fez o pedido de adesão um ano antes do Brasil.
Crise na Venezuela
Tanto Bolsonaro quanto Trump evitaram falar diretamente da possibilidade de invasão militar da Venezuela, mas ambos defenderam a saída do presidente Nicolás Maduro do poder.
Questionado pela imprensa no jardim da Casa Branca após os discursos dos dois presidentes, o americano afirmou que "todas as opções" estão abertas.
"Não baixamos as sanções mais duras [contra o governo Maduro]. Poderíamos ser muito mais duros, mas é muito triste porque não queremos nada além de cuidar de muita gente que está passando fome nas ruas. Estamos falando de um dos países mais ricos do mundo e estamos vendo muita pobreza, tristeza, falta de comida e de água. É muito triste."
Trump elogiou o apoio brasileiro a Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido como chefe de Estado por mais de 60 países, e pediu que os militares abandonem o governo de Maduro.
"Pedimos aos integrantes dos setores militares da Venezuela que suspendam esse apoio a Maduro, que não é nada além do que uma marionete de Cuba, e que libertem seu povo. O Brasil e os EUA também estão unidos no apoio ao povo cubano e também ao povo da Nicarágua. Chegou a hora final do socialismo em nosso hemisfério", afirmou Trump.
Questionado sobre o assunto, Bolsonaro evitou tratar da posição brasileira em caso de invasão americana na Venezuela. Segundo ele, o Brasil e os EUA farão juntos o que for possível para "solucionar o problema da ditadura venezuelana" e que há certas questões que, caso sejam divulgadas, "deixam de ser estratégicas".
"É uma questão de estratégia. Tudo que tratarmos aqui será honrado, mas infelizmente certas informações se por ventura vierem à mesa não podem ser discutidas de forma pública", disse o brasileiro.
Base de Alcântara
Trump e Bolsonaro exaltaram o acordo assinado pelos dois países em torno da base de Alcântara, no Maranhão. As salvaguardas tecnológicas (AST) permitirão o uso comercial da base de lançamento espacial. Pelos termos discutidos, os EUA poderão lançar satélites e foguetes da base maranhense, mas o território continuará sob jurisdição brasileira.
Segundo o presidente brasileiro, o acordo viabilizará o centro de lançamento de Alcântara.
"Depois de 20 anos, estamos finalizando um acordo de salvaguardas tecnológicas para permitir que empresas americanas façam lançamentos a partir do Brasil. É realmente uma localização privilegiada, graças a essa localização economizaremos muito dinheiro", disse Trump. Segundo ele, seu governo está "determinado a reviver o legado americano no espaço".
O uso comercial pelos EUA da base em Alcântara passou por negociações no início dos anos 2000, mas elas não prosperaram. Em 2013, as tratativas foram retomadas, mas somente agora tiveram avanços significativos.
Avanço do socialismo
Durante a entrevista a jornalistas brasileiros e estrangeiros, Bolsonaro foi questionado sobre o impacto na relação bilateral de uma eventual vitória de um candidato do Partido Democrata em 2020 na disputa à Casa Branca.
"É um assunto interno, respeitaremos o resultado das urnas em 2020, mas acredito piamente na reeleição de Donald Trump. O povo repetirá esse voto com toda certeza", afirmou Bolsonaro, arrancando risos do colega americano.
Segundo presidente brasileiro, a "cada dia que passa essas pessoas voltadas ao socialismo e comunismo vão abrindo sua mente para a realidade".
No discurso que antecedeu a entrevista, Bolsonaro faz duras críticas ao governo Maduro. "O reestabelecimento da democracia na Venezuela é de interesse comum entre nossos governos. O regime ditatorial venezuelano faz parte de uma coligação internacional conhecida como Foro de São Paulo, que esteve próximo de conquistar o poder em toda a América Latina. Pela via democrática, nos livramos desse projeto no Brasil."
O Foro de São Paulo é uma organização formada por partidos e movimentos políticos de esquerda em 1990. Criada a partir de um seminário organizado pelo PT, a entidade se propõe a unir a esquerda latino-americana - e é alvo constante de críticas de setores ligados à direita.
Comércio com a China
As críticas frequentes do governo Bolsonaro ao comércio com a China também foram tratadas durante o evento na Casa Branca. Em Washington, Paulo Guedes, criticou a dependência do Brasil em relação aos chineses e defendeu a diversificação dos parceiros comerciais.
Questionado sobre eventuais mudanças na relação com a China, Bolsonaro afirmou: "O Brasil vai continuar fazendo negócio com o maior número de países possíveis. Apenas esse comércio não mais será direcionado pelo viés ideológico como era feito há pouco tempo. Então, estamos também irmanados nesse objetivo para o bem de nossos povos".
O presidente brasileiro faz referência à guerra comercial entre Estados Unidos e China iniciada por Washington por causa do déficit comercial no lado americano (equivalente a quase R$ 3,4 trilhões).
Trump se resumiu a declarar, logo após o fim da entrevista, que "as coisas estão indo bem com a China".
Os líderes de EUA e China devem se reunir em breve nos Estados Unidos para discutir as tarifas impostas a importações por ambos em meio à disputa comercial.
Mas há entraves de difícil solução entre Washington e Pequim, a exemplo da legislação em torno da transferência de tecnologia e do acesso livre ao mercado chinês.
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