Quem é Volodymyr Zelenskiy, comediante que lidera corrida presidencial da Ucrânia
Em 2016, a série "Servo do Povo" começou a ser exibida na televisão na Ucrânia. No papel de um professor, o comediante Volodymyr Zelenskiy acidentalmente se torna presidente depois que seu personagem faz um efusivo discurso sobre a política ucraniana e viraliza nas redes sociais.
Três anos depois, a vida decidiu imitar a arte. O comediante, que é presidente na ficção, está agora a um passo de liderar, de fato, o país da Europa - onde poderosas oligarquias dominam a política há muito tempo.
Zelenskiy está liderando a contagem de votos no primeiro turno, com 30% da preferência dos eleitores que foram às urnas escolher um dos 39 candidatos. O comediante deve ir para a segunda fase da disputa presidencial com o atual líder do país, Petro Poroshenko.
O segundo turno da eleição ucraniana está marcado para o dia 21 de abril.
Neófito na política, Zelenskiy transformou sua inexperiência em ponto forte da campanha. Explorou o fato de ser um outsider e desafiou a política convencional do começo ao fim. Não fez comícios oficiais, tampouco adotou um discurso padrão.
Também quase não deu entrevistas. Usou, principalmente, as redes sociais para divulgar vídeos e atrair o voto dos mais jovens.
Aos 41 anos, Zelenskiy não fez questão de demonstrar conhecimento aprofundado sobre nenhum tema. Limitou-se à narrativa do novo e do diferente. E levantou a bandeira do combate à corrupção.
Discurso vago
"Se não tem promessa, não tem decepção" é uma das frases memoráveis que marcaram a campanha do comediante.
"Zelenskiy é contra o sistema, um comediante contra o 'Estado profundo' da Ucrânia", afirma Alexander Motyl, um especialista em Ucrânia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.
O candidato se destaca por falar fluentemente russo e ucraniano, num momento em que os direitos linguísticos são um tema extremamente sensível para o país. A habilidade linguística do ator atraiu apoio no leste da Ucrânia, região onde a maior parte da população fala russo.
Zelenskiy, contudo, tem um "calcanhar de Aquiles". Ele mantém uma relação próxima com Igor Kolomoisky, um dos mais controversos oligarcas da Ucrânia. Kolomoisky é dono do canal de televisão 1 + 1, emissora que apoiou Zelenskiy e que começou a exibir a última temporada da série do comediante a quatro dias da eleição ucraniana.
O oligarca, que vive em exílio autoimposto, enfrenta inúmeras investigações na Ucrânia que apuram a licitude de seus negócios. Durante a campanha, contudo, Zelenskiy reiterou diversas vezes não ser "marionete" de Kolomoisky.
Em busca de estabilidade
Essa é a segunda eleição na Ucrânia desde a queda do governo pró-Rússia. Em fevereiro de 2014, o ex-presidente Viktor Yanukovych foi derrubado numa onda de protestos que custou mais de 100 vidas. Logo depois veio a anexação da Crimeia pela Rússia e uma insurgência apoiada pelos russos no leste.
Em maio de 2014, o magnata Petro Poroshenko, um dos homens mais ricos da Ucrânia e empresário do setor de confeitaria, venceu a disputa no primeiro turno, com quase 55% dos votos.
Agora, Poroshenko, de 53 anos, tenta a reeleição de olho no voto dos mais conservadores com o slogan "Exército, Língua e Fé", ao mesmo tempo que seu governo enfrenta escândalos de corrupção.
Na Ucrânia, o sistema de governo é classificado como semipresidencialista e o presidente tem poderes significativos nas áreas de segurança, defesa e política externa.
O próximo presidente vai herdar um conflito travado entre tropas ucranianas e separatistas orientais. Espera-se ainda que o líder mantenha os esforços da Ucrânia para cumprir requisitos exigidos União Europeia (UE) e, assim, estreitar os laços econômicos com o bloco.
Segundo a UE, cerca de 12% dos 44 milhões de pessoas que vivem na Ucrânia estão privadas de direitos, em grande parte aqueles que vivem na Crimeia, anexada pelos russos em 2014.
Diante de tantos desafios, o comediante-candidato teve de ceder e buscar a ajuda de profissionais na reta final da campanha.
Nas últimas semanas, depois de algumas reuniões desastrosas a portas fechadas com diplomatas, ele trouxe pra campanha assessores com credibilidade para tentar tranquilizar as pessoas e passar a imagem de que, mesmo que ele pareça não ter muita noção, vai governar cercado de pessoas experientes e recebendo os melhores conselhos.
Em entrevista à BBC News, ele demonstrou que ainda tem muito o que avançar no discurso sobre pontos polêmicos da política ucraniana. Declarou acreditar que as pessoas querem "algo novo, uma pessoa com rosto humano".
Mas fez compromissos vagos para a zona de guerra que se transformou o leste da Ucrânia. Também declarou que a imigração é um grande problema, mas admitiu não ter ideias para, por exemplo, impedir a fuga de cérebros do país.
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