Trump: O que os democratas planejam fazer contra o presidente americano após divulgação de relatório Mueller
Após a divulgação do relatório final da investigação conduzida por Robert Mueller sobre a campanha eleitoral de Donald Trump, os democratas do Congresso americano prometem continuar investigando o presidente por suspeitas de que ele obstruiu a Justiça. Mas não há consenso sobre a amplitude e a profundidade da ofensiva contra o republicano.
A estratégia ganhou força com a divulgação de uma versão editada do relatório do inquérito sobre suposta interferência russa nas eleições de 2016, quando Trump chegou à Presidência.
O documento produzido sob liderança do investigador especial Mueller afirma não ter encontrado provas de que Trump tenha conspirado com russos, mas não há conclusão definitiva sobre as suspeitas de obstrução de Justiça.
O material de 448 páginas cita diversas ocasiões em que Trump tentou impedir a investigação em si - incluindo uma tentativa de demissão do próprio Mueller.
A estratégia do Partido Democrata tem duas frentes: levar Mueller a testemunhar no Congresso sobre sua investigação, que durou 22 meses, e ter acesso à versão completa do relatório - partes foram suprimidas sob alegação de sigilo.
Por outro lado, a equipe jurídica de Trump afirma que o relatório não incrimina o republicano.
"Trump foi totalmente e completamente inocentado de novo", disse Brad Parscale, gerente de campanha à reeleição de Trump em 2020.
O que há no relatório?
O relatório de Mueller afirma não ter identificado nenhuma conspiração criminosa entre a campanha de Trump e a Rússia, mas não conseguiu chegar a uma conclusão legal concreta sobre outro ponto: Trump tentou obstruir a investigação em si ou não?
"Se tivéssemos segurança após uma investigação completa dos fatos de que o presidente claramente não cometeu obstrução da Justiça, nós afirmaremos isso", diz o relatório. "Com base nos fatos e nas normas legais aplicáveis, não podemos chegar a essa conclusão."
"Assim, este relatório não conclui que o presidente cometeu um crime, mas também não o inocenta."
O relatório também revela que :
- Trump instruiu um advogado da Casa Branca a tentar remover Mueller da investigação sob alegação de "conflito de interesse", mas o profissional pediu demissão por discordar do pedido
- Trump supostamente usou um palavrão quando a investigação de Mueller foi anunciada, acrescentando: "Oh, meu Deus. Isso é terrível. Este é o fim da minha presidência. Estou fodido"
- Mueller analisou dez ações do presidente em relação à suposta obstrução da justiça, que, segundo ele, "se deram publicamente"
- A eventual obstrução pelo presidente só falhou porque membros de sua administração se recusaram a "cumprir ordens"
- Investigadores consideraram as respostas escritas do presidente às suas perguntas como "inadequadas", mas optaram por evitar uma batalha judicial potencialmente longa para interrogá-lo
- A porta-voz de Trump, Sarah Sanders, disse em um comunicado na TV que "incontáveis" autoridades do FBI perderam a confiança em seu chefe, James Comey (demitido por Trump), mas ela disse aos investigadores que essa afirmação "não foi fundamentada em nada"
O que dizem os democratas?
Nancy Pelosi e Chuck Schumer, líderes do Partido Democrata no Congresso, disseram em um comunicado conjunto que o relatório de Mueller apresenta "uma imagem perturbadora de um presidente que vem montando uma rede de mentiras, trapaças e comportamento impróprio".
O partido iniciou suas movimentações para tentar obter o documento completo (sem as edições feitas pelo procurador-geral, William Barr, sob alegação de sigilo a fim de evitar prejuízos a investigações e ao processo legal).
Foram suprimidas informações de agências de inteligência ou relacionadas a depoimentos concedidos aos chamados grand juris (sessões fechadas em tribunais, para definir o prosseguimento ou não de alguns processos judiciais), por serem confidenciais.
Democratas querem que Mueller testemunhe no Congresso. A congressista Jackie Speier disse à BBC que o investigador "basicamente jogou a bola para o Congresso e disse 'você precisa buscar a obstrução de Justiça aqui'".
Os democratas também atacaram Barr, acusando-o de "enganá-los" com um resumo que ele produziu sobre supostas conclusões do relatório, principalmente sobre as suspeitas de conluio e obstrução de Justiça.
Barr convocou jornalistas antes de tornar público o relatório e saiu em defesa do presidente.
O relatório tem sido visto como uma ferramenta potencial para o impeachment do presidente, mas o líder da maioria da Câmara, Steny Hoyer, disse que isso não seria "válido neste momento".
"Muito francamente, há uma eleição dentro de 18 meses e o povo americano fará um julgamento", disse ele à CNN.
Quais são os planos dos democratas?
Análise de Jon Sopel, editor de América do Norte da BBC News
Eu acho que uma estratégia presente entre democratas é que eles gostariam de ver um presidente Trump chegando às eleições de 2020 um pouco ferido, um pouco enfraquecido.
O perigo de tomar a rota do impeachment é que um processo uniria o Partido Republicano.
Por essa razão, avalio que a liderança democrata prefira minar o presidente em vez de seguir uma rota que quase certamente acabaria em fracasso e quase certamente seria contraproducente.
E a despeito de todas as perguntas, dúvidas, contradições e cartas na manga, Trump emerge com duas manchetes principais: Mueller diz que não houve conluio com russos; o procurador-geral diz que não houve obstrução de Justiça.
Como Trump reagiu?
Em um evento para militares veteranos, Trump afirmou estar em um "dia bom" - acrescentando que não houve "conluio" ou "obstrução".
Representantes do presidente afirmaram que a investigação foi uma "farsa".
"Agora, as mesas viraram e é hora de investigar os mentirosos que instigaram essa investigação fictícia contra o presidente Trump, com motivações políticas e baseados em nenhuma prova", disse Brad Parscale.
Em um tuíte, Trump disse que tinha o direito de "encerrar toda essa caça às bruxas" e demitir Mueller se quisesse.
Na manhã desta sexta-feira, o presidente tuitou novamente, usando um palavrão para chamar o relatório de "forjado e totalmente falso".
Como os russos reagiram?
Por meio do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a Rússia comentou as conclusões do relatório, dizendo que não continha "novas informações".
"O relatório não apresenta nenhuma prova razoável de que a Rússia teria interferido no processo eleitoral nos EUA", disse Peskov a jornalistas na sexta-feira.
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