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As motivações de quem foi às ruas para defender Sergio Moro e a Lava Jato

Manifestantes participam de ato em apoio ao ministro Sergio Moro na Avenida Paulista, em São Paulo - Bruno Rocha/FotoArena/Estadão Conteúdo
Manifestantes participam de ato em apoio ao ministro Sergio Moro na Avenida Paulista, em São Paulo Imagem: Bruno Rocha/FotoArena/Estadão Conteúdo

Felipe Souza - Da BBC News Brasil em São Paulo

Da BBC News Brasil em São Paulo

30/06/2019 18h51

Protestos deste domingo foram os primeiros depois dos vazamentos de conversas atribuídas a Moro; manifestantes mantêm defesa do atual ministro e colocam em dúvida conteúdo das conversas vazadas.

Milhares de pessoas aproveitaram o domingo para ir à avenida Paulista, no centro de São Paulo, para participar de um ato em defesa da Operação Lava Jato e do ministro Sergio Moro.

A BBC News Brasil entrevistou pessoas de diferentes classes sociais para saber o que as motivou a participar da manifestação.

Um grupo de mulheres saiu do Jabaquara, na zona sul, para defender as pautas de Jair Bolsonaro. A dona de casa Paula Magalhães diz que sua principal bandeira é o apoio à Reforma da Previdência.

"Estou aqui pelos meus netos e bisnetos, que também merecem se aposentar. Se a gente não fizer nada agora, nenhum outro governo vai resolver isso e as futuras gerações vão pagar caro", afirmou.

O Movimento Vem Pra Rua, que também estava na Paulista e foi um dos responsáveis por convocar o ato, estima que houve protestos em mais de 185 cidades do país. No alto de seu trio elétrico, alguns de seus membros disseram que mais de 1 milhão de pessoas se reuniram no ato na avenida Paulista. A PM não fez uma estimativa de público.

Os atos deste domingo foram os primeiros depois do vazamento de conversas atribuídas ao então juiz Sergio Moro com o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. As trocas de mensagem por meio do aplicativo Telegram foram reveladas em uma série de reportagens publicadas pelo portal The Intercept Brasil e cunhada de "Vaza Jato", e depois publicadas por outros veículos.

Mas nenhum dos entrevistados pela BBC News Brasil na avenida Paulista disse se importar com as publicações das últimas semanas. O cobrador de ônibus Edmar Rocha da Silva, que foi à Paulista com a mulher o filho de 5 anos, defende que as conversas foram obtidas de maneira criminosa e revelam apenas falas cotidianas entre dois funcionários públicos.

"(As conversas) só demonstram um juiz se esforçando para fazer Justiça. A Lava Jato prendeu diversos criminosos e agora estão querendo acabar com ela. Meu filho é autista, não entende nada que está acontecendo aqui, mas faço questão de trazê-lo para que ele esteja sempre do lado certo", afirmou.

A manifestação começou por volta das 14h e se estendeu até as 17h, quando foi anunciado seu fim, conforme acordo prévio com a Polícia Militar.

O analista de sistemas Rodrigo Almeida dos Santos disse ter saído da cidade de Campinas e enfrentado uma viagem de uma hora e meia de carro para ir ao ato na capital.

"Não adianta ficar em casa. Tem que fazer volume para demonstrar nossa revolta com essa tentativa de golpe contra a operação que prendeu peixe grande, os maiores bandidos do país. Vir para São Paulo é simbólico porque é onde há mais relevância, é onde tem visibilidade e podemos demonstrar nossa força", afirmou.

O funcionário público Anderson Luis, que diz ser a favor da cidadania e das pautas defendidas por Jair Bolsonaro, levou sua cadela Mel para o protesto.

"Ela é nossa mascote, vem sempre. Ela 5 kg, mas trazê-la representa bastante para a gente. Quero deixar claro que o jornalista Glenn (Greenwald, editor do Intercept) precisa provar que as mensagens que ele pegou do Moro são verdadeiras e que ele não está editando do jeito que bem entende", afirmou.

Moro na mira

Após o vazamento das conversas atribuídas a Sergio Moro, o atual ministro e ex-juiz da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, encarregado de julgar os casos apurados pela Lava Jato, foi ao Senado responder a perguntas sobre as mensagens, que teriam sido trocadas por meio do aplicativo Telegram entre ele e procuradores da Lava Jato.

Na ocasião, Moro repetiu várias vezes que não cometeu irregularidades e fez uma defesa veemente da Lava Jato. Também fez duras críticas ao Intercept pela divulgação das supostas conversas. Neste domingo, ele publicou tuítes exaltando os protestos. "Eu vejo, eu ouço. Lava Jato, projeto anticrime, previdência, reforma, mudança, futuro", disse, postando uma foto da manifestação na avenida Paulista.

https://twitter.com/SF_Moro/status/1145389927577849858

Para Carlos Pereira, os vazamentos obrigaram o ex-juiz Moro a assumir um papel claramente político, algo que vinha fazendo "de forma tímida" desde que deixou a magistratura para assumir o ministério a convite de Bolsonaro.

Não foi por acaso que, dias depois dos vazamentos, Moro apareceu em um jogo do Flamengo ao lado de Bolsonaro, diz o professor da Ebape/FGV.

"Acho que essas revelações o obrigaram a sair da condição de juiz e assumir sua posição política. Ele agora é um político", opina Pereira, citando a criação da conta no Twitter, dois meses antes, como parte desse movimento.

"Ele viu a necessidade de estabelecer conexões diretas com a sociedade, não apenas de forma institucional, mas também na comunicação direta, como faz Bolsonaro. Isso mostra uma mudança clara de postura e de atitudes em relação ao mundo político", considera Pereira.

"Essas manifestações representam a conexão que ele ainda tem com esses movimentos, que desde o primeiro momento deram apoio incondicional à Lava Jato e a iniciativas de combate a corrupção. Como ministro, ele vai precisar desse apoio político para conseguir enfrentar os desdobramentos das investigações. E os setores que o apoiam estão demonstrando essa vontade explícita."

A depender da repercussão de novos vazamentos, o impacto pode trazer complicações para a trajetória de Moro no longo prazo - e para os planos já confirmados por Bolsonaro de indicá-lo a uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Mas isso depende de suas ambições para o futuro, considera a cientista política Lara Mesquita.

"Uma coisa é ele querer ser ministro do Supremo. Outra é querer se candidatar, digamos, a governador. Se tiver interesse em seguir uma carreira política, talvez até tenha uma repercussão boa. E as manifestações vão ser importantes para demonstrar sua popularidade", diz a pesquisadora.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT foram alvo de boa parte dos discursos de quem subia nos trios elétricos na avenida Paulista neste domingo. Sempre que o nome do ex-presidente era citado, palavras de ordem eram ditas contra ele.

Na terça-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) levou a julgamento dois pedidos de habeas corpus para Lula, que acabaram sendo negados. Um deles, que pedia suspeição contra Sergio Moro com base no argumento da defesa de que não fora imparcial e agira politicamente no julgamento do ex-presidente, teve a análise do mérito adiada para depois do recesso da corte, em agosto.

Às vésperas das manifestações, pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou piora nos índices de aprovação de Jair Bolsonaro. Os números indicam que a população se divide em três partes iguais na aprovação ou rejeição do presidente: 32% o consideram ótimo ou bom, 32% regular, 32% ruim ou péssimo.

*Colaborou Julia Dias Carneiro, da BBC News Brasil no Rio de Janeiro


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