O telefonema que levou a pedido de impeachment de Trump a um ano da eleição nos EUA
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira (24/09) um pedido de abertura de processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.
O pedido é o primeiro passo concreto entre as diversas tentativas dos democratas de iniciarem um processo de impedimento do presidente, republicano, desde o início de seu mandato.
A gota d'água para o movimento do Partido Democrata, que tem maioria na Câmara, foi uma ligação telefônica entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
A conversa, cujo áudio ou transcrição ainda não vieram a público, teve sua existência revelada na semana passada por uma reportagem do jornal Wall Street Journal.
No diálogo, ocorrido em julho, Trump teria pedido que seu interlocutor ucraniano investigasse Joe Biden, principal pré-candidato democrata na corrida para as eleições de 2020, e seu filho, Hunter Biden, que é integrante do conselho de uma empresa de gás ucraniana.
Em troca, segundo um informante cuja identidade não foi revelada, Trump teria prometido "algum benefício" ao líder ucraniano, possivelmente ajuda militar americana ao país.
Para os democratas, a conversa expõe uma incitação à interferência estrangeira nas eleições de 2020. O próprio Biden declarou nesta terça-feira ser favorável ao impeachment de Trump por conta do caso.
Outro ponto importante da crise é que o governo Trump estaria tentando impedir que a denúncia do informante fosse entregue ao Congresso, apesar de oficiais de inteligência a terem classificado como "urgente". Segundo a lei americana, uma denúncia do tipo deve ser compartilhada pelas autoridades com o Congresso em um prazo de, no máximo, de sete dias.
Na sexta-feira 20, Trump comentou a reportagem, classificando-a como "ridícula" e garantindo que suas conversas com líderes estrangeiros são sempre "totalmente apropriadas".
Dois dias depois, no domingo, ele afirmou à imprensa que seu telefonema a Zelensky, em 25 de julho, foi "de congratulação", mas acrescentou ter mencionado "o fato de que não queremos nossas pessoas, como o vice-presidente Biden e seu filho, aumentando a corrupção já existente na Ucrânia". O republicano insistiu que não fez "absolutamente nada errado".
Nesta terça-feira, em meio ao início da sessão de debates da Assembleia-Geral das Nações Unidas, Trump comentou o caso no Twitter.
"Estou no momento nas Nações Unidas representando nosso país, mas autorizei a divulgação amanhã (quarta) da transcrição completa, totalmente desclassificada e sem edição da minha conversa telefônica com o presidente Zelensky da Ucrânia..."
"Vocês verão que foi uma ligação muito simpática e totalmente apropriada. Sem pressão e, diferente de Joe Biden e seu filho, NENHUM quid pro quo (expressão em latim que quer dizer algo como "trocar uma coisa por outra"). Isto é nada mais do que a continuação da Maior e mais Destrutiva Caça às Bruxas de todos os tempos!", acrescentou.
Os negócios da família Biden
No entanto, ao mesmo tempo que representa um risco para Trump, o caso também é delicado para os democratas. Isto pelas já antigas acusações de conflitos de interesse envolvendo os negócios da família Biden no exterior
Hunter Biden se tornou integrante do conselho da companhia de gás natural ucraniana Burisma em 2014, quando seu pai ainda era vice-presidente no governo de Barack Obama.
Na época, os negócios dos Biden passaram por escrutínio, justamente em um momento em que a Ucrânia passava por turbulências, um governo pró-Rússia havia sido derrubado no país.
Em 2016, Joe Biden pressionou o governo ucraniano a demitir seu procurador-geral, Viktor Shokin, cujos subordinados vinham investigando o oligarca dono da Burisma. Trump e seus aliados acusam Biden de ter agido para proteger o filho.
Ao mesmo tempo, diversos governos ocidentais vinham pressionando pela saída de Shokin, considerado um empecilho a esforços de combate à corrupção.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou à emissora ABC que "se Biden se comportou de modo impróprio, protegeu seu filho e interveio de modo corrupto, temos de investigar a fundo".
O lado da Ucrânia
Trump e Zelensky vão se encontrar pessoalmente pela primeira vez nesta quarta-feira (25), durante o encontro da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Por enquanto, o líder ucraniano e sua equipe têm se mantido em silêncio quanto à crise.
Para Jonah Fisher, correspondente da BBC News em Kiev, o presidente "está bastante ciente dos perigos de ser sugado para dentro da política eleitoral americana, de ser visto tomando algum lado em uma campanha eleitoral que, no ano que vem, pode ser entre Trump e Biden. Resta saber se essa abordagem [silenciosa] vai resistir à reunião em Nova York".
Fisher aponta que o governo Trump provavelmente vai esperar que Zelensky faça algum tipo de afirmação negando as acusações contra o americano ou dizendo que vai "analisar" a conduta dos Biden o que, por sua vez, permitiria à Casa Branca que mantivesse os holofotes sobre os negócios do filho do pré-candidato democrata.
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