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Como raios do sol influenciam o seu cocô

26/10/2019 17h31

Estudo publicado no periódico 'Frontiers in Microbiology' mostra associação entre raios UVB, vitamina B e microbiota intestinal.

Um estudo inédito publicado nesta quinta-feira (24/10) conseguiu mostrar, pela primeira vez segundo seus autores, que a exposição a raios solares, mais particularmente os ultravioleta do tipo UVB, altera positivamente a microbiota intestinal ? o conjunto de bactérias e demais micro-organismos que ajudam o corpo em várias funções, da absorção de nutrientes ao fortalecimento do sistema imunológico.

Isso acontece com a participação fundamental da vitamina D, que faz o "meio de campo" nessa sequência.

"Sabe-se que a exposição aos raios solares UVB impulsiona a produção de vitamina D na pele, e estudos recentes sugerem que a vitamina D altera a microbiota intestinal. Porém, uma conexão entre o UVB levar a alterações na microbiota intestinal, via vitamina D, era algo até então demonstrado apenas em cobaias", explicam os autores da publicação no periódico Frontiers in Microbiology.

No estudo, 21 mulheres brancas, com idades entre 19 e 40 anos e recrutadas em Vancouver, no Canadá, passaram por experimentos conduzidos em 2018. Elas foram divididas em dois grupos: um tomou suplementos de vitamina D no período de inverno anterior aos testes, grupo chamado de VDS+; outro não tomou o suplemento, formando o grupo VDS-.

Depois, elas passaram por sessões de exposição controlada aos raios UVB em uma clínica estética. Após essa etapa, fizeram então exames de sangue e fezes para detectar alterações na presença da vitamina D e na microbiota.

Mais sol, mais vitamina D e bactérias fortalecidas

Como era de se esperar, no início dos experimentos, as participantes que haviam tomado suplementos apresentavam níveis satisfatórios de 25-hidróxi-vitamina D (calcidiol), ou 25(OH)D, no sangue ? considerada a melhor "medida" da quantidade de vitamina D no corpo.

Depois das sessões de exposição aos raios UVB, os dois grupos tiveram melhoras nos níveis de 25(OH)D, mas o grupo que não tomou suplementos teve uma melhora até um pouco maior. No estudo, os autores lembram já ter sido demonstrado que a relação entre a produção de vitamina D na pela e a exposição à luz UVB não é linear ? na verdade, ela estabiliza quando os níveis de 25(OH)D no sangue atingem um ponto satisfatório.

Em relação à microbiota, o grupo VDS- em especial também viu, após a exposição à luz, uma melhora ? aqui, expresa na diversificação dos microrganismos ali presentes, variedade essa que costuma estar associada a pessoas mais saudáveis. Foi observado nos exames de fezes, por exemplo, um enriquecimento da presença de bactérias benignas das famílias Lachnospiraceae e Clostridiaeae e do gênero Ruminococcus.

"Antes da exposição ao UVB, essas mulheres (do grupo VDS-) tinham uma microbiota intestinal menos diversificada e equilibrada do que aquelas que tomavam suplementos regulares de vitamina D", explicou em um comunicado à imprensa Bruce Vallance, líder do estudo e pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica. "A exposição ao UVB aumentou a riqueza e a uniformidade de suas microbiotas para níveis indistinguíveis do grupo VDS+, cujo microbioma não foi alterado significativamente."

"É provável que a exposição à luz UVB de alguma forma altere inicialmente o sistema imunológico. Depois, percebem-se mudanças mais sistêmicas, o que torna o ambiente intestinal mais favorável para as diferentes bactérias", completa o pesquisador.

Potencial para tratamento de doenças

As descobertas abrem caminho também para o cuidado com doenças autoimunes e inflamatórias como a esclerose múltipla e a doença inflamatória intestinal.

Isso porque elas têm sido associadas a mudanças no estilo de vida e no ambiente de sociedades ocidentais que levam a uma menor exposição ao Sol ? e subsequente queda na produção de vitamina D e deterioração da microbiota intestinal.

Acredita-se também que dietas pobres em nutrientes e uso excessivo de antibióticos agravem a composição e funcionamento da microbiota.

Esse cenário é particularmente grave em lugares com estações bem demarcadas, onde o inverno reduz significativamente a exposição ao sol.

Por isso, os autores do estudo no Frontiers in Microbiology endossam o uso de suplementos de vitamina D e a exposição à luz solar nesses casos.

Próximos passos

Os autores apontam que os "animadores resultados" revelados precisam ser qualificados com novas pesquisas, por exemplo com novos perfis de participantes.

"Este estudo recrutou apenas participantes do sexo feminino com o objetivo de reduzir a variabilidade e aumentar a probabilidade de participação. Ainda assim, esperamos que a resposta do microbioma intestinal à exposição ao UVB seja independente do sexo e que nossos resultados sejam semelhantes em indivíduos do sexo masculino", diz o artigo.

"Além disso, para tirar conclusões mais fortes sobre o efeito da luz UVB na microbiota em todos os seres humanos, o estudo deve ser repetido em uma amostra maior que inclua uma ampla variedade de tipos de pele", completa.

Apesar de ser um experimento "desafiador", os autores apontam também para a importância de um eventual teste sob um "espectro total" da luz solar, não se restrigindo apenas aos raios UVB.

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