Em 3 pontos, por que será tarefa árdua para democratas derrotar Trump nas eleições deste ano
Para qualquer outro presidente dos Estados Unidos, disputar a reeleição e vencer nas condições enfrenadas em 2020 por Donald Trump poderia parecer uma missão impossível.
Ele chegou à Casa Branca em janeiro de 2017 sem ter sido o candidato mais votado pela população (foi eleito pelo sistema indireto de Colégio Eleitoral, vigente no país) e começou seu mandato como um dos presidentes mais impopulares da história moderna dos EUA, segundo pesquisas.
Ainda hoje, seu índice de aprovação medido pelo instituto Gallup, de 45%, é oito pontos inferior à média dos mandatários americanos desde 1938.
O governo de Trump foi marcado por escândalos sucessivos, e seis de seus ex-assessores foram condenados em processos decorrentes da investigação que apurou interferência russa nas eleições de 2016.
Além de tudo isso, o republicano é, desde dezembro, o terceiro presidente da história dos EUA a enfrentar um julgamento político —o primeiro que busca ser reeleito em meio a um processo de impeachment.
Ainda assim, as pesquisas sugerem uma eleição acirrada em novembro, e analistas avaliam que Trump tem grandes chances de ser reeleito.
Mas por quê? Há ao menos três respostas para essa pergunta.
1. A divisão política nos EUA
Trump foi eleito em 2016 em meio a uma intensa animosidade e divisão partidária nos Estados Unidos. Desde então, esse processo apenas se aprofundou, de acordo com estudo do instituto americano Pew Research Center.
A pesquisa feita em outubro mostra que três a cada quatro republicanos e democratas acreditam ser impossível concordarem entre sim, não apenas sobre planos e políticas públicas, mas também sobre "fatos básicos".
Segundo especialistas, isso beneficia Trump.
"A maioria dos eleitores veem o rótulo do partido e dizem: 'Se este é o representando do meu partido, votarei nele, porque não consigo pensar em apoiar o representante da oposição'", diz William Galston, analista do Instituto Brookings que assessorou o ex-presidente Bill Clinton.
"Ainda que o estilo de governo de Trump tenha um papel importante nessas divisões, ele teve a vantagem de fortelecer o apoio ao presidente dentro de seu próprio partido", afirma Galston à BBC.
O presidente tem 89% de aprovação entre os eleitores republicanos, de acordo com o Gallup —entre os democratas, o índice é de apenas 8%.
Nesse contexto, o impeachment de Trump —que é acusado de exercer pressão indevida sobre a Ucrânia para obter benefícios políticos pessoais e tentar obstruir as investigações— parece longe de afetar o apoio a ele dentro da sigla.
Nenhum republicano da Câmara de Representantes (deputados) dos EUA votou a favor de submeter ao julgamento político que ocorrerá no Senado, onde o partido do presidente tem 53 dos 100 assentos.
Sua remoção do cargo é pouco provável, já que são necessários dois terços dos votos na Casa para que isso ocorra, e o efeito do processo na campanha eleitoral ainda é incerto.
2. A combatividade eleitoral de Trump
Quando Trump lançou sua candidatura para as eleições em 2016, muitos acreditaram que a aventura do magnata e estrela de reality show pelo mundo político teria vida curta.
Ele, entretanto, surpreendeu ao derrotar os rivais nas prévias republicanas e, em seguida, a candidata democrata, Hillary Clinton, a ex-secretária de Estado americana tida como favorita.
Os resultados demonstraram a efetividade do estilo combativo de Trump.
"Trump é muito bom em denegrir seus oponentes, ele encontra suas fraquezas e joga contra elas sem pausa", diz Galston.
A propensão dos americanos em reeleger seus presidentes também pode contar a favor de Trump contra seu oponente demoracrata —que ainda não foi definido.
Desde 1933, apenas três presidentes dos EUA foram derrotados nas urnas: Gerald Ford (republicano) em 1976, Jimmy Carter (democrata) em 1980 e George H. W. Bush (republicano) em 1992.
Além disso, afirma Galston, entre os eleitores de Trump a sensação é de que ele cumpriu suas promessas de campanha.
Os conservadores religiosos elogiam suas nomeações de juízes, os defensores do Estado mínimo aplaudem sua redução nas regulações ao mercado, os empresários comemoram as reduções de impostos e os nacionalistas celebram as mudanças na política exterior, migratória e comercial, sob o lema "America First" (Os EUA em primeiro lugar, em tradução livre).
O sistema eleitoral indireto adotado nos EUA também poderia permitir a Trump ganhar novamente sem ter a maioria dos votos no país.
3. A economia e o emprego
A força da economia e do nível de emprego são fatores-chave em qualquer eleição americana e são hoje um dos pilares da campanha de Trump à reeleição.
A taxa de desemprego nacional caiu a 3,5% em novembro, a mais baixa em 50 anos. No mesmo período, fora criados 266 mil postos, segundo dados do Departamento do Trabalho.
Ainda que seja discutível quanto desses feitos podem ser atribuídos a Trump, os números dão impulso político ao presidente em meio à batalha para impedir o impeachment.
Três em cada quatro americanos (76%) avaliam como positivas as condições da economia, segundo pesquisa realizada pela CNN em dezembro.
Os últimos dados sobre o mercado de trabalho também reduziram os temores sobre o risco de uma recessão econômica nos EUA, decorrente da guerra comercial com a China.
O cenário pode, é claro, se complicar ao longo de 2020. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiu que a economia mundial passa por um processo de "desaceleração sincronizada" que também pode afetar os EUA.
É importante lembrar ainda que, apesar dos avanços econômicos, Trump sofreu um revés político nas eleições legislativas de 2018, quando os democratas recuperaram o controle da Câmara de Representantes.
Especialistas dizem também que, considerando o atual desempenho da economia, os indíces de popularidade de Trump deveriam ser bem maiores, se seguissem a tendência histórica.
Mas o crescimento do PIB e o desemprego em nível histórico de baixa podem ter evitado, até aqui, uma queda ainda maior do apoio ao presidente, considerando todos os problemas enfrentados por ele.
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