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O que o avanço da extrema direita tem a ver com queda de favorita para suceder Merkel na Alemanha

Annegret Kramp-Karrenbauer tem tido dificuldade em liderar seu partido - Getty Images
Annegret Kramp-Karrenbauer tem tido dificuldade em liderar seu partido Imagem: Getty Images

11/02/2020 12h10

Annegret Kramp-Karrenbauer, líder de um dos partidos que controlam o governo na Alemanha, o CDU ( União Democrática Cristã), está saindo da liderança e não se colocará como candidata para substituir Angela Merkel como chanceler do país.

Protegida de Merkel, Kramp-Karrenbauer (também conhecida pelas iniciais, AKK) assumiu o comando do CDU em dezembro de 2018 e era vista até então como favorita para suceder a atual líder do país.

A decisão de AKK veio depois que dúvidas foram levantadas sobre sua habilidade de impor sua autoridade dentro do partido.

Na última semana, desafiando orientação de AKK, alguns políticos do CDU no Estado de Turíngia (na antiga Alemanha Oriental) votaram junto com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) para colocar o candidato liberal Thomas Kemmerich como premiê regional.

Kemmerich depois disse que iria abdicar do cargo e pedir novas eleições para "remover a mancha do apoio da AfD".

Colaborar com o AfD é considerado um tabu entre os principais partidos, e nenhum líder estadual havia chegado ao cargo antes com a ajuda da AfD.

O partido de extrema-direita cresceu em popularidade nos últimos anos, mas é criticado por suas visões extremas nos temas imigração, liberdade de expressão e imprensa.

Kramp-Karrenbauer (à esq.) foi indicada como líder do CDU por Angela Merkel - Reuters - Reuters
Kramp-Karrenbauer (à esq.) foi indicada como líder do CDU por Angela Merkel
Imagem: Reuters

Em uma coletiva na segunda-feira, Kramp-Karrenbauer disse que continuaria como líder do CDU até a eleição do novo líder, que deve ocorrer no meio do ano. Ela também pretende continuar no cago de ministra da Defesa até o fim do período legislativo.

Sua decisão abalou a corrida para a sucessão de Merkel, que liderou a Alemanha nos últimos 15 anos. AKK disse acreditar que sua escolha não afetará a estabilidade da coalizão entre a CDU e o partido Social Democrata que controla o governo federal na Alemanha.

O anúncio foi feito após uma reunião com membros do partido, em que, diz ela, foram colocadas posições ambíguas, tanto para a extrema direita quanto para a esquerda.

Em novembro, AKK tinha feito um apelo a críticos para que apoiassem a visão dela para a Alemanha e já havia ameaçado sair do cargo se o partido não conseguisse unidade para apoiá-la no congresso do CDU em Leipzig.

Quem é AKK?

Kramp-Karrenbauer entrou para o CDU aos 19 anos, em 1981, quando era estudante, após terminar seu mestrado em ciência política. Desde então foi construindo sua carreira até chegar ao topo da política alemã.

Em 2000, ela se tornou a primeira mulher a ser ministra do Interior e depois a primeira mulher a ser primeira-ministra do Estado de Saarland, entre 2011 e 2018.

Depois de ser indicada por Merkel, ela foi eleita para o cargo de secretária-geral do partido com uma votação recorde de 98.9% dos votos.

Em seu primeiro discurso como líder do CDU, em 2018, depois de assumir no lugar de Merkel (que tinha estado no cargo por 18 anos), AKK fez um apelo por união no partido.

Em seu discurso de despedida como líder do partido, Merkel elogiou a colega pelo sucesso eleitoral em Saarland, o que foi interpretado por muitos como um sinal de que a via como sua sucessora também para o cargo de chanceler.

Análise: Meses turbulentos para a Alemanha

Por Jenny Hill, correspondente da BBC em Berlim

Depois de uma série de decisões questionáveis, Annegret Kramp-Karrenbauer finalmente caiu por sua inabilidade de controlar seu partido - e sua atitude em relação à extrema direita - na antiga Alemanha Oriental.

Assim como outros grandes partidos, o CDU ainda não encontrou a fórmula para recuperar os votos conquistados pelo nacionalismo xenofóbico do AfD - que é particularmente forte no Estado de Turíngia, onde o AfD mais do que dobrou seu número de votos em uma eleição regional no ano passado, levando a um resultado inclusivo.

O episódio frustrou as esperanças da chanceler Merkel de ter uma transição de poder suave e tranquila quando deixar o cargo no próximo ano. Agora, as atenções estão se voltando para o punhado de homens se atracando para sucedê-la. Ao menos três desses candidatos gostariam de levar o partido mais para a direita.

Tudo isso enquanto o Partido Verde sobe cada vez mais nas pesquisas.

Serão meses turbulentos para a política na Alemanha. Especialmente porque o que começou como uma eleição regional inconclusiva se tornou uma demonstração da habilidade da extrema direita na Alemanha de gerar caos político nas mais altas esferas do poder.