Coronavírus: 4 momentos que marcaram a reação de Bolsonaro à pandemia
Declarações do presidente de que doença seria 'fantasia', 'neurose' e 'histeria' motivaram protestos pelo país nesta terça e quarta.
As diferentes reações do presidente Jair Bolsonaro à ameaça do novo coronavírus têm sido alvo de uma série de críticas.
Brasileiros fizeram panelaço nas noites de terça-feira e quarta-feira (17 e 18/03) em pelo menos 6 capitais.
O primeiro protesto veio horas depois de o presidente ter afirmado, após a confirmação da primeira morte por covid-19 no país, ver histeria em relação à doença causada pelo vírus e criticado medidas tomadas por governadores em vários Estados para tentar conter sua disseminação.
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Nesse mesmo dia, o Planalto pediu ao Congresso que fosse decretado estado de calamidade pública no país, o que permitiria um aumento no gasto público para fazer frente aos impactos negativos da epidemia - o que foi interpretado, por sua vez, como mudança no tom que o governo vinha adotando desde o início da crise.
Leia, a seguir, sobre 4 momentos que resumem a reação de Bolsonaro à pandemia de coronavírus.
A viagem aos Estados Unidos
No dia 10 de março, em um discurso feito a apoiadores em Miami, Bolsonaro afirmou que a "questão do coronavírus" não era "isso tudo" e que se tratava muito mais de "fantasia".
Dois dias depois, o secretário de comunicação do Planalto, Fabio Wajngarten, foi diagnosticado com covid-19. Desde então, pelo menos 17 integrantes da comitiva que viajou com o presidente aos EUA testaram positivo para a doença.
Os mais recentes foram o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional e um dos membros do alto escalão mais próximos do presidente, e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Os exames do presidente
Os testes realizados pelo próprio presidente acabaram gerando polêmica quando, na manhã do dia 13 de março, a emissora americana Fox News divulgou que o deputado Eduardo Bolsonaro havia confirmado que o primeiro exame do pai havia dado positivo para o novo coronavírus e que ele aguardava a contraprova.
Poucos minutos depois, Eduardo desmentiu a informação em um tuíte e, na sequência, o presidente divulgou em suas redes sociais que o resultado havia dado negativo com uma foto em que fazia um gesto obsceno e criticava a imprensa - que, segundo ele, havia divulgado informações falsas.
Fontes da rede Fox News, conhecida por ter posicionamentos mais alinhados aos do presidente americano, Donald Trump, declararam à imprensa brasileira que a informação havia sido passada por um porta-voz de Eduardo Bolsonaro por WhatsApp e que o deputado havia confirmado por telefone.
O repórter da Fox John Roberts, autor da reportagem, publicou no Twitter que o deputado havia mudado sua versão inicial sobre os fatos.
Nesta terça (17/03), o presidente afirmou que o segundo teste para diagnóstico do novo coronavírus também foi negativo. Nas redes, não faltaram apelos para que o presidente tornasse público seu exame.
Os protestos contra o Congresso e o STF
Mesmo antes de ter recebido o resultado de seu segundo exame, o presidente decidiu cumprimentar manifestantes que se aglomeravam na frente do Palácio do Planalto durante protestos contra o Judiciário e Legislativo.
Na quinta-feira anterior às manifestações, em uma live no Facebook, usando máscara, Bolsonaro chegou a desencorajar os atos e a sugerir que eles fossem adiados.
No domingo, porém, passou a manhã compartilhando vídeos dos atos e cumprimentou apoiadores em frente ao Planalto.
Em entrevista, Bolsonaro se justificou afirmando que muita gente "vai pegar mesmo a doença, mais cedo ou mais tarde", e que não poderíamos entrar em "uma neurose como se fosse o fim do mundo".
A atitude foi condenada pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.
O senador disse em nota julgar inconsequente estimular aglomeração de pessoas nas ruas. Maia, por sua vez, afirmou que o presidente estaria desautorizando seu ministro da Saúde e fazendo pouco caso da pandemia.
https://twitter.com/RodrigoMaia/status/1239326119561760774
Quando questionado sobre o episódio, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que não havia uma proibição expressa, mas, sem falar diretamente do presidente, disse avaliar que as aglomerações são um equívoco, já que elas vão na contramão das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Dois dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff também criticaram Bolsonaro. A deputada estadual paulista Janaina Paschoal defendeu a renúncia do presidente e afirmou que ele teria cometido crime contra a saúde pública ao endossar as manifestações.
Já o jurista Miguel Reale Júnior defendeu que uma junta médica avaliasse a sanidade mental de Bolsonaro.
Em entrevista, afirmou que ele deveria ser considerado inimputável por ter ignorado as diretrizes do Ministério da Saúde no episódio.
A primeira morte confirmada no Brasil
Quando a primeira morte por covid-19 foi confirmada no país, na terça (17/03), Bolsonaro mais uma vez disse ver "histeria" em relação ao novo coronavírus e criticou as medidas que vinham sendo tomadas por governadores de diferentes Estados - cancelamento de eventos, fechamento de escolas -, sob a justificativa de que eles irão prejudicar muito a economia.
O tom mudou, entretanto, no fim do dia.
Pouco depois da realização de panelaço em algumas cidades - como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife -, o governo federal pediu ao Congresso que reconhecesse estado de calamidade pública até o fim do ano.
Essa medida flexibiliza as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, permitindo que o governo gaste mais e, por exemplo, descumpra a meta fiscal estabelecida para 2020.
Segundo o Planalto, ela seria necessária para proteger a saúde e os empregos e lidar com um cenário de provável queda da arrecadação de municípios, Estados e da União.
Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (18/03), Bolsonaro voltou a defender sua participação nas manifestações - afirmou que, combinado, o número de pessoas no protesto somava uma aglomeração menor do que aquela que se vê no transporte público no Brasil e disse aos presentes que não se surpreendessem se o vissem nos próximos dias entrando no metrô lotado ou na barca Rio-Niterói.
O presidente não usou, entretanto, os adjetivos que vinha empregando para minimizar a pandemia e dividiu a bancada com 8 ministros que fizeram um apanhado do que o governo tem feito para lidar com a doença, inclusive seu impacto sobre o sistema de saúde e sobre a economia.
A mudança de tom de Bolsonaro foi bem mais sutil do que a do colega Donald Trump. Houve uma inflexão na retórica do presidente americano nos últimos dias.
Nesta segunda (16/03), ele afirmou que a situação é ruim e que a epidemia pode durar meses no país. Aconselhou aos americanos que evitassem se aglomerar em grupos maiores que dez pessoas, frequentar bares e restaurantes e disse que as crianças deveriam ter aulas à distância, em casa, na medida do possível.
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