Coronavírus: como diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas agravam quadro de covid-19
Todas as seis pessoas que morreram até agora por causa do novo coronavírus tinham outros problemas de saúde. Entenda como isso favorece o desenvolvimento de formas severas da doença.
As seis pessoas que morreram até agora por causa no novo coronavírus no Brasil tinham em comum outro aspecto além do fato de serem idosos. Todas tinham doenças prévias que contribuíram para agravar sua situação.
A primeira vítima, um homem de 62 anos de São Paulo, sofria de diabetes e hipertensão, assim como uma mulher de 63 anos de Miguel Pereira, no Rio de Janeiro.
Quatro homens com idades entre 62 e 85 anos que morreram em São Paulo também tinham, de acordo com o governo do Estado, outros problemas de saúde.
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Esses casos vão ao encontro do que vem sendo dito por autoridades de saúde desde o início da pandemia. Não é apenas a idade avançada que eleva as chances de alguém desenvolver uma forma grave de covid-19, como é chamada a doença causada pelo novo coronavírus, mas também ter doenças crônicas.
Essas doenças enfraquecem o sistema imunológico, reduzindo a capacidade de defesa do nosso organismo, explica o médico Renato Grinbaum, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"As doenças crônicas geram na maioria das vezes um desgaste do sistema imune, o que permite que o vírus se dissemine pelo sangue até chegar ao pulmão, gerando nele uma infecção", afirma Grinbaum.
Diabetes e hipertensão
No caso da diabetes e da hipertensão, elas debilitam os neutrófilos, o tipo de glóbulo branco mais numeroso em nosso corpo e que atua como nossa primeira linha de defesa diante de ameaças, como bactérias e vírus.
Os neutrófilos envolvem e eliminam o invasor por meio da fagocitose, produzindo enzimas digestivas que o destroem.
Quando eles estão enfraquecidos, o organismo não consegue eliminar o novo coronavírus tão rapidamente quanto seria necessário.
"Quanto mais mal controladas e de longo prazo forem essas doenças, pior funcionam os neutrófilos, e o vírus se dissemina mais e atinge órgãos que não afetaria, como o pulmão, onde se espalha e provoca uma pneumonia", afirma o infectologista.
Câncer e doenças cardiovasculares
Por este mesmo motivo, pacientes que têm câncer ficam mais vulneráveis ao Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus. Os tratamentos geralmente enfraquecem o sistema imunológico, mesmo muito tempo depois de os tumores desaparecem.
Outro motivo de preocupação para pacientes com covid-19 são as doenças cardiovasculares.
A American Heart Association, organização sem fins lucrativos dedicada a esse tipo de enfermidade, explica que, quando pulmões são afetados pelo novo coronavírus, um coração já doente precisa trabalhar ainda mais para bombear sangue oxigenado por todo o corpo.
Um estudo publicado em março na revista Springer Nature, que analisou 150 pacientes com covid-19 em Wuhan, cidade na China que é considerada o epicentro desta pandemia, aponta que "casos com doenças cardiovasculares têm um risco significativamente maior de morte ao contrair o novo coronavírus".
No entanto, a Associação Americana de Cardiologia afirma que os efeitos específicos da covid-19 no sistema cardiovascular ainda não são claros.
O infectologista Ronaldo Hallal, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, explica que doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão aumentam os níveis de uma substância no corpo conhecida como enzima conversora da angiotensina, que atua no sistema de controle da pressão arterial.
"Estudos iniciais apontam que o novo coronavírus é capaz de ligar às celulas por meio desta enzima, especialmente no pulmão, e gerar uma maior agressão a tecidos do corpo, elevando o risco de se desenvolver uma síndrome pulmonar grave, além de alterações na hemodinâmica no organismo", afirma Hallal.
Problemas pulmonares e asma
A capacidade deste vírus afetar o pulmão também exige um cuidado especial com quem já tem esse órgão debilitado.
"Estas pessoas já têm uma capacidade pulmonar mais baixa. Quando o novo coronavírus agride o pulmão, favorece o surgimento de infecções bacterianas secundárias nele", afirma o infectologista.
Da mesma forma, alguns especialistas também argumentam que infecções respiratórias, como a provocada pelo Sars-Cov-2, podem desencadear e agravar sintomas de asma.
A organização Asma no Reino Unido aconselha quem está preocupado com o vírus a manter esta condição sob controle, como seguir a aplicação diária da dose prescrita do inalador preventivo, para ajudar a reduzir o risco de um ataque.
Imunidade se reduz com o avanço da idade
A combinação da covid-19 com doenças crônicas em idosos é ainda mais grave porque, a partir dos 60 anos, o sistema imunológico tende a se deteriorar, um fenômeno chamado imunossenescência, o que prejudica ainda mais a resposta do organismo a vírus e bactérias.
Isso significa que nosso corpo pode reagir não apenas de forma insuficiente e não conseguir combater um invasor, como também ter uma resposta exagerada, explica o infectologista Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
"Um sistema imunológico prejudicado não consegue modular a resposta e gera uma inflamação descontrolada, que favorece uma desorganização do microambiente pulmonar, onde há bactérias que vivem em harmonia com o organismo e, diante da inflamação, elas podem se proliferar", afirma Luz.
Além disso, as células do sistema imunológico que deveriam apenas matar as células infectadas acabam atingindo também aquelas que estão sadias, provocando mais lesões.
Demência e outros problemas neurológicos
Grinbaum ressalta ainda que pessoas que sofrem de demência ou têm algum outro problema neurológico podem desenvolver complicações por causa do novo coronavírus.
"Esse vírus gera a produção de uma grande quantidade de secreção respiratória, que se acumula na garganta. Normalmente, expelimos isso ao cuspir ou tossir. Mas pessoas com problemas neurológicos não percebem isso ou não têm força para cuspir ou tossir, e as secreções acabam sendo aspiradas para o pulmão e levam bactérias para dentro dele", afirma o infectologista.
As recomendações para impedir a infecção pelo novo coronavírus em idosos e pessoas que sofrem de doenças crônicas são as mesmas de todas as outras, mas os cuidados devem ser redobrados por causa de sua maior vulnerabilidade ao vírus e maior chance da covid-19 se agravar.
"O melhor é não sair à rua, e as pessoas que trabalham para alguém idoso ou com outras doenças não devem ir até suas casas se tiverem qualquer sinal de resfriado", diz Grinbaum.
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