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Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki lembram horror de bombas atômicas

06/08/2020 08h35

Faz 75 anos que Estados Unidos bombardearam as duas cidades japonesas durante 2ª Guerra Mundial.

Faz 75 anos desde que os EUA lançaram bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki no final da 2ª Guerra Mundial.


Uma das maiores tragédias da humanidade ocorreu nos dias 6 e 9 de agosto de 1945.

O número real de mortos não é conhecido, mas acredita-se que cerca de 140 mil da população de 350 mil habitantes de Hiroshima tenham sido mortos na explosão e que pelo menos 74 mil pessoas tenham morrido em Nagasaki.

Os ataques provocaram um fim abrupto da guerra na Ásia, com o Japão se rendendo aos aliados em 14 de agosto de 1945.

Mas críticos dizem que o Japão já estava à beira da rendição.

Aqueles que sobreviveram aos atentados são conhecidos como hibakusha. Eles tiveram que lidar com o trauma psicológico e muitos acabaram morrendo mais tarde, devido a envenamento por radiação.

A fotojornalista britânica Lee Karen Stow é especialista em contar histórias de mulheres que testemunharam eventos notáveis na história.

Stow fotografou e entrevistou três mulheres que têm lembranças vívidas dos atentados há 75 anos.

Teruko Ueno

Teruko tinha 15 anos quando sobreviveu à bomba atômica em Hiroshima em 6 de agosto de 1945.

No momento do bombardeio, Teruko estava em seu segundo ano da Escola de Enfermagem no Hospital da Cruz Vermelha de Hiroshima.

Após a explosão da bomba, o dormitório dos estudantes do hospital pegou fogo. Teruko ajudou a combater as chamas, mas muitos de seus colegas morreram no incêndio.

Suas únicas lembranças daquela semana após a bomba são de trabalhar dia e noite para tratar vítimas com ferimentos terríveis, sem comida e com pouca água.

Depois de se formar, Teruko continuou a trabalhar no hospital, onde ajudou nas operações envolvendo enxertos de pele.

A pele foi retirada da coxa de um paciente e enxertada em uma área que havia desenvolvido uma cicatriz quelóide como resultado de queimaduras.

Mais tarde, ela se casou com Tatsuyuki, outro sobrevivente da bomba atômica.

Quando Teruko engravidou do primeiro filho, ficou preocupada se o bebê nasceria saudável e se sobreviveria.

Sua filha Tomoko nasceu saudável, dando coragem a Teruko em construir sua família.

"Não estive no inferno, então não sei como é, mas o inferno é provavelmente o que passamos. Nunca deve ser permitido que aconteça novamente", diz Teruko.

"Há pessoas que fazem grandes esforços para abolir as armas nucleares. Acho que o primeiro passo é fazer com que os líderes do governo local tomem medidas.

"E então devemos alcançar os líderes do governo nacional e o mundo inteiro".


"As pessoas disseram que nenhuma grama ou árvores cresceriam aqui por 75 anos, mas Hiroshima reviveu como uma cidade com lindas áreas verdes e rios", diz a filha de Teruko, Tomoko.

"(No entanto) os hibakusha continuaram sofrendo os efeitos colaterais da radiação".

"Enquanto as memórias de Hiroshima e Nagasaki estão desaparecendo da mente das pessoas ... Vivemos em uma encruzilhada."

"O futuro está em nossas mãos. A paz só é possível se tivermos imaginação, pensarmos nas outras pessoas, descobrirmos o que podemos fazer, agirmos e continuarmos os esforços incansáveis a cada dia para construir a paz".

Kuniko, a neta de Teruko, acrescenta: "Não vivi nem a guerra nem o bombardeio atômico, só conheci Hiroshima depois que ela foi reconstruída. Só posso imaginar".

"Então eu ouço o que cada hibakusha diz. Eu estudo os fatos do bombardeio atômico com base em evidências".

"Naquele dia, tudo foi queimado na cidade. Gente, pássaros, libélulas, grama, árvores - tudo".


"Das pessoas que entraram na cidade após a bomba para a operação de resgate - e aquelas que vieram para encontrar seus familiares e amigos - muitas morreram. Os que sobreviveram estão sofrendo com doenças.

"Tentei ter laços mais estreitos não apenas com os hibakusha em Hiroshima e Nagasaki, mas também com os mineiros de urânio, pessoas que vivem perto dessas minas, pessoas envolvidas no desenvolvimento e teste de armas nucleares e downwinders (aqueles que sofreram doenças como resultado de teste de armas nucleares)".


Emiko Okada

Emiko tinha oito anos quando a bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima.

Sua irmã mais velha, Mieko, e quatro outros parentes foram mortos.

Muitas fotos de Emiko e sua família foram perdidas, mas as mantidas nas casas de seus parentes sobreviveram, incluindo as de sua irmã.


"Minha irmã saiu de casa naquela manhã, dizendo: 'Te vejo mais tarde!' Ela tinha apenas 12 anos e era tão cheia de vida ", diz Emiko.

"Mas ela nunca mais voltou. Ninguém sabe o que aconteceu com ela".

"Meus pais procuraram por ela desesperadamente. Eles nunca encontraram seu corpo, entretanto, continuaram a dizer que ela ainda deve estar viva em algum lugar".

"Minha mãe estava grávida na época, mas sofreu um aborto".

"Não tínhamos nada para comer. Não sabíamos sobre radiação, então pegamos qualquer coisa que pudemos encontrar sem pensar se estava contaminada ou não".

"Porque não tinha o que comer, as pessoas roubavam. A comida era o maior problema. Era assim que as pessoas tinham que viver no início, mas essa memória acabou esquecida".


"Aí, meu cabelo começou a cair e minhas gengivas começaram a sangrar. Ficava constantemente exausta, e sempre queria me deitar".

"Ninguém na época tinha ideia do que era radiação. Doze anos depois, fui diagnosticada com anemia aplástica".

"Todos os anos, há algumas ocasiões em que o céu ao pôr do sol fica vermelho escuro. É tão vermelho que o rosto das pessoas fica vermelho.

"Nessas horas, não consigo deixar de pensar no pôr do sol no dia do bombardeio atômico. Durante três dias e três noites, a cidade esteve em chamas".

"Odeio o pôr do sol. Mesmo agora, o pôr do sol ainda me lembra a cidade em chamas".

"Muitos hibakusha morreram sem poder falar sobre essas coisas, ou sobre sua amargura pelo bombardeio. Eles não podiam falar, então eu falo".

"Muitas pessoas falam sobre a paz mundial, mas quero que as pessoas ajam. Quero que cada pessoa comece a fazer o que pode".

"Eu mesmo gostaria de fazer algo para que nossos filhos e netos, que são nosso futuro, possam viver em um mundo onde possam sorrir todos os dias".


Reiko Hada

Reiko Hada tinha nove anos quando a bomba atômica foi lançada contra sua cidade natal de Nagasaki às 11h02 de 9 de agosto de 1945.


Mais cedo naquela manhã, houve um alerta de ataque aéreo, então Reiko ficou em casa.

Depois que tudo ficou claro, ela foi ao templo próximo, onde as crianças de sua vizinhança estudavam em vez de ir à escola, por causa de frequentes avisos de ataques aéreos.

Após cerca de 40 minutos de estudo no templo, os professores dispensaram a aula, então Reiko foi para casa.

"Cheguei à entrada da minha casa e acho que até dei um passo para dentro", explica Reiko.

"Então aconteceu de repente. Uma luz ardente atravessou meus olhos. As cores eram amarelas, cáqui e laranja, todas misturadas".

"Nem tive tempo de me perguntar o que era ... Em pouco tempo, tudo ficou completamente branco".

"Parecia que eu tinha sido deixada sozinha. No momento seguinte houve um forte barulho. Então desmaiei".

"Depois de um tempo, recobrei a consciência. Nosso professor nos havia ensinado sobre como ir a um abrigo antiaéreo em caso de emergência, então procurei minha mãe dentro de casa e fomos ao abrigo antiaéreo em nossa vizinhança".

"Não tive um único arranhão. Fui salvo pelo Monte Konpira. Mas foi diferente para as pessoas do outro lado da montanha; elas sofreram danos atrozes".

"Muitos fugiram do Monte Konpira para a nossa comunidade. Pessoas com os olhos saltados, os cabelos desgrenhados, quase todas nuas, gravemente queimadas e com a pele solta".

"Minha mãe pegou toalhas e lençóis em casa e, com outras mulheres da comunidade, guiou as pessoas que fugiam para o auditório de uma faculdade particular nas proximidades, onde elas poderiam se deitar".

"Eles pediram água. Me pediram para dar água a eles, então encontrei uma tigela lascada e fui para o rio próximo e peguei água para deixá-los beber".

"Depois de beberem um gole de água, eles morreram. As pessoas morreram uma após a outra".

"Era verão. Por causa das larvas e do cheiro terrível, os corpos tiveram que ser cremados imediatamente. Eles foram empilhados na piscina da faculdade e cremados com restos de madeira".

"Era impossível saber quem eram essas pessoas. Eles não morreram como seres humanos".

"Espero que as gerações futuras nunca tenham que passar por uma experiência semelhante. Nunca devemos permitir que essas [armas nucleares] sejam usadas.

"São as pessoas que criam a paz. Mesmo que vivamos em países diferentes e falemos línguas diferentes, nosso desejo pela paz é o mesmo."


Todas as fotografias estão sujeitas a direitos autorais.


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