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9 ataques de Bolsonaro a jornalistas - e quais os temas que levaram presidente a perder a linha

24/08/2020 11h24

O presidente da República, Jair Bolsonaro, fez no domingo (23/8) o terceiro ataque público a jornalistas em reação a perguntas sobre a investigação envolvendo seu amigo Fabrício Queiroz, seu filho Flávio e sua mulher, Michelle.

Para a Promotoria do Rio de Janeiro, Queiroz e Flávio eram responsáveis sobre um esquema de lavagem e desvio de dinheiro no gabinete do filho do presidente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ambos negam as acusações.

Segundo reportagens da revista Crusoé, do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1, quebras de sigilo bancário apontaram que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil em 27 cheques depositados por Queiroz e a mulher em sua conta entre 2011 e 2016.

Ao ser questionado sobre os depósitos por um repórter do jornal O Globo, Bolsonaro respondeu: "vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado". A ameaça desencadeou uma onda de críticas, notas de repúdio e mais de 1 milhão de replicações da mesma pergunta: "Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?"

As dúvidas sobre os depósitos na conta de Michelle Bolsonaro permanecem sem resposta desde dezembro de 2018, quando o escândalo eclodiu. Naquele mês, o então presidente eleito afirmou que Queiroz estava devolvendo um empréstimo de R$ 40 mil e ofendeu dois jornalistas durante a mesma entrevista coletiva por causa do tema.

Primeiro, ele se irritou com um repórter que lhe questionou o que deveria ocorrer com seu filho Flávio caso se comprovasse que ele cometeu crimes. "Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual."

Na mesma entrevista, Bolsonaro atacou outro repórter que lhe perguntou se ele tinha um comprovante de uma operação de empréstimo que o presidente disse ter feito a Queiroz, ex-assessor de Flávio sob investigação.

"Porra, rapaz, pergunta para sua mãe o comprovante que ela deu para o seu pai, tá certo? Pelo amor de Deus. Comprovante, querem comprovante de tudo", afirmou.

Confira abaixo outros seis episódios em que Bolsonaro atacou publicamente jornalistas e veículos de imprensa:

1. Troca na Polícia Federal

Dois dias após profissionais do jornal O Estado de S. Paulo serem agredidos em uma manifestação favorável a Jair Bolsonaro em Brasília, em maio de 2020, o presidente mandou repórteres calarem a boca durante um pronunciamento em frente ao Palácio da Alvorada.

Bolsonaro se irritou ao ser questionado por jornalistas se ele havia pedido a troca do superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro.

"Cala a boca, não perguntei nada", respondeu. Repórteres insistiram na pergunta, e ele repetiu: "Cala a boca, cala a boca".

A mudança na Superintendência da PF no Rio havia ocorrido no mesmo dia em que Bolsonaro nomeou o novo diretor-geral da corporação, o delegado Rolando Alexandre de Souza.

Após deixar o posto de ministro da Justiça do governo Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro disse que Bolsonaro o havia pressionado para trocar o superintendente no Rio.

O Rio de Janeiro é a base eleitoral de dois filhos do presidente — o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), ambos investigados por autoridades estaduais.

Bolsonaro negou que tivesse a intenção de substituir o superintendente e disse que não há qualquer investigação contra ele ou seus filhos na Polícia Federal.

"Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizer que meus filhos querem trocar o superintendente", afirmou, expondo a capa do jornal Folha de S.Paulo com a manchete: "Novo diretor da PF assume e acata pedido de Bolsonaro".

"Que imprensa canalha, a Folha de S.Paulo. Canalha é elogio para a Folha de S.Paulo", completou. Em dezembro de 2019, o presidente já havia defendido boicote do governo e de anunciantes ao jornal paulista.

2. Caso Marielle Franco

Em outubro de 2019, a TV Globo veiculou uma reportagem sobre a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

Segundo a reportagem, investigadores do caso ouviram um porteiro do condomínio onde Bolsonaro morava quando houve o ataque — o mesmo condomínio onde vivia Ronnie Lessa, acusado de disparar os tiros fatais contra a dupla.

Segundo o depoimento do porteiro, Élcio de Queiroz, um dos suspeitos de participação no crime, esteve no condomínio no dia do ataque e disse que visitaria Bolsonaro, mas se dirigiu à casa de Lessa.

O porteiro disse ter telefonado à casa de Bolsonaro para avisar que o visitante tinha ido para outra residência, quando teria ouvido do interlocutor que ele "sabia para onde ele [Élcio] tinha ido". O porteiro disse acreditar que a voz no telefone era de Bolsonaro, segundo a reportagem.

Logo após a divulgação, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo no Facebook criticando a Globo e se dizendo vítima de uma "patifaria".

"É uma canalhice o que vocês fazem, TV Globo. Uma canalhice, fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco."

Bolsonaro ameaçou não renovar a concessão da Globo em 2022 caso a emissora tenha pendências contábeis. "Não vai ter jeitinho para vocês nem para ninguém."

3. 'Dar o furo'

Em 18 de fevereiro, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro fez um comentário de cunho sexual sobre a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo.

"Ela queria dar o furo", disse o presidente diante de um grupo de simpatizantes. Após uma pausa, Bolsonaro concluiu: "A qualquer preço contra mim".

A fala ocorreu após um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp dizer, sem apresentar provas, que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações.

O ex-funcionário deu a declaração à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso, e foi endossado na ocasião pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

Mello apresentou à Justiça uma ação com pedido de indenização por danos morais contra o presidente. O caso ainda não foi julgado.

4. Bananas

Em 4 de março, Bolsonaro transmitiu um vídeo no qual o humorista Carioca distribuía bananas a jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada.

Carioca estava vestido de presidente e havia acabado de se reunir com Bolsonaro.

Durante a gravação, o presidente se recusou a responder perguntas dos jornalistas sobre a principal notícia do dia, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019.

Algumas semanas antes, em 15 de fevereiro, o próprio Bolsonaro havia feito um gesto de banana a jornalistas que o questionaram sobre uma reforma na biblioteca do Palácio do Planalto, feita para acomodar o gabinete de sua esposa, Michelle Bolsonaro.

"A primeira-dama faz um trabalho de graça para o Brasil. Então, em vez de vocês elogiarem, vocês criticam. Tenha paciência", disse o presidente.

5. Repórteres abandonam entrevista

Em 31 de março, jornalistas que acompanhavam a fala de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada deixaram o local após o presidente estimular seus apoiadores a hostilizarem os profissionais.

Os repórteres questionavam Bolsonaro sobre as posturas divergentes entre o presidente e seu então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), quando um apoiador gritou que a imprensa "colocava o povo contra o presidente".

Bolsonaro incentivou o homem a continuar. "É ele que vai falar, não é vocês (jornalistas), não", disse.

Os apoiadores começaram então a ofender os jornalistas, que deixaram o local. Bolsonaro ironizou a decisão do grupo. "Vão abandonar o povo? Nunca vi isso, a imprensa que não gosta do povo."

6. 'Globo lixo'

Em 30 de abril, Bolsonaro voltou a criticar a TV Globo e a afirmar que poderá não renovar a concessão da emissora.

Em entrevista no Palácio da Alvorada, ele acusou a Globo de deturpar sua fala, quando, em entrevista no dia anterior, o presidente respondeu "E daí?" ao ser indagado sobre o número de mortes por covid-19 no Brasil.

Bolsonaro afirmou que não quis relativizar o número de mortes e que só disse "E daí?" após repórteres "insistirem em fazer perguntas idiotas".

"Essa imprensa lixo chamada Globo. Ou melhor, lixo dá para ser reciclado. Globo nem lixo é, porque não pode ser reciclada", afirmou.