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Os dois padres acusados no primeiro julgamento por abuso sexual da história do Vaticano

É o primeiro processo contra um suposto caso de abuso sexual dentro da sede da Igreja Católica - Reuters
É o primeiro processo contra um suposto caso de abuso sexual dentro da sede da Igreja Católica Imagem: Reuters

15/10/2020 10h43

Dois padres católicos foram a julgamento no Vaticano, neste que é o primeiro processo por um suposto caso de abuso sexual na cidade-Estado.

Gabriele Martinelli, 28, é acusado de estuprar um coroinha entre 2007 e 2012.

Enrico Radice, de 72 anos, é acusado de encobrir o suposto crime enquanto era reitor da escola de teologia onde se afirma ter ocorrido o abuso sexual.

Nenhum dos dois se posicionou sobre as acusações.

Embora muitos padres tenham enfrentado acusações de abuso em todo o mundo, o Vaticano até agora nunca realizou um julgamento sobre suspeitas de abuso sexual dentro de seus próprios muros.

O julgamento, que começou com uma breve audiência na quarta-feira (14/10), tem alto valor simbólico, pois o Vaticano é o lar das lideranças espirituais da Igreja Católica Romana, como o papa Francisco.

Quais são as acusações?

Na quarta-feira, durante uma audiência de oito minutos em um pequeno tribunal, as acusações contra os dois homens foram lidas em voz alta.

Martinelli é acusado de abusar sexualmente um menino no Seminário Pio 10, no Vaticano, que abriga coroinhas que celebram missas na Basílica de São Pedro.

Segundo a promotoria, ele submeteu forçosamente um menino, que não pode ser identificado por motivos legais, a "atos carnais" durante vários anos. O abuso teria começado quando a criança tinha 13 anos.

O próprio acusado também frequentou o seminário e depois se tornou padre. Segundo os promotores, Radice não impediu sua ordenação, mesmo sabendo das acusações contra ele.

Por isso, Radice responde oficialmente pela acusação de encobrir o crime e tentar atrapalhar as investigações oficiais.

Nenhum dos dois falou durante a audiência, e o julgamento deve ser retomado em duas semanas.

As acusações de abuso e do acobertamento são conhecidas dentro da igreja desde 2012, mas só vieram a público graças a jornalistas que falaram com um colega da vítima em 2017.

O papa Francisco pediu uma "ação definitiva" contra os crimes dentro da igreja quando foi eleito em 2013, mas os críticos dizem que ele não fez o suficiente para responsabilizar os bispos suspeitos de acobertarem os abusos sexuais.

Em agosto de 2018, o líder religioso escreveu a todos os católicos condenando o abuso sexual clerical e exigindo o fim do acobertamento.

E no ano passado, ele tornou obrigatório para o clero católico romano reportar casos de abuso sexual clerical e acobertamentos para a Igreja.

Segundo Mark Lowen, repórter da BBC em Roma, o seminário fica a poucos metros de onde o papa Francisco vive e treina coroinhas para missas papais.

"Denúncias de uma endemia de abusos sexuais atingem a Igreja Católica há décadas.

Apesar das medidas contra os abusos sexuais por sacerdotes, o papa Francisco recebeu críticas de que ele é lento demais para reconhecer a escala do problema. O surgimento de novas acusações deixa claro a montanha de casos em potencial que a Igreja ainda deve enfrentar", resume o jornalista.