A intrigante estátua de Medusa em homenagem ao movimento MeToo em Nova York
Muitos conhecem a história de Medusa, uma das mais notáveis da mitologia grega: o monstro representado por uma mulher com serpentes em vez de cabelos, presas de bronze e asas de ouro cujo olhar transforma suas vítimas em pedra.
Ela foi morta pelo herói Perseu, que, depois de decapitá-la, usou sua cabeça como arma contra seus oponentes até presenteá-la à deusa Atena, para colocar em seu escudo.
Mas, num revisionismo contemporâneo do mito, uma estátua representando Medusa segurando a cabeça de Perseu decepada foi instalada em Nova York no dia 13 de outubro, em um parque perto do tribunal onde o produtor de cinema americano Harvey Weinstein foi condenado a 23 anos de prisão por estupro e ato sexual criminoso de mulheres, em março deste ano.
Segundo seu idealizador, o argentino-italiano Luciano Garbati, a obra, pesando quase 500 kg e que permanecerá no local temporariamente, por seis meses, pode ser considerada um tributo ao movimento #MeToo ("Eu, também", em tradução do inglês), que teve início com o caso Weinstein e se disseminou ao redor do mundo, com mulheres relatando experiências de abuso semelhantes.
A estátua de Garbati retrata Medusa nua e com o corpo esguio, olhar solene, como se parecesse regojizar-se da vitória, segurando a cabeça de Perseu com uma das mãos e uma espada em outra.
"Ela está viva após a batalha com Perseus e isso é significativo", disse Garbati à imprensa americana.
"De acordo com o mito, ela deveria estar morta e decapitada. Essa é a coisa mais importante que você pode dizer sobre esta escultura, mas também que ela defendeu sua vida e estabeleceu um limite", acrescentou.
O artista diz também ter criado a estátua para lançar luz sobre um aspecto pouco conhecido sobre o mito de Medusa - e que guarda relação com o movimento #MeToo.
Medusa nem sempre foi um temido monstro. Antes disso, era uma bela mulher, que foi estuprada pelo poderoso deus Poseidon no templo da deusa Atena.
Mas em vez de Poseidon ser punido, Medusa foi culpada por Atena por profanar seu espaço sagrado. A deusa então a transformou na figura com a cabeça cheia de cobras e um olhar que transforma os homens em pedra.
Neste sentido, a estátua contemporânea seria uma crítica sobre a forma como a história foi contada, sob os valores patriarcais do heroísmo masculino.
Ou seja, uma mulher silenciada e demonizada após ser abusada sexualmente - situação vivida por muitas ao redor do mundo, incluindo aquelas vítimas de Weinstein.
"A imagem foi relacionada à justiça e não há lugar melhor para ela estar", assinalou Garbati.
Polêmica
Mas o que era para ser uma homenagem também gerou polêmica.
Dias depois de ser colocada no parque, o novo "ícone da justiça" da era moderna, como a obra foi descrita, "Medusa com a Cabeça de Perseu" foi criticada por mulheres sobreviventes de estupro.
Segundo elas, trata-se de "uma fantasia de vingança" que classifica erroneamente as vítimas de violência sexual como agressoras.
Outras mulheres, por sua vez, criticaram o fato de que o artista, um homem, optou por criar a estátua com um corpo escultural, sucumbindo, portanto, à pressão sobre o corpo feminino que elas tanto lutam durante a vida.
Mas Garbati disse que recebeu centenas de mensagens de mulheres que estavam emocionalmente ligadas à sua Medusa.
"Se as emoções estão envolvidas na apreciação de uma obra de arte, então você teve sucesso", concluiu.
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