'Teremos de jogar nossa cerveja no ralo': o temor dos pubs britânicos com novo lockdown
Com um recorde de novos casos diários de covid-19, o Reino Unido se prepara para enfrentar mais um lockdown - quarentena obrigatória e com regras rígidas, que vêm sendo temidas em particular pelos pubs britânicos.
A partir da quinta-feira (05), o novo lockdown deve entrar em vigor, proibindo pubs e restaurantes de abrir suas portas (exceto para vender comida para viagem ou em sistema delivery), bem como atividades não essenciais de compras e lazer.
Interações com pessoas de outras casas (ou de outras "bolhas") também estão vetadas, embora atividades ao ar livre e aulas escolares e universitárias continuem sendo permitidas.
O plano delineado pelo premiê Boris Johnson tem previsão de durar quatro semanas e será votado no Parlamento britânico na quarta-feira.
Johnson afirmou que o Reino Unido estará diante de "um desastre médico e moral" se não agir para conter o contágio. O país tem o maior número de mortos por covid-19 na Europa (quase 50 mil) e registrou 18.950 novos casos do novo coronavírus na segunda-feira.
Donos dos tradicionais pubs britânicos, porém, se queixam do governo e antecipam novas dificuldades para o setor.
"[O plano do governo] é a quarta mudança de estratégia afetando o setor de hospitalidade nas últimas seis semanas, e não acho que será a última", afirma à BBC Jonathan Neame, executivo-chefe da cervejaria Shepherd Neame, que se declara a mais antiga do Reino Unido.
Diante do temor de que não consiga escoar sua produção sequer para retiradas ou delivery, Neame afirma que "teremos de jogar nossa cerveja no ralo".
A cervejaria já demitiu 10% de sua equipe e manteve outra parte de licença. "As pessoas pagando o preço são as que já estavam mais fragilizadas, tendo passado por um lockdown e apenas começando a reencontrar seu caminho", afirma Neame.
O executivo prevê que os efeitos do novo lockdown se estendam até o Natal e afetem particularmente os pubs dos centros das cidades. "É difícil imaginar que eles renascerão tão cedo."
"Durante o primeiro lockdown, houve um apoio incrível das comunidades aos pubs locais", ele prossegue. "As pessoas querem seus pubs, querem que eles sobrevivam."
O setor teme que as medidas a serem votadas pelo Parlamento impeçam até mesmo o delivery ou a retirada de cerveja nos pubs para consumo em outros lugares.
Mark Newcombe, presidente do grupo comunitário que dirige o pub Craufurd Arms, em Berkshire, afirma ser "ridícula" a ideia de que pubs não possam entregar a cerveja.
"No último lockdown, fizemos um serviço de delivery e, embora sequer estivéssemos cobrindo nossos custos, pelo menos havia dinheiro entrando no pub", afirma.
O Craufurd Arms, especializado em cerveja do tipo ale, não serve comida. "Ale não tem uma vida longa. Quando chegar quinta-feira, o que não tiver sido vendido terá de ser jogado fora", afirma Newcombe.
"Gastamos tanto dinheiro e tempo para preparar nossos pubs para uma reabertura segura, e agora isso [um novo lockdown]. Como se planejar? Pode durar quatro semanas, pode durar cinco. Pode durar até janeiro, não sabemos."
Para evitar ter de jogar sua produção fora, a cadeia de pubs Wetherspoon está oferecendo a "pint" de ale por 99 centavos de libra (cerca de R$ 7) até quarta-feira à noite.
"É melhor que os consumidores possam desfrutar da ale por um bom preço enquanto os pubs puderem ficar abertos", afirma Eddie Gershon, porta-voz do Wetherspoon. Ele afirma que a promoção não vai causar aglomerações, uma vez que "cada um de nossos pubs está adotando medidas contra a covid e restringindo o número de pessoas".
Para James Calder, executivo-chefe da Sociedade de Cervejeiros Independentes (Siba, na sigla em inglês), diz que é urgente que o governo esclareça quais serão as restrições para a venda de cerveja no novo lockdown. O setor também pede apoio financeiro, incluindo mais crédito e a extensão de cortes de impostos para pubs.
Em discurso no Parlamento nesta segunda, o premiê Boris Johnson afirmou que "o governo continuará a fazer todo o possível para apoiar empregos e a subsistência (dos britânicos) nas próximas quatro semanas. Protegemos 10 milhões de empregos com as licenças (remuneradas) e vamos estender isso até novembro".
Johnson tem enfrentado resistência para o segundo lockdown até mesmo dentro de seu partido, o Conservador, e de críticos que dizem que o governo está sendo ineficaz em antecipar os ciclos da pandemia no país.
O premiê argumenta que as medidas mais duras são necessárias para evitar as previsões mais pessimistas, de que o Reino Unido poderia alcançar 80 mil mortes por covid-19 e sobrecarregar ao extremo o serviço público de saúde. "Estamos enfrentando uma doença. (...) Quando os dados mudarem, nós também vamos mudar de curso", afirmou.
O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse por sua vez que se trata de "mais um momento crítico para a ação" de líderes mundiais, à medida que diversos países da Europa e Estados americanos enfrentam uma nova onda de contaminações. "É também mais um momento crítico para as pessoas se unirem em um propósito conjunto."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.