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5 políticas polêmicas que sobreviveram à investida de Biden contra legado de Trump

Biden assinou várias ordens executivas revertendo as políticas de Trump - Getty Images
Biden assinou várias ordens executivas revertendo as políticas de Trump Imagem: Getty Images

04/02/2021 09h35

Muitos veem o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu antecessor na Casa Branca, Donald Trump, em polos totalmente opostos. Isso é confirmado pelo grande número de decisões de Trump que Biden tentou reverter nas primeiras duas semanas de seu governo.

Na terça-feira (2), Biden assinou uma série de ordens executivas com o objetivo de reverter a rígida política de imigração de seu antecessor.

E durante sua primeira semana apenas na Casa Branca, Biden emitiu um total de 21 ordens executivas, mais do que a soma das emitidas no mesmo período por quatro presidentes anteriores dos EUA, de Bill Clinton em 1994 a Trump em 2016.

O objetivo de uma parte substancial dessas decisões foi reverter as políticas implementadas por Trump.

Biden já ordenou a reincorporação dos Estados Unidos ao Acordo Climático de Paris e à Organização Mundial da Saúde, interrompeu a construção do muro de fronteira com o México, encerrou o veto que impedia a chegada de viajantes de um grupo de países predominantemente muçulmanos e voltou a abrir as portas para o ingresso de transexuais nas Forças Armadas, entre outras coisas.

Todas essas foram decisões polêmicas impostas por Trump usando seus poderes presidenciais.

No entanto, existem outras políticas controversas do governo anterior que sobreviveram à investida do novo presidente contra o legado de seu antecessor.

Confira cinco delas.

1. Acordos de Abraham

Um dos marcos da política externa do governo Trump são os chamados Acordos de Abraham, por meio dos quais ? graças ao apoio dos Estados Unidos ? Israel normalizou suas relações com os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.

Assinados em 2020, esses acordos foram apresentados na época pela Casa Branca como um passo histórico na busca pela paz no Oriente Médio, por facilitar o estabelecimento de relações entre o Estado israelense e os países árabes, algo quase inédito porque até então Israel só tinha relações formais com o Egito e a Jordânia.

Ao mesmo tempo, esses novos acordos receberam críticas porque indiretamente enfraqueceram a posição dos palestinos em suas reivindicações perante Israel, uma vez que, do ponto de vista histórico, uma das formas pelas quais os países árabes os apoiavam era por meio da recusa em reconhecer o Estado israelense.

Outra crítica a esses acordos foi que, para torná-los realidade, os Estados Unidos fizeram algumas concessões importantes, como concordar em vender 50 caças F-35 de última geração aos Emirados Árabes Unidos.

Na semana passada, o novo Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, apoiou esses acordos, chamando-os de "um avanço muito positivo" e anunciando que a Presidência de Biden planeja construir suas políticas com base neles.

No entanto, o novo governo também anunciou que vai rever a venda dos caças aos Emirados Árabes Unidos, o que —embora seja considerado um procedimento usual quando há mudanças de governo— pode afetar esses acordos caso Washington acabe se retirando da operação.

2. Linha dura com a China

Uma política que marcou a era Trump, consagrando uma diferença fundamental em relação a seus antecessores na Casa Branca nos últimos 40 anos, foi a adoção de uma política de confronto aberto com a China.

Embora os presidentes anteriores a ele não tenham evitado criticar Pequim em questões como a situação dos direitos humanos ou suas práticas comerciais, Trump não apenas assumiu um tom mais severo, mas também lançou uma guerra comercial com a China e adotou sanções contra algumas de suas principais empresas, como a gigante de tecnologia Huawei.

Durante a audiência de confirmação do Senado, Blinken disse que achava que Trump estava certo em tomar uma posição mais dura em relação a Pequim e que não tinha dúvidas de que aquela nação representa o desafio mais significativo para os Estados Unidos.

O novo secretário de Estado também disse concordar com a opinião de seu antecessor, Mike Pompeo, que destacou que a China está cometendo genocídio contra uigures e outras minorias muçulmanas na região de Xinjiang.

Quanto à guerra comercial, Biden disse que se apressará em questões como o levantamento de tarifas e aplicará políticas contra as "práticas abusivas" da China, como "roubo de propriedade intelectual, subsídios ilegais a empresas" ou as transferências forçadas de tecnologia de que as empresas americanas necessitam para operar na China.

Assim, os especialistas antecipam que a principal diferença entre a política de Trump e Biden em relação à China residirá nos métodos e nas formas: enquanto o ex-presidente optou por agir unilateralmente, Biden deve buscar aliados no cenário internacional para negociar com Pequim.

3. Ajuda financeira de US$ 2.000

Quando, em meados de dezembro, o Congresso dos Estados Unidos chegou a um acordo para um segundo pacote de ajuda econômica frente à pandemia do coronavírus, que incluía cheques de US$ 600 para cada cidadão, Trump ameaçou vetar o acordo se esse valor não fosse aumentado até US$ 2.000.

O então presidente disse que o valor aprovado era "ridiculamente baixo".

Biden na época chamou a ajuda aprovada de "uma primeira parcela" e disse que seria necessário muito mais dinheiro.

Após sua chegada à Casa Branca, o novo presidente manteve essa postura, e seu novo plano de estímulo à economia contempla um cheque de US$ 1.400 para cada americano, que servirá para completar o valor fixado por Trump em dezembro.

4. Acordos migratórios com o México e a América Central

Reverter as políticas de imigração de Trump é no que Biden tem trabalhado mais ativamente.

O novo presidente acusa Trump de ter agido em detrimento da tradição americana de receber perseguidos de diversas partes do mundo, impondo inúmeras limitações à sua entrada e permanência no país.

Essas medidas incluem o Protocolo para a Proteção de Migrantes (PPM), que estabelece que os solicitantes de refúgio nos Estados Unidos que chegarem primeiro ao México devem aguardar naquele país até que recebam uma resposta ao seu pedido.

O governo Trump também assinou os chamados acordos de "terceiro país seguro" com Guatemala, Honduras e El Salvador, que permitem a esses países hospedar pessoas que buscam refúgio nos Estados Unidos.

Durante a campanha presidencial, Biden afirmou que o PPM seria eliminado em seu primeiro dia de mandato.

No entanto, uma vez eleito, durante uma entrevista coletiva em dezembro, Biden mudou de tom.

"Isso vai ser feito e será feito em breve, mas não será possível no primeiro dia", disse ele, alertando que não poderia retirar todas as restrições existentes de repente, pois correria o risco de criar uma crise adicional que complicaria os esforços de seu governo.

Depois de quase duas semanas na Casa Branca, Biden finalmente abordou a questão do PPM ao assinar uma ordem executiva na qual, embora não elimine esse mecanismo, ordena que ele seja revisto por funcionários de seu governo. Atualmente, o programa obriga milhares de centro-americanos a esperar em campos no lado mexicano da fronteira.

Durante o primeiro telefonema entre Biden e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, os dois falaram em reverter as "medidas draconianas" à imigração impostas pelo governo Trump.

No entanto, eles também se referiram ao "aumento da capacidade de reassentamento", de acordo com o resumo da chamada divulgado pela Casa Branca.

Isso levanta dúvidas sobre se o novo governo pretende eliminar completamente esse programa ou se pretende buscar uma fórmula diferente que inclua também a possibilidade de o México continuar a receber centro-americanos que buscam asilo ou refúgio nos Estados Unidos.

A ideia de realocar os requerentes de refúgio também está presente entre as propostas que Biden tratou enquanto ainda era candidato.

De acordo com o site de sua campanha, o novo presidente planeja convocar uma cúpula regional que inclua os líderes de El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Canadá "para abordar os fatores que impulsionam a migração e propor uma solução de reassentamento regional".

Resta ver o quão diferente essa "solução de reassentamento" será em relação aos acordos atuais com o México e a América Central.

5. Venezuela, Guaidó e Maduro

O governo Trump foi o primeiro no mundo a reconhecer o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, em janeiro de 2019, depois que o presidente daquele país, Nicolás Maduro, foi reeleito para o cargo em eleições que boa parte da comunidade internacional considerou fraudulentas.

A partir daí, Trump impôs uma série de fortes sanções não só aos membros do governo Maduro, mas também à indústria petrolífera venezuelana, principal fonte de divisas daquele país.

Em janeiro, os países da União Europeia decidiram deixar de reconhecer Guaidó como presidente interino, devido ao término do prazo constitucional para o qual tinha sido eleita a Assembleia Nacional por ele presidida.

No entanto, Trump optou por manter esse reconhecimento e o novo governo dos EUA anunciou que fará o mesmo.

Embora Biden tenha criticado algumas das políticas de Trump na Venezuela —como suas ameaças veladas de usar a força para pressionar pela mudança de regime no país—, o novo presidente concorda com seu antecessor ao descrever Maduro como um "tirano" e é partidário do aumento das sanções contra o governo e seus aliados.

Biden também fez apelos a outros países para que reconheçam Guaidó como o líder legítimo do país e defendam a libertação dos presos políticos e a realização de novas eleições na Venezuela.