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Marjorie Taylor Greene: quem é a deputada republicana punida pelo Congresso dos EUA por apoiar teorias de conspiração

Marjorie Taylor Greene foi eleita em novembro - Getty Images
Marjorie Taylor Greene foi eleita em novembro Imagem: Getty Images

05/02/2021 07h51

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos decidiu punir na quinta-feira (4) a deputada republicana Marjorie Taylor Greene por ela por ter defendido no passado teorias de conspiração, apoiado atos de violência contra congressistas, entre outras ações controversas.

Por 230 votos a 199, Greene foi removida de duas comissões às quais tinha sido indicada por seu partido, o mesmo do ex-presidente Donald Trump.

A deputada está no centro de uma grande polêmica apenas algumas semanas depois de ter assumido o cargo.

Tudo começou após o escrutínio de publicações feitas por ela em suas redes sociais entre 2018 e 2019, o que revelou uma série de publicações que foram criticadas até mesmo por seus colegas de partido.

Isso também levou os democratas a exigirem que ela fosse removida das comissões que integrava. Mas, diante da recusa do Partido Republicano em fazer isso, os democratas, que controlam a Câmara, levaram ao plenário uma votação sobre a expulsão de Greene das comissões.

A maior parte da legislação que tramita no Congresso passa por uma comissão antes de chegar ao plenário. Fazer parte destes órgãos pode ser determinante para a influência de legisladores.

Greene ficou conhecida por ter apoiado a QAnon, uma teoria da conspiração que diz que o ex-presidente Donald Trump estava travando uma guerra contra uma conspiração de abusadores de crianças.

Antes da votação, ela disse ter se arrependido de ter apoiado a QAnon, mas não chegou a se desculpar por isso.

"Fui levada a acreditar em coisas que não eram verdade", disse ela. "E eu absolutamente lamento isso. Mas a mídia é tão culpada quanto a QAnon por promover mentiras."

Mas sua fala não foi suficiente para impedir sua expulsão das comissões, que foi apoiada por 11 deputados republicanos e todos os democratas.

Quem é Marjorie Taylor Greene?

Greene era uma empresária que se tornou ativista conservadora antes de ser eleita em novembro, como representante de um distrito do sul da Geórgia.

Foi a primeira vez que ela concorreu a uma cadeira no Congresso. Sua simpatia pela QAnon era de conhecimento público já naquela época.

Isso levou alguns republicanos, entre eles o então líder da minoria na Câmara, Steve Scalise, a apoiar outros candidatos à indicação de seu partido.

Assim que ganhou as primárias do partido, no entanto, as críticas diminuíram, e ela derrotou seu oponente democrata nas eleições.

No mês passado, Greene entrou com um processo de impeachment contra o presidente Joe Biden, acusando-o de corrupção e abuso de poder.

Ela também alegou que Biden deixou seu filho, Hunter, "sugar dinheiro dos maiores inimigos da América, a Rússia e a China". Isso a tornou uma heroína aos olhos da ala pró-Trump do Partido Republicano.

Nos dias que se seguiram após a derrota de Trump, em que o ex-presidente disse ter ocorrido uma fraude em vários Estados, Greene foi uma de suas principais apoiadoras.

Ela viajou com o ex-presidente para um comício na Geórgia no início de janeiro, onde Trump fez uma pausa durante seu discurso de uma hora, criticando a eleição "fraudada", a mídia, a Suprema Corte e funcionários republicanos que não o apoiaram o suficiente. para chamá-la ao palco.

"Eu te amo", disse Trump, dando-lhe o microfone. "Não mexam com ela. Não mexam com ela."

Em quais outras controvérsias ela está envolvida?

Além de ter apoiado no passado a QAnon, Greene curtiu ou publicou uma série de comentários que geraram repulsa até mesmo de republicanos.

A deputada curtiu postagens que incitavam a violência contra contra legisladores democratas.

Alegou que tiroteios em escolas e o ataque terrorista de 11 de setembro foram eventos encenados. Também já defendeu que muçulmanos não devem trabalhar no governo.

Greene também afirmou que os negros "são escravos do Partido Democrata" e que os homens brancos são o grupo mais reprimido nos Estados Unidos.

Ela disse que Hillary Clinton, adversária de Trump na corrida pela Casa Branca em 2016, estava envolvida em uma quadrilha de pedofilia e mutilação infantil.

Em um vídeo que veio recentemente a público, gravado algumas semanas após o tiroteio de fevereiro de 2018 na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, Greene aparece seguindo David Hogg, um sobrevivente do ataque e que é um ativista pelo controle de armas.

A deputada vai atrás de Hogg enquanto ele anda na calçada, questionando por que ele queria confiscar as armas dela.

Greene o chama de "covarde" por se recusar a responder e diz que ele é financiado pelo bilionário George Soros e outros liberais ricos.

Qual foi a reação no Congresso?

Os democratas haviam dado um ultimato na segunda-feira (1/2) para que o Partido Republicano removesse Greene das duas comissões —de educação e trabalho e de orçamento— que ela integrava, caso contrário eles realizariam uma votação no plenário para decidir isso.

O líder republicano na Câmara, Kevin McCarthy, condenou as declarações de Greene, mas se recusou a punir a deputada, dizendo que tudo havia ocorrido antes de ela ser eleita.

"Deixei claro para Marjorie quando nos encontramos (na terça-feira) que, como membros do Congresso, temos a responsabilidade de mantermos um padrão mais elevado do que ela tinha de manter como cidadã", disse McCarthy.

Já o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, a chamou de "louca ou sádica".

O líder republicano do Senado, Mitch McConnell, disse que Greene havia acreditado em "mentiras malucas" que eram um "câncer" para o partido.

O senador republicano Todd Young disse que a deputada é "maluca" e "uma vergonha".

A democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara, disse ter ficado "profundamente preocupada" com a "aceitação dos republicanos de uma extremista adepta de teorias da conspiração".

O partido de Pelosi propôs então expulsar Greene das comissões. A medida requeria apenas maioria simples para ser aprovada.

O deputado democrata Jimmy Gomez anunciou que está elaborando uma resolução para expulsar Greene da Câmara dos Representantes.

"A própria presença dela no cargo representa uma ameaça direta contra as autoridades eleitas e funcionários que servem nosso governo, e é com sua segurança em mente, bem como a segurança de instituições e funcionários públicos em todo o nosso país, que apelo à Casa e a meus colegas para apoiarem a minha resolução", disse ele.

Qual foi a reação de Marjorie Taylor Greene?

A princípio, Greene pareceu ter concluído que a melhor maneira de se defender seria atacando e divulgou um comunicado dizendo que o que estava sendo publicado sobre suas atividades nas mídias sociais eram tentativas de "notícias falsas" para silenciar uma voz conservadora.

"Ao longo dos anos, tive equipes de pessoas gerenciando minhas páginas", ela tuitou. "Muitas postagens foram curtidas. Muitas postagens foram compartilhadas. Algumas não representavam minhas opiniões."

Na segunda-feira (1/2), ela afirmou que, se fosse removida das duas comissões, estaria sendo criado um precedente que poderia ser usado contra os democratas quando os republicanos recuperassem o controle do Congresso após as eleições de 2022.

"E vamos recuperar a maioria, não se enganem sobre isso", tuitou.

Na quinta-feira (4/2), com as votações para expulsá-la das comissões prestes a acontecer, Greene mudou de tom e se defendeu ao dizer que alguns dos comentários foram feitos antes de ela se candidatar.

Ela também afirmou que "parou de acreditar" na QAnon em 2018, depois de encontrar "desinformação, mentiras e coisas que não eram verdade" nas postagens feitas por seguidores da teoria.

Greene disse que estava "chateada com as coisas" que aconteciam nos Estados Unidos e que não confiava no governo quando descobriu as teorias de conspiração.

Ela ainda voltou atrás em relação a comentários em que sugeria que tiroteios em escolas foram encenados. "São absolutamente reais", disse.

Também fez isso quanto a uma alegação anterior de que o ataque de 11 de setembro poderia não ter ocorrido de fato. "Quero dizer a vocês que o 11 de setembro realmente aconteceu", disse ela. "Não acredito que seja falso."

"Essas foram palavras do passado. Essas coisas não me representam", disse ela.

Mas a deputada não abordou uma série de comentários anteriores amplamente considerados racistas e inflamatórios.

Em 2019, ela afirmou que Pelosi era "culpada de traição" e se referiu a isso como "um crime punível com a morte".

Também não falou sobre a perseguição a David Hogg ou comentou sobre afirmações feitas no passado de que as eleições de 2018 haviam dado início a "uma invasão islâmica ao nosso governo".

A republicana também ignorou ter diversas vezes dito que Trump foi o verdadeiro vencedor das eleições de 2020.

Greene pode perder o mandato?

Parece improvável que os esforços de Gomez para expulsar Greene do Congresso tenham sucesso. Alcançar a maioria de dois terços necessária para isso exigiria apoio significativo dos republicanos na Câmara.

E até mesmo alguns democratas podem se sentir desconfortáveis em expulsar uma colega por comentários feitos antes de ela ser eleita.

Mas a Câmara tem outra opção: votar para censurar Greene, um movimento simbólico e que exige apenas maioria simples.