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Conflito entre Israel e palestinos: como destino de seis famílias impulsionou onda de violência

Mulher palestina e homem judeu discutem no bairro Sheikh Jarrah - Getty Images
Mulher palestina e homem judeu discutem no bairro Sheikh Jarrah Imagem: Getty Images

13/05/2021 19h16Atualizada em 13/05/2021 20h18

O destino de seis famílias de um bairro de Jerusalém Oriental é um dos principais gatilhos para a atual onda de violência entre palestinos e israelenses.

O que começou como uma série de tumultos contra os planos de despejo dessas famílias em Sheikh Jarrah escalou para o lançamento de foguetes da Faixa de Gaza contra Israel e a resposta das forças israelenses com ataques aéreos contra Gaza.

Mas o que exatamente o bairro de Sheikh Jarrah representa neste caso?

Um bairro em disputa

Sheikh Jarrah é um bairro palestino na parte oriental de Jerusalém. E agora um grupo de colonos judeus está reivindicando algumas de suas terras e propriedades em tribunais israelenses —daí a ameaça de despejo de famílias palestinas.

Para entender essa disputa, temos que voltar a 1948, quando, após a primeira guerra árabe-israelense, Jerusalém foi dividida em duas partes: Jerusalém Oriental, sob controle árabe; e Jerusalém Ocidental, nas mãos de Israel.

A parte oriental de Jerusalém ficou sob controle da Jordânia desde aquele ano até 1967, quando, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel assumiu o controle efetivo de toda a cidade.

A cidade velha está localizada em Jerusalém Oriental, onde alguns dos lugares religiosos mais sagrados do mundo estão localizados: o Domo da Rocha e a própria mesquita de Al-Aqsa, dos muçulmanos; o Monte do Templo e o Muro das Lamentações, da religião judaica, e a Basílica do Santo Sepulcro, da religião cristã.

E fora das muralhas da cidade velha está Sheikh Jarrah.

"A importância do bairro Sheikh Jarrah reside no fato de ser um dos principais bairros palestinos em Jerusalém Oriental. E os palestinos têm reclamado, nos últimos anos, sobre o número crescente de colonos judeus que chegam", explica Mohamed Yehia, editor do serviço árabe da BBC.

Sheikh Jarrah é uma área bastante abastada, e vários países estrangeiros, como o Reino Unido, têm ali suas missões diplomáticas.

"Também está bem na linha que separa os dois lados de Jerusalém", acrescenta Jeremy Bowen, editor da BBC para o Oriente Médio.

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Sheikh Jarrah é um bairro em Jerusalém Oriental
Imagem: Getty Images

A quem pertence Sheikh Jarrah?

Na prática, a divisão de Jerusalém em 1948 levou a um cenário em que os palestinos que viviam no oeste e os judeus que viviam no leste tiveram que deixar suas casas.

Hoje, muitas famílias palestinas são despejadas de suas casas sob duas controversas leis israelenses.

Por um lado, a chamada Lei de Propriedade Ausente permite que Israel confisque propriedade de palestinos que, segundo Israel, abandonaram ou fugiram de suas casas durante o conflito. Por outro lado, a Lei de Assuntos Jurídicos e Administrativos permite que os judeus que podem comprovar um título de propriedade anterior a 1948 reivindiquem suas propriedades em Jerusalém.

"Na maioria dos casos, os representantes dos colonos judeus tentam expulsar os palestinos de suas casas aplicando a lei israelense que permite aos judeus reivindicar a propriedade de casas que eles ou outros judeus possuíam antes de 1948", explica Yehia.

"A lei israelense permite que judeus reivindiquem propriedade judaica antes da guerra de 1948, mas proíbe os palestinos de recuperarem propriedades que perderam na mesma guerra, mesmo que ainda residam em áreas controladas por Israel", acrescenta.

Isso significa que os palestinos não podem retomar o que eram suas casas na parte oeste da cidade antes de 1948.

No caso de famílias palestinas em risco de despejo em Sheikh Jarrah, uma decisão de um tribunal inferior este ano apoiou a reclamação dos colonos, despertando a ira dos palestinos.

A Suprema Corte de Israel deveria realizar uma audiência sobre o caso na segunda-feira (10/5), mas a sessão foi adiada devido às agitações.

"O status legal preciso da propriedade da terra está sujeito a uma decisão adiada da Suprema Corte", acrescenta Bowen. "Era propriedade de judeus antes da guerra de 1948, que deixou Jerusalém dividida. Uma organização de colonos adquiriu o título da terra e iniciou um processo legal para obtê-la, com o plano de instalar colonos judeus."

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Sheikh Jarrah simboliza hoje em dia um dos pontos centrais do conflito israelense-palestino: o destino de Jerusalém Oriental
Imagem: Getty Images

"Duvido que os palestinos concordem em partir, e também duvido muito que os grupos de colonos abandonem sua reivindicação."

Essas posições conflitantes foram vistas durante as disputas na área nos últimos dias.

"Eles teriam que nos matar... essa é a única maneira de partirmos", disse Abdelfatteh Iskafi, morador de Sheikh Jarrah, à Reuters.

Nuha Attieh, de 58 anos, disse temer que sua família perca a casa se a decisão for aprovada.

"Tenho medo pela minha casa, pelos meus filhos, tenho medo por tudo."

Os palestinos dizem que vivem em Sheikh Jarrah desde 1950, quando foram realocados para lá pela Jordânia após a guerra.

"Este é um país judeu. Eles querem controlá-lo", disse um dos colonos, que forneceu apenas o nome de Eden à Reuters, na terça-feira, apontando para os palestinos do outro lado da rua.

Símbolo

Para Jeremy Bowen, o que está acontecendo em Jerusalém, e especificamente em Sheikh Jarrah, é mais do que uma disputa por algumas casas.

Esta tampouco é uma disputa nova, já que "é comum o despejo de palestinos para a expansão de assentamentos judeus ou estradas de acesso ou segurança israelense", explica ele.

No entanto, o que acontece em Sheikh Jarrah simboliza a luta por um dos pontos centrais do conflito israelense-palestino: o destino de Jerusalém Oriental.

"Sheikh Jarrah é um símbolo, para ambos os lados, do objetivo estratégico de Israel de tornar Jerusalém mais judaica", disse Bowen.

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O caso dos despejos depende agora de decisão judicial
Imagem: Getty Images

Israel considera a cidade inteira como sua capital, embora não seja reconhecida como tal pela maioria da comunidade internacional.

Assim, nos últimos anos, o governo israelense e grupos de colonos trabalharam para estabelecer judeus em áreas palestinas próximas à cidade velha.

Por sua vez, os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a futura capital de um estado independente há muito aguardado.