Covid: Variante da Índia põe em risco saída de lockdown no Reino Unido
Cientistas britânicos dizem que a nova cepa detectada na Índia pode ser 50% mais transmissível que a variante britânica, que domina os casos de infecção no Reino Unido. Perigo é ainda maior para países como Brasil, onde vacinação ainda está lenta.
Depois de meses de boas notícias sobre a pandemia no Reino Unido, com casos de infecções por covid em queda e avanços na campanha de vacinação, o tom das autoridades mudou.
A previsão inicial de acabar com todas as regras de isolamento em junho está ameaçada e voltaram a surgir temores de pressão sobre o NHS, o sistema público de saúde britânico.
Essa mudança de rumos e expectativas se deve à nova variante do coronavírus identificada na Índia, a B.1.617.2, que já começou a se espalhar pelo mundo e foi detectada em pelo menos 17 países.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou ao governo que restringisse voos vindos da Índia para conter a chegada da nova cepa, aparentemente mais transmissível que outras variantes.
No Reino Unido, mais de mil casos da B.1.617.2 já foram identificados.
As preocupações com as mutações dessa variante aumentaram na semana passada, depois que cientistas que aconselham o governo britânico disseram ter certeza de que a variante indiana se espalha mais rapidamente que a variante britânica, que atualmente "domina" os casos de infecção no país.
Vacinação x variante
O Reino Unido vivencia uma corrida entre o programa de vacinação e o vírus. A coexistência do relaxamento das medidas de lockdown previstas para segunda (17) e uma variante mais transmissível pode significar avanços para o coronavírus.
A previsão do governo é que, a partir de segunda, as pessoas possam comer e beber na parte interna de restaurantes e bares. Além disso, cinemas e hotéis poderão reabrir. Seis pessoas ou moradores de duas casas poderão se encontrar em ambientes fechados.
Atualmente, grupos de até seis pessoas (ou integrantes de duas casas) podem se encontrar em ambientes abertos, como parques. E é permitido possível comer e beber somente na área externa de bares e restaurantes.
Agora, porém, cientistas e especialistas em saúde pública estão fazendo um apelo por cautela. A Associação Médica Britânica pediu para que sejam mantidas as regras atuais de distanciamento físico e contato social e que interações continuem a ocorrer apenas em ambientes abertos.
Mas quão perigosa é a variante da Índia?
Ainda há muitas incertezas sobre quão mais transmissível é a B.1.617.2 em comparação com a variante britânica, que predomina no país, e outras cepas, como a da África do Sul e a de Manaus, apelidada de P.1.
"Essa é uma questão crítica para a qual não temos resposta ainda", diz o professor Chris Whitty, conselheiro-chefe do governo britânico para assuntos de saúde.
Se a variante indiana for apenas um pouco mais transmissível que a britânica, não haverá tanto motivo para preocupação.
No entanto, o grupo de cientistas que aconselha o governo britânico, chamado de Sage, diz que existe uma "possibilidade realista" de que ela se espalhe 50% mais rapidamente, o que é um percentual muito alto.
Há ainda estimativas mais pessimistas, de transmissibilidade 60% maior, vindas da Índia, mas elas são baseadas no sequenciamento genético de amostras do vírus e não está claro quão representativas são do cenário em general.
Sage estima que problemas começam quando uma variante é 40% mais transmissível, porque esse já é um percentual capaz de "provocar substancial ressurgimento de hospitalizações" e pressionar o sistema de saúde do Reino Unido.
Reino Unido está numa situação melhor que ano passado
Essas incertezas são remanescentes do ano passado, quando a surgiu a variante britânica, primeiro detectada em Kent. Na época, houve questionamentos sobre a necessidade de mais lockdowns para controlar o vírus.
Mas é importante destacar que a situação epidemiológica no Reino Unido mudou do ano passado para agora.
Mais de 19 milhões de pessoas- um terço da população adulta- recebeu as duas doses da vacina. Outros 17 milhões já receberam uma dose. As vacinas enfraquecem, se não eliminam, a possibilidade de uma infecção por coronavírus resultar em doença grave.
E o número total de infecções está bem menor que no ano passado, no período em que a variante britânica foi detectada. O Escritório Nacional de Estatísticas estima que menos de 50 mil pessoas carreguem o vírus atualmente.
No começo do ano, havia 1,25 milhão de infectados. Atualmente, há apenas cerca de mil pessoas no hospital com covid. A preocupação é que, embora as vacinas sejam ótimas, elas não são perfeitas e nem todos os vulneráveis tomaram as duas doses.
Portanto, se houver uma nova onda de casos pela combinação da flexibilização do lockdown com a variante indiana, um número preocupante de pessoas pode acabar nos hospitais.
É importante ressaltar também que essas previsões não são bolas de cristal. Modelos matemáticos anteriores previram uma nova onda de covid no verão, mas depois surgiram previsões mais otimistas quando ficou claro que pessoas vacinadas têm chances bem menores de espalhar o vírus.
Escolhas difíceis
Os planos de reabertura por enquanto estão mantidos, mas a campanha de vacinação está sendo modificada para garantir que as pessoas mais vulneráveis recebam a segunda dose antes do previsto inicialmente.
A esperança é que, se a variante indiana trouxer problemas, como aumento de hospitalizações, eles possam ser detectados o quanto antes para que sejam tomadas atitudes.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que, se for comprovado que a nova cepa é "significativamente mais transmissível" que outras variantes, então "possivelmente teremos que tomar decisões difíceis" no Reino Unido.
O perigo maior é que a variante indiana chegue a países com programas de vacinação mais lentos, como é o caso do Brasil, onde uma proporção ainda pequena da população tomou as duas doses da vacina.
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