Conflito entre Israel e palestinos: por que violência põe Biden em situação difícil
Os ataques aéreos de Israel ao movimento militante Hamas em Gaza forçaram o Oriente Médio a entrar na agenda de Joe Biden. E isso levanta novas questões sobre como os palestinos se encaixam na ênfase que Biden dá aos direitos humanos.
Também revelou até que ponto a direita israelense ganhou poder, durante a presidência de Donald Trump, na Jerusalém Oriental ocupada. A agitação na região gerou batalhas maiores que podem envolver o governo Biden mais profundamente no conflito entre israelenses e palestinos, mesmo depois que os ânimos se acalmem.
Essa é uma possibilidade que o presidente Biden e seus conselheiros gostariam de evitar.
Eles deixaram claro que suas prioridades diplomáticas são outras. Até agora, os EUA adotaram uma abordagem minimalista e discreta neste cemitério de iniciativas de paz lideradas pelos americanos no passado, tentando discretamente restaurar alguns elementos da política derrubados pela postura descaradamente pró-Israel do governo Trump.
Isso significa concentrar-se em reparar relações rompidas com os palestinos e expressar apoio retórico a um Estado palestino viável como a chave para uma paz duradoura com Israel.
Mas eles estimam que as perspectivas de uma nova rodada de negociações são pouco promissoras. Em vez disso, estão mais determinados em mudar o foco da política externa americana para a China.
Padrão familiar
A mudança repentina de foco, com retorno ao Oriente Médio nesta semana, viu a volta de um padrão tradicional.
Em declarações públicas, o presidente e seu secretário de Estado, Antony Blinken, repetiram a fórmula americana sobre o direito de Israel à autodefesa em face dos foguetes palestinos.
Embora expressando preocupação com o número crescente de palestinos mortos em ataques aéreos israelenses, Blinken traçou uma "distinção clara e absoluta" entre "uma organização terrorista visando civis e Israel (...) visando os terroristas".
Biden não viu nenhuma "reação exagerada significativa" na resposta israelense ao lançamento de mísseis do Hamas. Essa declaração foi tida por alguns analistas como um sinal implícito de apoio para que a operação de Israel continue, apesar dos apelos dos EUA por calma.
Hussein Ibish, analista do centro de pesquisas Arab Gulf States Institute, diz que Washington normalmente dá a Israel uma "carta branca" inicial para responder a ataques de foguetes do Hamas "até que Israel tenha chance suficiente de fazer o que precisa" para destruir a infraestrutura militante.
Reengajamento diplomático?
O governo Biden também bloqueou a ação do Conselho de Segurança da ONU nesta semana, argumentando que uma declaração ou reunião do conselho impediria a diplomacia nos bastidores. O governo acabou concordando com a realização de uma sessão de emergência no domingo (16/05).
Mas Biden teve que acelerar rapidamente seu jogo na frente diplomática sem ter ainda uma equipe completa no local; o governo ainda não nomeou um diplomata para ser embaixador em Israel.
Blinken e outros altos funcionários têm trabalhado ao telefone com seus colegas israelenses. Houve apelos urgentes com os países árabes para tentar ajudar a moldar uma resposta regional liderada pelo Egito.
E o secretário americano de Estado despachou seu principal oficial para assuntos israelenses e palestinos, Hady Amr, para a região. Amr é um diplomata de médio escalão, e não possui o mesmo status de enviados especiais de administrações anteriores.
"Um sinal de uma postura mais resoluta na diplomacia nos bastidores seria enviar alguém mais sênior", disse Daniel Kurtzer, ex-embaixador dos EUA em Israel.
Definir limites
Por mais devastadores que sejam, os ataques aéreos em Gaza são um território mais familiar para diplomatas do que as tensões registradas em Jerusalém, que foram o estopim da nova briga.
A parte oriental da cidade — capturada por Israel em 1967, reivindicada pelos palestinos e que abriga locais sagrados para ambos —sempre foi um ponto de disputa. Seu futuro seria decidido em negociações de paz que nunca aconteceram. Mas os governos israelenses de direita, juntamente com grupos de colonos judeus, têm conseguido expulsar os palestinos, e essa atividade se tornou particularmente descarada durante a administração Trump.
A equipe do presidente Biden não percebeu os sinais que mostravam que isso estava prestes a explodir, disse Hussein Ibish. "Onde ele fracassou foi em impedir a direita israelense, tanto o movimento dos colonos quanto o governo, de avançar com movimentos muito provocativos."
Uma campanha dos colonos para despejar dezenas de famílias palestinas desencadeou uma onda de protestos. Isso foi amplificado pela raiva palestina contra o policiamento pesado de Israel na mesquita de Al-Aqsa, localizada em um monte venerado por muçulmanos e judeus. Também houve raiva entre os palestinos quando souberam dos planos de nacionalistas judeus de direita para marcharem por um bairro muçulmano. O plano foi cancelado na última hora.
Tudo isso despertou demonstrações de solidariedade de cidadãos palestinos de Israel. E desencadeou uma nova e alarmante onda de violência comunitária em cidades israelenses com populações mistas de árabes e judeus.
O governo Biden precisa definir limites, diz Daniel Kurtzer, para impedir que Israel faça provocações em Jerusalém Oriental. "Eles deveriam dizer que apoiamos o direito de Israel à autodefesa, mas [essa atividade] precisa chegar ao fim."
O Departamento de Estado emitiu uma declaração pedindo calma para ambos os lados em Jerusalém. Mas logo em seguida os foguetes do Hamas mudaram o tom da conversa. Blinken declarou profunda preocupação com a "violência nas ruas de Israel".
Isso é "um presságio do que está por vir", diz Ibish.
E quanto à agenda de direitos humanos?
Outro desafio para o governo Biden é como aplicar sua mensagem de retorno à política externa baseada em valores como direitos humanos às realidades locais em Israel, Gaza e na Cisjordânia.
Em declarações recentes, Blinken repetiu que palestinos e israelenses "merecem liberdade, dignidade, segurança e prosperidade na mesma medida".
Para Khaled El Gindy, do Brookings Institute, a fórmula de Biden é "nova e significativa", mas também vaga e intrigante: "Ela se aplica ao aqui e agora?" ele se pergunta. "Ou é aspiracional, em um acordo de status final? Ela ainda não foi colocada em prática, então não sabemos onde isso se encaixa. Acho que nem eles sabem."
A ala mais esquerdista do Partido Democrata tem se tornado cada vez mais veemente em criticar o que vê como a assimetria flagrante no exercício de todos os quatro valores.
Não está claro que tipo de impacto político isso terá. Os democratas que desafiam a tradicional postura pró-Israel podem não estar dispostos a entrar em confronto com Biden porque o presidente é um aliado importante em áreas como economia e clima.
Mas eles estão pressionando para que os EUA adotem padrões universais de direitos humanos e leis internacionais no tratamento dos palestinos. Eles estão pedindo que o governo use os US$ 3,8 bilhões da ajuda militar israelense anual como barganha. E em discursos no plenário da Câmara na semana passada, alguns parlamentares definiram isso como uma questão de justiça racial.
Ayanna Pressley, de Massachusetts, que é negra, disse que "conhece bem a brutalidade policial e a violência sancionada pelo Estado".
O que o governo Biden gostaria, diz Kurtzer, é "ver a atual rodada de combates Israel-Hamas chegando ao fim, a situação em Jerusalém se transformando em tudo que você considera normal e então eles podem voltar e se concentrar em outras coisas "
Mas o grito "Sem justiça - Sem paz", um dos usados nos protestos anti-racistas nos EUA, ecoou em uma manifestação palestina realizada em frente ao Departamento de Estado.
Dependendo do "novo normal", isso pode servir para ser uma forma persistente de manter o conflito israelense-palestino na agenda de Biden.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.