Topo

Esse conteúdo é antigo

Afeganistão: Líderes disseram às forças de segurança para não resistirem, diz ex-embaixadora

Roya Rahmani foi a primeira mulher afegã a ser embaixadora do país nos Estados Unidos - Getty Images
Roya Rahmani foi a primeira mulher afegã a ser embaixadora do país nos Estados Unidos Imagem: Getty Images

Redação

Da BBC News Mundo

18/08/2021 08h21Atualizada em 18/08/2021 08h33

A rápida tomada do controle do Afeganistão pelo Taleban continua a levantar dúvidas.

Enquanto os protagonistas diretos culpam uns aos outros, o Taleban tenta limpar a imagem de crueldade do mundo contra eles.

Na terça-feira (17), a ex-embaixadora do Afeganistão nos Estados Unidos, Roya Rahmani, falou ao programa Newshour da BBC sobre sua perspectiva de ver o governo que representou de 2018 até julho em Washington ser derrotado pelo Taleban.

"Dizer que as forças de segurança afegãs não estavam dispostas a lutar não é verdade nem justo", disse Rahman, em referência ao presidente dos EUA, Joe Biden, que culpou diretamente o governo afegão por não lutar contra o Taleban.

A diplomata disse que Biden tem o direito de defender sua decisão e se manifestar, mas disse que o problema recai sobre os líderes do país.

"Houve um problema com a liderança afegã: os líderes se renderam e disseram às forças de segurança para não resistirem", disse ela. "Essa foi a razão pela qual aconteceu o que aconteceu."

Algumas mulheres têm evitado sair às ruas de Cabul com medo de represália do Talebã, mas outras têm se manifestado em defesa de seus direitos - Getty Images - Getty Images
Algumas mulheres têm evitado sair às ruas de Cabul com medo de represália do Taleban, mas outras têm se manifestado em defesa de seus direitos
Imagem: Getty Images

Rahmani disse ter recebido informações indicando que durante as "últimas semanas", os militares afegãos "receberam continuamente ligações de Cabul pedindo-lhes que se rendessem, ao mesmo tempo em que eles solicitavam apoio, munição, suporte aéreo e suprimentos".

"Não foram fornecidos", enfatizou a ex-embaixadora.

"Mas acho que mesmo que nossas forças de segurança tivessem resistido, isso (tomada pelo Taleban) também teria acontecido por causa de outros fatores, como o medo, o fracasso total da liderança afegã e também a falta de compromisso e consistência dos aliados internacionais."

"Isso teria acontecido, mas não na velocidade que vimos", disse Rahmani.

Estrangeiros foram evacuados em massa do Afeganistão nos últimos dias, depois que o Taleban tomou o poder - Reuters - Reuters
Estrangeiros foram evacuados em massa do Afeganistão nos últimos dias, depois que o Taleban tomou o poder
Imagem: Reuters

O governo do Taleban deve ser reconhecido?

Para a ex-embaixadora, o reconhecimento dos EUA e de outras nações ocidentais ao governo do Taleban deve depender sobretudo dos direitos humanos.

"Você tem que ver o que o Taleban vai fazer. Agora, a boa notícia é que, pelo menos em Cabul, eles não cometeram atrocidades, não estão matando pessoas, não estão torturando ou prendendo. Não estão fazendo o que costumavam fazer em 1996", disse ela, comparando com a tomada do poder por radicais islâmicos na década de 1990.

"Se eles permanecerem com essa postura — e não tenho tanta certeza de que farão isso — e formarem um governo inclusivo, em que respeitem os direitos das mulheres, mas não em seus termos, e sim nos termos internacionais e aceitáveis para as mulheres afegãs, aí, sim, deveria ser reconhecido", disse. "Por que não reconhecer um governo inclusivo no Afeganistão, representante de seu povo e seu bem-estar?"

'Cautelosamente otimista'

Roya Rahmani concluiu dizendo que concordaria em trabalhar para o governo formado pelo Taleban se seus serviços forem necessários.

"Eu ajudaria meu país. Gostaria de preservar nossas conquistas. Isso é absolutamente necessário."

E deixou claro que não acredita que o Taleban tenha mudado, que ainda é necessário ver o que virá a seguir.

"Os sinais iniciais são um tanto positivos. Estou muito, muito cautelosamente otimista de que eles respeitarão a vontade do povo, sua dignidade e suas esperanças e desejos."