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A mulher que deu à luz em cidade sob bombardeio na Ucrânia

Anna Tymchenko e sua recém-nascida, Alisa - Arquivo Pessoal
Anna Tymchenko e sua recém-nascida, Alisa Imagem: Arquivo Pessoal

Abdujalil Abdurasulov - BBC News, Kiev

15/03/2022 13h10Atualizada em 15/03/2022 14h11

Anna Tymchenko estava assustada. Ela estava em trabalho de parto há horas, mas sua cidade natal estava sendo bombardeada e seu apartamento estava tremendo. Ela e o marido ficaram presos sem eletricidade, água encanada ou ajuda médica.

A pequena cidade de Bucha, a 30 km da capital Kiev, estava sob bombardeio implacável desde o início da guerra.

Anna, de 21 anos, havia se refugiado antes no porão do prédio junto ao marido e ao irmão. Mas quando a eletricidade foi cortada e o aquecimento parou de funcionar, o porão foi tomado pela escuridão e ficou muito frio.

O marido de Anna, Volodymyr, estava dividido entre permanecer em Bucha ou tentar fugir. Quando finalmente tentaram escapar de carro, tiveram que dar meia volta ao ouvir que uma coluna de veículos militares russos estava vindo em sua direção.

"Decidimos então ficar no apartamento", disse Anna à BBC. "Preferi dar à luz em casa, e não em um porão empoeirado. Tive dificuldade para respirar, meus pulmões doíam."

Quando entrou em trabalho de parto no fim do dia 7 de março, ela pediu ajuda aos vizinhos. Eles concordaram em ir até lá, mas nenhum deles tinha experiência com partos.

Viktoria Zabrodskaya, uma vizinha de 49 anos, contou à BBC que a preocupação deles era que, se algo desse errado, não saberiam o que fazer.

O quarto estava iluminado com velas, e a única água disponível era gelada das garrafas.

anna grávida - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Anna grávida, fotografada antes do início da guerra, em janeiro de 2022
Imagem: Arquivo Pessoal

"Nunca imaginei que daria à luz em tais condições", diz Anna. "Foi surreal. Era meu primeiro filho, e eu não sabia nada."

No desespero, os vizinhos de Anna tentaram entrar em contato com a equipe médica, mas o sinal de telefone estava ruim. Eles finalmente conseguiram fazer contato com um ginecologista em Bucha depois de conseguir sinal na varanda. Ele concordou em ir até lá, mas nunca apareceu.

Mais tarde naquele dia, ele enviou uma mensagem com um pedido de desculpas e explicou que havia sido parado por uma patrulha russa que havia quebrado seu telefone.

Os vizinhos de Anna teriam que fazer o parto sozinhos. Apenas uma pessoa entre eles — Irina Yazova — tinha algum conhecimento médico.

"Quando a cabeça do bebê saiu, ficamos com medo", conta Viktoria. "Ela estava azul e não sabíamos o que fazer. Irina virou então a cabeça da bebê suavemente, e ela saiu. Não chorou no início ? começamos a encostar nela, e depois ela chorou e todos aplaudimos."

Volodymyr chorou de alívio pela filha Alisa, que nasceu em 8 de março — Dia Internacional da Mulher.

Dois dias depois, foi anunciado que Bucha era um dos corredores humanitários de cessar-fogo para retirada de civis acordados pelo governo ucraniano e pelo Ministério da Defesa russo.

"Passamos a noite inteira discutindo se iríamos ou não", lembra Anna.

Ela e o marido finalmente decidiram sair com a filha recém-nascida. Eles tentaram entrar em contato com outras pessoas para perguntar se a rota era segura e baixaram mapas em seus telefones.

destruição ataques russos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Saindo de Bucha, Anna e Volodymyr viram a destruição causada pelos ataques russos
Imagem: Arquivo Pessoal

No dia seguinte, 21 carros deixaram a cidade em direção a Kiev. Viktoria, que ajudou Anna a dar à luz, dirigiu na frente do comboio, com uma bandeira branca enrolada em um esfregão preso ao seu carro e uma placa dizendo "Crianças".

"No caminho vimos cenas horríveis", diz Anna.

"Nunca pensei que veria essas coisas na vida real — só em filmes. Havia corpos caídos na estrada. As casas estavam destruídas. Tanques russos estacionados, apontando suas armas para a estrada. Estávamos com muito medo de que eles pudessem disparar quando passamos."

Depois de várias horas, os refugiados passaram com segurança por todos os postos de controle russos e chegaram a Kiev — e de lá seguiram caminhos separados.

"Quando saímos, eu não conseguia parar de sorrir", diz Anna. "Não podia acreditar que conseguimos fugir."

Anna está curtindo a maternidade e ansiosa para apresentar a filha aos avós. Mas enquanto muitos de seus parentes já deixaram o país, ela e o marido não podem sair — e Anna diz que ainda não se sente completamente segura.

"Todos os meus pensamentos estão com o que está acontecendo [em Bucha] e no resto do país", diz ela.

"É simplesmente inacreditável, mas esperamos poder voltar para casa em breve."

As fotos são cortesia de Anna Tymchenko.

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