Médica relata sirenes e aviões voando baixo na guerra: 'Ensurdecedor'
"Embarcar foi uma alegria muito grande. Passagem de vinda para paz de novo", declarou em tom de alívio Amarílis Tomaz Cabral, médica de 28 anos que vivia na Ucrânia há cinco anos, até se ver forçada a deixar o país diante da escalada de violências do conflito com a Rússia. A brasileira relatou momentos de terror, marcados pelos sons que descreveu como ensurdecedores das sirenes e aviões voando baixo.
Amarílis faz parte do grupo de brasileiros que foram recentemente resgatados pela Força Aérea Brasileira (FAB) e que regressaram ao país na quarta-feira (9). No entanto, o trajeto de volta para casa foi marcado por momentos de medo, incertezas e riscos.
Em entrevista ao Metrópoles, a médica relatou que desde a invasão do governo de Vladimir Putin à Crimeia, em 2014, os ucranianos vivem em apreensão, pois já percebiam que uma guerra contra o país vizinho estava cada vez mais próxima.
"Tem oito anos que o território ucraniano vem sofrendo invasões. Hoje temos Donetsk e Luhansk. Existe um conflito constante, mas não tão intenso. Desde outubro, percebemos que uma mudança estava acontecendo. A resistência estava se preparando melhor. As propagandas sobre a guerra já estavam circulando, apresentando o risco do conflito", disse Amarilis.
Momentos de provação
Mesmo assim, os primeiros ataques, segundo ela, começaram inesperadamente e nenhum cidadão estava realmente preparado. Muito menos o governo, que agora se encontra sozinho.
"A Ucrânia não se preparou para invadir ninguém. Ela está se defendendo. Os países não estão ajudando. Agora estamos vendo uma movimentação maior. Quando chegaram os soldados na fronteira foi surreal. Foi uma tensão muito grande".
Amarilis revelou que nos primeiros momentos da guerra se sentiu desnorteada, pois nunca tinha vivido uma situação de emergência, na qual as pessoas se veem obrigadas a deixar tudo para trás para proteger suas vidas e se defender dos ataques. "Foram momentos únicos, caóticos. Quando se pensa em bombardeio, em guerra, é algo muito distante. Foi muito complicado. É algo que para nós estava só nos livros", disse a médica.
"O tempo todo eu escutava o som das sirenes, o caos e o bombardeio nas ruas. E tudo que estava acontecendo", acrescentou ela.
No entanto, até conseguir sair do país, Amarilis teve que resistir em meio ao fogo cruzado. E para isso, seguiu as recomendações que as autoridades ucranianas vêm passando para a população desde o início da guerra sobre como se proteger dos bombardeios e outras ofensivas das tropas russas.
"Ninguém sabia quando seria o primeiro dia de guerra. Quando houve o bombardeio em múltiplos locais, nenhuma sirene tocou para nos avisar. Mas, propagandas eram transmitidas na TV ensinando o que fazer. Caso estivéssemos na rua, teríamos que deitar e proteger os ouvidos e a cabeça. E rezar. Realmente, é muito rápido, e fazemos o que podemos para viver. Ir para o bunker é a opção mais segura".
Nos momentos dentro de casa, também seguia os procedimentos necessários para se defender.
"Para se proteger, temos que ir para o banheiro e deitar na banheira. Quando tem um bombardeio, a gente tem que ficar longe de qualquer objeto de vidro. Portas e janelas estouram e qualquer pessoa pode se machucar. Por isso, o banheiro é o lugar mais seguro", explicou.
Mesmo seguindo esses métodos, não pôde negar a agonia que sentiu em relação à toda violência que acontecia do lado de fora. "É horrível. Você escuta a sirene, os aviões voando baixo. Um barulho ensurdecedor. Uma incerteza grande. São momentos de terror".
Fuga e resgate
Quando finalmente surgiu a oportunidade, Amarilis iniciou seu trajeto acompanhada de seu cachorro de estimação em direção à Hungria. A jornada consistiu em uma extenuante caminhada até a fronteira. Até chegar ao seu destino, ela contou que enfrentou os desafios de mobilidade com os poucos recursos que estavam à disposição e, em algumas ocasiões, precisou se refugiar em abrigos improvisados.
"Eu morava no leste e tive que cruzar a Ucrânia inteira para chegar na fronteira até a Hungria. Andei a pé, de trem, de ônibus, dormi em uma escola que servia de abrigo", narrou a médica.
Quando foi contatada pelas autoridades brasileiras para receber a assistência necessária e se preparar para voltar para casa, a principal sensação foi de alívio, afirmou Amarilis. "Embarcar foi uma alegria muito grande. Diferente (sic) deles [ucranianos], a gente tem a opção de voltar para casa. Passagem de vinda para paz de novo".
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