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Complexo do Alemão: o que se sabe de operação policial que deixou mortos

PM confirmou 20 mortos até agora - EPA
PM confirmou 20 mortos até agora Imagem: EPA

21/07/2022 17h50

Ao menos 18 pessoas morreram em ação que, segundo a polícia, tinha como objetivo de combater roubos de veículos, carga e bancos.

Ao menos 18 pessoas morreram após uma operação policial no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, realizada na quinta-feira (21/7), segundo a Polícia Militar.

Dessas mortes, 17 foram registradas na quinta-feira e uma na sexta-feira (22/7).

A Policia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) divulgou que, entre os mortos, há 15 "suspeitos", um policial e duas mulheres.

A PMERJ havia informado mais cedo na sexta-feira que eram 19 mortos, mas a informação foi corrigida depois.

A Polícia Civil informou que um traficante havia sido contabilizado erroneamente. Ele está vivo e foi preso em flagrante.

A polícia informou ainda que 12 mortos na operação já foram identificados e que o processo de identificação dos demais está em andamento no Instituto Médico Legal (IML).

Entre os já identificados, 10 são definidos pela autoridades policiais como "criminosos que participaram do confronto". Desses, dois não possuem passagens pela polícia.

De acordo com a PMERJ, a operação se encerrou na própria quinta-feira, porém uma das bases da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Alemão, foi atacada por criminosos com disparos de arma de fogo na manhã de sexta-feira.

A polícia informou em nota à BBC News Brasil que "não houve confronto envolvendo policiais militares que estavam no local".

Após o ataque, segundo autoridades policiais, uma mulher identificada como Solange Mendes da Cruz, de 49 anos, foi baleada durante ação da Polícia Militar para a retirada de barricadas na região na sexta.

A PMERJ divulgou que Solange foi encontrada ferida e foi socorrida por policiais, que a levaram para o Hospital Estadual Getúlio Vargas.

De acordo com o portal G1, com base em relatos de testemunhas, a mulher teria sido alvejada por um policial na localidade da Caixa D'Água.

Conforme as autoridades policiais do Estado, a operação de quinta-feira tinha como objetivo combater o roubo de veículos, de carga e de bancos na cidade.

A PMERJ disse que cerca de 400 policiais participaram da ação, que contou com quatro aeronaves e dez veículos blindados.

"As informações dos setores de inteligência apontam a presença de criminosos da região do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna", afirmou a PMERJ na quinta-feira.

"Esse grupo criminoso vem empreendendo roubos a bancos como aqueles que ocorreram no município de Quatis, em Niterói, e na Baixada Fluminense, e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades. Entre os roubos de carga realizados pelos criminosos, constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras quando estivessem ocorrendo operações visando dificultar o avanço de guarnições policiais."

Autoridades policiais do Rio de Janeiro informaram que a operação apreendeu uma metralhadora - que segundo a polícia seria capaz de derrubar helicópteros -, quatro fuzis, duas pistolas, nove carregadores de fuzil, 56 artefatos explosivos e grandes quantidades de drogas.

No início da operação, segundo a polícia, criminosos atacaram bases das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), além de terem derramado óleo em via pública e ateado fogo em objetos como forma de protesto. Conforme a polícia, as armas estão sendo apreendidas para perícia.

A investigação tem sido feita pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que ouve agentes e testemunhas.

A ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) acompanham o caso.

Na quinta-feira, as entidades chegaram a informar que havia 20 mortos na comunidade, mas, horas mais tarde, a informação foi corrigida para 17 - novos números não foram divulgados na sexta-feira.

Os mortos durante a operação

Além dos 15 "suspeitos", a PMERJ confirmou a morte de um cabo identificado como Bruno de Paula Costa, que ficou ferido quando a base da UPP Nova Brasília foi atacada durante a operação, segundo a polícia.

Costa chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

A segunda mulher morta durante a operação, Letícia Marinho, de 50 anos, foi ferida por um disparo de arma de fogo, segundo a PMERJ.

De acordo com o G1, parentes dela informaram que Letícia foi baleada dentro do seu carro e chegou morta à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Alemão.

As autoridades policiais informaram que o caso é investigado pela Polícia Civil e que a Polícia Militar "acompanha e colabora integralmente com todos os procedimentos".

Os relatos de moradores

De acordo com relatos de moradores colhidos pelo jornal Voz das Comunidades, que é baseado no Alemão, foi possível ouvir tiroteio intenso desde as 5h da manhã. Vias localizadas no entorno do complexo foram interditadas.

Moradores disseram ter ouvidos novamente tiros na manhã de sexta-feira.

Segundo o jornal, eles relataram abusos cometidos durante a operação. Eles contaram que policiais forçaram portas para invadir casas e residências, que teriam sido reviradas.

"Eles entraram lá em casa e levaram meus pertences, mexeram na geladeira e bateram na cara do meu sogro e a minha sogra foi xingada por eles. E eu tenho criança pequena em casa, que assistiu tudo", disse um morador ao Voz das Comunidades.

"Há relatos de muita violência", disse a procuradora da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Mariana Rodrigues, à BBC News Brasil na quinta-feira.

"De pessoas presas em casa, pessoas feridas que não conseguem atendimento médico, crianças com tiros de raspão que o disparo atravessou a parede das casas."

Questionada pela BBC News Brasil sobre as alegações dos moradores, a PM não comentou o assunto e informou apenas que a Corregedoria Geral da Corporação disponibiliza canais para o recebimento de denúncias. "O anonimato do denunciante é garantido. O contato pode ser feito por telefone pelo número (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br."

Outras operações

A ação no Alemão ocorre em pouco após uma operação policial em uma comunidade vizinha. Em maio, 23 pessoas morreram durante uma operação na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal da história do Rio de Janeiro.

Em maio de 2021, ocorreu a operação mais letal, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, que resultou em 28 mortes.

A nova ação no Alemão ocorre em meio à restrição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre operações policiais no Rio de Janeiro.

Desde o início da pandemia de covid-19, o STF proibiu operações a não ser em "hipóteses absolutamente excepcionais".

A excepcionalidade da operação do Alemão será avaliada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), segundo disse o orgão em nota ao jornal Folha de S. Paulo.

- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/brasil-62259940


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