7 de setembro: após trauma, segurança do STF terá barreira de concreto e sistema antidrone
Supremo quer evitar que caminhões e manifestantes cheguem perto da Corte, como ocorreu em 2021, durante manifestações da militância favorável ao presidente Jair Bolsonaro.
Convocados pelo próprio presidente da República, apoiadores de Jair Bolsonaro voltarão a realizar atos em sua defesa no feriado de 7 de setembro em diferentes cidades do país, com destaque para Brasília e Rio de Janeiro.
Na capital federal, o presidente vai acompanhar de manhã a tradicional parada militar em celebração da independência, que neste ano completa 200 anos.
À tarde, ele participará de ato na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em iniciativa inédita que também contará com apresentação das Forças Armadas.
Novamente, uma das principais bandeiras dessas mobilizações é a crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF), devido a decisões de ministros da Corte que contrariam o governo e atingem seus apoiadores, como a liminar que Edson Fachin deu na segunda-feira (5/9) restringindo o número de armas e munições que podem ser obtidas por CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), sob a justificativa de conter o risco de violência política na campanha eleitoral.
É o caso também das investigações contra o presidente e seus aliados realizadas sob a jurisdição do ministro Alexandre de Moraes, que em agosto determinou uma operação da Polícia Federal contra oito empresários bolsonaristas suspeitos de apoiar a realização de atos antidemocráticos, o que eles negam.
Em 2021, primeira vez que Bolsonaro convocou atos em seu apoio no 7 de setembro, a Corte foi surpreendida pela invasão da Esplanada dos Ministérios na noite anterior, por caminhões e manifestantes a pé, o que gerou fortes temores de que a sede do Tribunal poderia ser depredada ou invadida.
Naquela ocasião, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, chegou a telefonar para o chefe do Comando Militar do Planalto, Rui Yutaka Matsuda, para saber se o Exército estaria preparado para proteger a Corte em caso de necessidade.
Na ligação, informou que pediria ao presidente Bolsonaro a instauração de missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para as Forças Armadas reforçarem a segurança, caso houvesse novas tentativas de furar bloqueios da Polícia Militar (PM).
A medida acabou não sendo necessária, graças a um reforço de segurança pela própria PM. Mas, diante do trauma do último ano, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e o STF articularam um esquema mais forte de prevenção e defesa da sede do Supremo.
Alguns caminhoneiros tentaram acessar a Esplanada dos Ministérios já na noite de segunda-feira, fazendo buzinaço. Por isso, as forças de Segurança do DF anteciparam o bloqueio da via, que estava planejado originalmente apenas para as 17h de terça-feira.
"O acesso à Esplanada dos Ministérios foi bloqueado preventivamente, no início da noite dessa segunda-feira (5), conforme possibilidade prevista no planejamento inicial. As vias serão liberadas para o trânsito de veículos após finalização do desfile, atos previstos e, principalmente, mediante avaliação técnica de cenário, de forma que seja garantida a segurança na região", disse a Secretaria de Segurança, em nota à reportagem.
"Um grupo, com cerca de 15 caminhoneiros, que se dirigia à região foi orientado, na altura da Rodoviária do Plano Piloto, da impossibilidade de acessar e permanecer no local, por questões de segurança. O grupo seguiu, de forma pacífica, sentido Eixão Sul", acrescentou o órgão.
Estão sendo usados blocos de concreto antes da entrada da Esplanada, na altura da Biblioteca Nacional, a quase três quilômetros de distância do Supremo, para reforçar as barreiras de segurança.
Em 2021, os bloqueios da polícia contavam com efetivo pequeno e foram facilmente furados pelos manifestantes. Alguns caminhões ficaram estacionados na Esplanada e só deixaram o local no dia 9 de setembro, após o próprio presidente solicitar a desmobilização de caminhoneiros que bloqueavam rodovias pelo país em seu apoio.
"Ano passado foram muitos caminhões e havia o medo de isso acontecer de novo. A ideia é impedir que cheguem perto da Corte dessa vez", disse à BBC News Brasil um servidor do STF envolvido nos preparativos.
No Supremo, a avaliação é que Bolsonaro tem suavizado seu discurso de críticas ao Poder Judiciário e à Justiça eleitoral na tentativa de atrair o apoio de eleitores mais moderados, já que hoje aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto.
No entanto, a reportagem apurou que a área de inteligência da Corte mantém preocupação com o radicalismo dos apoiadores do presidente.
O monitoramento dos grupos mobilizados para os atos de 7 de setembro indica que permanece um discurso agressivo contra o STF, com defesa do fechamento do Tribunal.
Além disso, gera preocupação a alta taxa de ocupação dos hotéis da capital, que está em 80%, indicando que o público no 7 de setembro deve ser significativo.
Esse ano, além dos caminhões, está prevista a chegada à Brasília de tratores do agronegócio, setor em que Bolsonaro tem forte apoio.
Alguns participarão do desfile de celebração da Independência, segundo confirmou o secretário de comunicação social da Presidência da República, André Costa, durante exibição do programa Voz do Brasil, na EBC, canal estatal.
O presidente do STF, Luiz Fux, passará o feriado em Brasília, monitorando os acontecimentos. Até a publicação dessa reportagem, ele não havia decidido ainda se participará do desfile de celebração da Independência.
Seguindo o protocolo tradicional, ele foi convidado a participar, assim como os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Efetivo maior e sistema antidrone
O efetivo que será usado na proteção da sede do STF neste 7 de setembro também foi ampliado em 70% na comparação com o ano passado - o número total não foi divulgado como estratégia de segurança.
Além da Polícia Judicial do próprio STF, houve reforço de policiais que atuam em outros edifícios do Poder Judiciário, como o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho. Haverá também efetivo da Tropa de Choque da Polícia Militar do DF.
Esse efetivo terá desde armamentos não letais, como taser, spray de pimenta e gás lacrimogêneo, até armas de fogo.
Outra novidade é um sistema antidrone que será usado de forma experimental pelo STF. O espaço aéreo da Praça dos Três Poderes, onde ficam o Palácio do Planalto, o STF e o Congresso, já é fechado para uso de drones que não sejam autorizados por alguma dessas três instituições.
O sistema que será usado no 7 de setembro pela Corte permite identificar se há algum drone não autorizado na área e hackear seu controle para forçar seu pouso.
Em junho, um drone de pulverização despejou uma substância malcheirosa no público que assistia a um evento do PT em Belo Horizonte, com a presença de Lula.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF, o público que acompanhará o desfile passará por revistas nos bloqueios de acesso e não poderá ingressar na Esplanada com armas em geral, sejam verdadeiras ou imitações como brinquedos, artefatos explosivos, substâncias inflamáveis, sprays e aerossóis, garrafas de vidro e latas, drogas ilícitas, e mastros confeccionados com qualquer tipo de material para sustentar, ou não, bandeiras e cartazes.
Ato inédito no Rio de Janeiro
A celebração do feriado da Independência do Brasil com uma parada militar em Brasília é uma tradição que foi interrompida em 2020 e 2021 por causa da pandemia de covid-19.
A expectativa é que, após o desfile deste ano, Bolsonaro discurse para seus apoiadores na Esplanada dos Ministérios.
Depois, ele segue para o Rio de Janeiro, onde ocorre um ato inédito para celebrar o 7 de setembro, na praia de Copacabana, com participação das Forças Armadas.
Em nota enviada à BBC News Brasil, o Ministério da Defesa disse que haverá uma parada naval com desfile de navios militares na orla da cidade, um show da Esquadrilha da Fumaça, salto de paraquedistas, apresentação de bandas militares e execução de salva de tiros.
Um dos roteiros previstos da parada naval é que ela comece na Baía de Guanabara e passe pela Praia de Copacabana. O início da parada, no entanto, está marcado para as 09h30, e não está claro se ela vai se estender até coincidir com o ato pró-Bolsonaro.
A princípio, o desfile de veículos blindados que estava previsto para ser realizado no Centro do Rio não deverá acontecer e também não deverá ser transferido para Copacabana. A BBC News Brasil perguntou sobre os custos da mobilização militar no Rio de Janeiro em razão do 7 de setembro, mas a pasta não respondeu.
Preocupado com o uso eleitoral das Forças Armadas, o Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC-RJ), enviou ofícios ao Comando Militar do Leste, ao Comando do 1º Distrito Naval e ao Terceiro Comando Aéreo Regional em que questiona "as medidas que pretendem adotar ou já adotaram para garantir que as celebrações oficiais de 7 de setembro não se confundam com manifestações político-partidárias".
O ofício questiona também "as medidas que os comandos pretendem adotar ou já adotaram para prevenir que os seus subordinados se engajem eventualmente em manifestação do gênero durante tais celebrações".
Por que Copacabana?
Segundo cientistas políticos e pessoas próximas ao comando da campanha do presidente ouvidos pela BBC News Brasil, a famosa praia da zona sul carioca foi escolhido por três fatores: expectativa de apoio popular, já que se trata de um bairro com perfil de morador mais idoso e conservador; imagens aéreas impactantes nacional e internacionalmente; e a disponibilidade do efetivo das Forças Armadas que já atua no Rio de Janeiro.
"Em Copacabana, até pela geografia, com ruas mais estreitas, é mais fácil você dar a impressão de que uma manifestação está lotada. Em Brasília, cheia de espaços amplos, é muito mais difícil", afirma a cientista política Viviane Gonçalves, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para a doutora em Ciência Política pela PUC de São Paulo Deysi Cioccari, as imagens de ruas lotadas em Copacabana serão usadas para fortalecer a narrativa da campanha de Bolsonaro.
"Não se trata tanto de quantos votos ele vai conseguir ganhar, mas de reforçar essa narrativa (de apoio popular), especialmente nas redes sociais, onde Bolsonaro se mostra mais eficiente do que seu adversário", afirmou a especialista.
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