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Como Kevin McCarthy conseguiu se eleger presidente da Câmara dos EUA, após 4 dias de impasse e caos

Foram necessárias 15 rodadas de votação para que o candidato do Partido Republicano, Kevin McCarthy, se elegesse. E a resistência veio do próprio partido dele. - Getty Images
Foram necessárias 15 rodadas de votação para que o candidato do Partido Republicano, Kevin McCarthy, se elegesse. E a resistência veio do próprio partido dele. Imagem: Getty Images

Bernd Debusmann no Capitólio e Matt Murphy em Londres

07/01/2023 10h24Atualizada em 07/01/2023 10h32

O republicano Kevin McCarthy foi eleito presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos em maio a acaloradas discussões entre seus colegas de partido, que chegaram perto de se agredirem fisicamente durante a sessão de votação.

McCarthy venceu após 15 rodadas fracassadas de votação e quatro dias de caos no Congresso americano.

Após uma dramática campanha de lobby transmitida ao vivo da Câmara, Matt Gaetz, um dos rebeldes do partido Republicano, foi instado a votar em McCarthy.

O congressista da Flórida foi um dos seis que cederam ontem.

Anteriormente, Gaetz esteve perto de entrar em conflito físico com o republicano Mike Rogers, um apoiador de McCarthy. O congressista do Alabama teve que ser contido fisicamente por seus colegas enquanto gritava e apontava o dedo para Gaetz.

"Nunca me renderei"

O presidente da Câmara dos Representantes define a agenda e supervisiona os assuntos legislativos. O cargo é o segundo na linha de sucessão à presidência, depois do vice-presidente dos Estados Unidos.

Após sua confirmação, McCarthy escreveu no Twitter: "Espero que uma coisa fique clara depois desta semana: nunca desistirei. E nunca desistirei por vocês, povo americano."

Matt Gaetz (à esquerda) escuta reclamações de Mike Rogers - Getty Images - Getty Images
Matt Gaetz (à esquerda) escuta reclamações de Mike Rogers
Imagem: Getty Images
Mike Rogers é contido enquanto gritava com o colega de partido - Getty Images - Getty Images
Mike Rogers é contido enquanto gritava com o colega de partido
Imagem: Getty Images

O presidente dos EUA, Joe Biden, parabenizou McCarthy por sua vitória e disse que espera cooperar com o Partido Republicano.

"O povo americano espera que seus líderes governem de forma a colocar suas necessidades em primeiro lugar, e é isso que temos que fazer agora", disse ele.

Os republicanos já prometeram iniciar investigações sobre os negócios da família de Biden e seu governo.

Mas como McCarthy conseguiu contornar o impasse e se eleger?

Concessões

Depois que a 13ª votação foi adiada, McCarthy insistiu em entrevista à imprensa que "teria os votos" para assumir o cargo no turno seguinte.

Na 12ª rodada de votação, McCarthy conseguiu convencer 14 republicanos a votar nele. Outro rebelde o apoiou na 13ª.

Mas o congressista californiano ainda estava a três votos de atingir os 217 de que precisava para conquistar o cobiçado cargo e, em cenas caóticas e dramáticas, falhou novamente na décima quarta votação.

Entre os dissidentes estavam membros da bancada Freedom, que dizem que McCarthy não é conservador o suficiente para liderá-los em seu esforço para frustrar a agenda do presidente democrata Joe Biden.

McCarthy acabou oferecendo várias concessões aos rebeldes, incluindo um assento no influente comitê de regras, que define os termos do debate legislativo na Câmara.

Ele também concordou em diminuir — para um membro da Câmara — o número mínimo necessário para convocar uma votação destinada a remover o presidente da Casa do cargo. Com isso, uma coalizão republicana poderá facilmente retirar McCarthy da presidência, se não estiver satisfeita com o desempenho dele.

Críticas dos democratas

Os principais legisladores do Partido Democrata acusaram McCarthy de ceder o poder a uma ala radical do partido Republicano. Chegaram a comparar as disputas internas do Partido Republicano à invasão de apoiadores do ex-presidente Donald Trump ao Capitólio, exatamente dois anos atrás.

"Dois anos atrás, os insurgentes não conseguiram tomar o Capitólio", escreveu o congressista Eric Swalwell no Twitter. "Esta noite, Kevin McCarthy os deixou assumir o Partido Republicano."

De sua parte, o congressista da Virgínia, Don Beyer, destacou as cenas de raiva entre os republicanos que se seguiram à décima quarta votação:

"É perturbador que este processo termine em ameaças de violência na Câmara dos Representantes neste mesmo dia. Pode não determinar o resultado, mas não é maneira de administrar os assuntos do povo. Um momento sombrio que provavelmente será lembrado por muito tempo depois de terminar esta sessão."

Os democratas, uma minoria na Câmara, continuaram a votar em uníssono em seu líder, o nova-iorquino Hakeem Jeffries, o primeiro negro a liderar um partido no Congresso.

Ontem foi o primeiro dia em que a contagem de votos de McCarthy ultrapassou a de Jeffries.

Desde 1860, às vésperas da Guerra Civil, que Câmara dos Representantes não votava tantas vezes para escolher um presidente. Naquela época, foram necessárias 44 rodadas de votação.

Nas eleições legislativas de novembro, os republicanos ganharam maioria na Câmara dos Representantes, por uma margem menor que a esperada — 222 votos contra 212. Os democratas mantiveram o controle do Senado.