A luta na Síria e as lições do Afeganistão, Líbia e Iraque
Tanto no Afeganistão como no Iraque, o saldo das operações militares no combate ao terrorismo é o pior possível. Na luta contra o Estado Islâmico na Síria, o Ocidente estará repetindo os erros de anos passados?
Os cenários do 11 de setembro de 2001 e do 13 de novembro de 2015 se assemelham: radicais islâmicos perpetram um atentado terrorista num país ocidental, o pior na história da nação. Logo o choque e o horror dão lugar à ira: declara-se guerra ao terrorismo.
Contudo, passados 14 anos desde os ataques às Torres Gêmeas em Nova York, depois das guerras no Afeganistão e no Iraque e da ascensão do EI (Estado Islâmico), o saldo da luta contra o terrorismo é o pior possível.
"Ao que tudo indica, os responsáveis políticos não estão dispostos a aprender com os erros do passado", critica o especialista em Oriente Médio Michael Lüders. Ele cita as intervenções de nações ocidentais no Afeganistão e no Iraque, as quais não teriam promovido a estabilidade, mas sim precipitado a deterioração do Estado nesses países árabes.
EI aproveitou vácuo de poder
Essa também é a opinião do especialista em Oriente Médio Jochen Hippler, da Universidade de Duisburg: "O Iraque, por exemplo, passou de uma ditadura brutal a celeiro global do terrorismo." O vácuo de poder surgido no Iraque e na Síria foi preenchido pelo EI, que também se expande cada vez mais na Líbia.
Do ponto de vista militar, de início as intervenções ocidentais foram bem-sucedidas. "Via de regra, elas alcançaram bem depressa seus objetivos militares diretos: a queda dos talibãs no Afeganistão, a saída de Saddam Hussein no Iraque e o afastamento de Muammar Gaddafi na Líbia", enumera Hippler.
No entanto, o aparente bom resultado se converteu rapidamente no oposto. Após os atentados em Paris, há evidências de que a comunidade internacional, em geral, e o Ocidente, em particular, repetem os erros de anos passados.
A França intensificou seus ataques aéreos contra posições dos jihadistas na Síria e no Iraque. O presidente François Hollande afirma que vai derrotar o EI e faz campanha, de Moscou a Washington, por uma coalizão forte contra o grupo terrorista.
Com maioria esmagadora, a Câmara dos Comuns aprovou a adesão britânica aos bombardeios na Síria. A Alemanha também quer prestar a sua contribuição: no início desta semana, o gabinete de governo em Berlim sancionou o envio de jatos de reconhecimento do tipo Tornado à Síria.
Na armadilha dos jihadistas
O especialista em Oriente Médio Lüders adverte contra a mobilização de tropas terrestres para a Síria. "Isso não é eficaz, pois o EI persegue uma estratégia clara de atrair os países ocidentais para uma guerra em solo, que o Ocidente não tem como vencer." Lüders lembra que, até agora, nenhum Exército regular conseguiu derrotar uma tropa de guerrilha.
"Embora a estratégia do Estado Islâmico seja evidente, os líderes ocidentais caem nessa armadilha." De acordo com o especialista, no máximo se poderá tentar impedir a expansão continuada da zona de influência do grupo terrorista. "E essa meta tem sido alcançada em grande parte pelos ataques aéreos."
Na luta contra o EI, as operações militares batem rapidamente em seus limites. O mais importante seria conseguir a adesão de grupos significativos da população, na Síria e no Iraque, sugere Wolfgang Richter, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), em Berlim.
Além disso, seria necessária uma contraproposta sunita frente ao Estado Islâmico. "Se o EI consegue convencer com a filosofia de que o Ocidente não resolve realmente os problemas, mas que os cruzados estão de volta, então talvez mais sunitas vão preferir se unir ao EI, ou vai se formar uma organização semelhante."
Esperança nas negociações em Viena
Segundo Jochen Hippler, no entanto, o Ocidente tem opções muito limitadas na Síria. "Pode-se fortalecer a ajuda humanitária, para aliviar a miséria originada por esses conflitos. E, em segundo lugar, é preciso que, através de medidas diplomáticas internacionais, haja no mínimo esforços para não jogar ainda mais gasolina na fogueira, de fora", aconselha o cientista político.
Pelo menos o cronograma de uma solução política parece estar à vista. Em meados de novembro, em Viena, 17 países concordaram em negociar o mais rápido possível uma trégua entre o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, e os grupos rebeldes moderados.
Até meados de 2016, um governo de transição formado por membros do regime e da oposição deverá ser instaurado sob os auspícios das Nações Unidas. Dezoito meses mais tarde deverão se realizar novas eleições, das quais os milhões de refugiados também podem participar: esse seria um primeiro passo na luta contra o EI.
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