Tumulto marca segundo dia de julgamento de Dilma
A segunda sessão do julgamento da presidente afastada, Dilma Rousseff, nesta sexta-feira (26/08), deu continuidade aos depoimentos das testemunhas e, mais uma vez, foi marcada por tumulto e bate-boca entre senadores favoráveis e contrários ao impeachment.
A manhã começou com um debate sobre a imparcialidade das testemunhas, o que levou a defesa a desistir do depoimento da ex-secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento Esther Dweck, recentemente contratada para trabalhar no gabinete da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Segundo o advogado de Dilma José Eduardo Cardozo, a decisão foi tomada para "evitar eventuais constrangimentos". Dessa forma, o número de testemunhas de defesa foi reduzido para cinco.
Mais tarde, o presidente do Senado, Renan Calheiros, pediu a palavra para solicitar aos parlamentares que reduzissem intervenções repetidas, mas acabou protagonizando um dos momentos mais tensos do julgamento. Renan declarou que os senadores estão passando a imagem de que o Senado é um "hospício", além de criticar as recentes brigas no plenário, as quais chamou de "espetáculo".
Exaltado, o presidente da Casa ainda atacou Gleisi, que no dia anterior havia afirmado que os parlamentares não tinham moral para julgar Dilma. "Como a senadora pode fazer uma declaração destas?", questionou Renan, admitindo em seguida que ele conseguiu "reverter o indiciamento" da senadora e de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As palavras foram contestadas por Gleisi e outros apoiantes de Dilma, gerando grande tumulto. A discussão fez com que o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que preside o julgamento, suspendesse a sessão e antecipasse o intervalo para o almoço antes de ouvir as testemunhas.
Testemunhas de defesa
Nesta sexta-feira, duas testemunhas de defesa passaram à condição de informantes: o professor de direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Ricardo Lodi, que atuou como assistente de perícia no processo de impeachment, e o economista Luiz Gonzaga Belluzo, professor da Unicamp, que se pronunciou publicamente contra o impedimento de Dilma.
Foram ouvidos nesta sexta-feira o informante Belluzo - cujo depoimento não tem valor de prova - e duas testemunhas de defesa: o consultor jurídico e pesquisador da Universidade de Lisboa Geraldo Luiz Mascarenhas Prado e o ex-secretário-executivo do Ministério da Educação Luiz Cláudio Costa.
Dilma é acusada de crime de responsabilidade, por ter editado três decretos de créditos suplementares sem autorização do Congresso e pelas chamadas pedaladas fiscais, que são atrasos nos pagamentos da União para o Banco do Brasil em subsídios concedidos a produtores rurais através do Plano Safra.
Para Prado, Dilma não pode ser responsabilidade pela prática, uma vez que "os decretos resultam de um processo complexo, do qual participam várias pessoas e órgãos". "Como ser negligente se um ato é praticado com o parecer de trinta assessorias?", questionou a testemunha, em seu depoimento.
Já Costa, também em depoimento, defendeu que os decretos de créditos suplementares editados por Dilma não chegaram a causar qualquer impacto fiscal. Segundo ele, eles "simplesmente permitem ao gestor fazer uma alocação melhor da verba para os programas que acha mais importante".
Lewandowski atendeu a um pedido de Cardozo, advogado de Dilma, e adiou para este sábado os depoimentos de duas pessoas convocadas pela defesa: o ex-ministro do Planejamento e da Fazenda Nelson Barbosa e o advogado Ricardo Lodi, convertido de testemunha a informante.
Os próximos passos
Está marcado para as 9h desta segunda-feira (horário de Brasília) o depoimento de Dilma no Senado. A presidente afastada apresentará sua defesa pessoalmente e terá 30 minutos para falar, que podem ser prorrogados por tempo indeterminado. Em seguida, os senadores presentes poderão questioná-la.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve acompanhar Dilma ao Senado, junto a 18 ex-ministros, como Aloizio Mercadante, da Educação, Eugênio Aragão, da Justiça, e Jaques Wagner, da Casa Civil. A comitiva deve contar com um total de 33 pessoas, incluindo ainda assessores e presidentes de partidos.
Somente na terça-feira devem se pronunciar os 81 senadores. Cada um terá dez minutos para falar, antes de todos proferirem seu voto. A votação será por painel eletrônico, aberta e nominal.
São necessários 54 votos de senadores para que o impeachment seja decretado. Havendo essa maioria, Michel Temer deixa de ser presidente interino e é empossado como presidente da República. Caso contrário, Dilma é absolvida da acusação de crime de responsabilidade e reassume o cargo.
EK/abr/lusa/ots
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