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Apoio do Exército é o fator decisivo na Venezuela

Enrique López, Eva Usi (as)

25/01/2019 11h28

Comando das Forças Armadas lucra com o regime e se colocou do lado de Maduro. Mas especialistas veem divisões e insatisfação entre baixo escalão e soldados, que também sofrem com a crise econômica.O Exército da Venezuela emitiu uma nota de apoio ao presidente Nicolás Maduro nesta quinta-feira (24/01), um dia depois de o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamar presidente interino do país.

Lida pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino, que denunciou um golpe de Estado no país, a nota da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) afirma que esta não aceitará um presidente autoproclamado nem se subordinará a uma potência estrangeira, além de rejeitar "grosseiros atos de ingerência" de governos de outros países.

A nota afirma ainda que a FANB jamais aceitará um governante "imposto à sombra de interesses obscuros" e rejeita o que considera "ações ilegais com as quais se busca instalar um governo paralelo" na Venezuela, "assim como os aleivosos chamados de alguns setores" para afastá-la da "trilha democrática".

Finalmente, reitera que reconhece Maduro como "legítimo presidente", após ter sido eleito "pela grande maioria dos eleitores em eleições livres, universais diretas e secretas realizadas em 20 de maio de 2018".

Em seguida, o comandante-geral do Exército, Jesús Suárez Chourio, expressou sua "absoluta lealdade" a Maduro, enquanto oito generais também reiteraram sua "lealdade e subordinação absoluta" ao presidente chavista, em mensagens na televisão.

Exército decidirá o futuro do regime

Para cientistas políticos alemães que acompanham a situação na Venezuela, é muito difícil prever o fim da crise, mas está claro que ele dependerá em grande parte do Exército.

O especialista Wolfgang Muno, da Universidade de Rostock, vai ainda mais longe. "Maduro depende completamente do Exército. A decisão de quem recebe o apoio dos militares determina o futuro do regime e do país", explicou. "Nem a oposição, nem as manifestações, nem sanções do exterior são decisivas, mas o Exército."

Ele não vê fissuras entre o alto escalão do Exército e o governo de Maduro. "Oficiais de alto escalão tiram proveito do regime, têm privilégios e oportunidades, controlam a economia e a política. Eles não vão apoiar a oposição", afirma Muno.

O especialista Günther Maihold também afirma que o alto escalão está comprometido com o regime, seja como membro do governo ou em funções administrativas ou mesmo na petrolífera estatal PDVSA.

Muno tampouco vislumbra uma frente opositora unificada entre os oficiais de baixo escalão e os soldados, mas afirma haver uma inconformidade latente no Exército, sobretudo nos escalões médios e na tropa. O especialista considera que "há grupos perceptíveis contra Maduro" dentro das Forças Armadas.

A recente revolta de um grupo de militares, rapidamente sufocado, com a detenção de 27 oficiais, "demonstra que a inconformidade e a situação de emergência que se vive na Venezuela chegou a todos os setores. Formaram-se diferentes grupos dentro dos escalões médios e baixos" do Exército, diz a cientista política Ana Soliz Landivar de Stange. E estes "estão sofrendo o mesmo que o venezuelano comum".

É a mesma avaliação feita por Maihold. "O papel e a possível divisão interna dos militares é o fator-chave para o desenlace dessa situação crítica, e o soldado raso está sofrendo da mesma maneira que o restante da população com a escassez de alimentos e de medicamentos."

O fator narcotráfico

Em relação ao alto comando, o apoio incondicional ao governo de Maduro pode ter sua origem também em outros fatores. "Maduro é apoiado pelo Cartel de Los Soles", afirma a especialista mexicana em segurança Alexia Barrios, em referência a uma rede de políticos e funcionários que estariam envolvidos em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Deste participaria também um grupo do alto escalão militar. "Está tudo documentado, tanto nas investigações da rede da Odebrecht como nos Panama Papers", afirma Barrios.

Segundo Stange, essa situação faz com que essas pessoas não tenham uma saída para a crise. "São pessoas tão metidas nesses crimes que não podem simplesmente deixar o governo", comenta. Para os militares, políticos e funcionários envolvidos, ceder o poder significaria ser processado e, provavelmente, preso. Por isso, eles se manterão fieis a Maduro.

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