Uma mulher pode derrotar Donald Trump?
Após atrito entre Elizabeth Warren e Bernie Sanders, a pergunta se uma representante feminina pode chegar à Casa Branca ocupa agora democratas americanos.
Os dois pré-candidatos democratas americanos da ala esquerdista queriam manter um relacionamento amigável, mesmo se estivessem competindo pela indicação como candidato presidencial de seu partido. Até início de janeiro, Bernie Sanders e Elizabeth Warren conseguiram isso muito bem.
Mas parece que a paz acabou. Na última segunda-feira (13), o público soube de uma conversa entre os dois senadores em dezembro de 2018, quando Sanders teria dito a Warren que uma mulher não poderia vencer a eleição presidencial em novembro de 2020.
Warren confirmou o conteúdo da conversa, também no debate entre os candidatos democratas, na terça-feira. Mas Sanders nega. Imediatamente após o debate, Warren se aproximou dele e disse: "Você acabou de me chamar de mentirosa em rede nacional". A resposta: "Não vamos discutir isso agora. Você me chamou de mentiroso." Mesmo dias depois, o tema continua ocupando o rol de candidatos presidenciais democratas.
Não importa quem disse o quê: a questão de se uma mulher pode se tornar presidente nos Estados Unidos em 2020 foi lançada.
"Mulheres na política ainda enfrentam obstáculos especiais, como a pergunta se são simpáticas o suficiente", disse em entrevista à DW Sheri Berman, cientista política do Barnard College de Nova York. Contudo ela não vê motivo para uma mulher não ocupar a Casa Branca. "Nós [americanos] não somos mais sexistas do que outros países", nos quais já existem líderes do sexo feminino.
"É estranho nem sequer discutir a questão se os EUA estão preparados para uma presidente", afirmou à DW Marisha Kirtane, do Clube Nacional Democrata da Mulher (WNDC), organização feminina que apoia as opiniões políticas dos democratas. "Hillary Clinton obteve 3 milhões a mais de votos que Trump em 2016. Então isso não é algo impossível."
E, no entanto, uma mulher como comandante em chefe ainda é uma ideia absurda para alguns americanos. Numa pesquisa realizada pelo jornal USA Today em setembro de 2019, quase 90% dos eleitores democratas entrevistados disseram não ter problemas com uma presidente dos EUA.
Mas apenas 76% disseram que seus familiares também estavam abertos à ideia. E apenas 44% acreditam que seus vizinhos não teriam problemas com uma mulher na liderança do país.
Se os EUA estão preparados para uma presidente, é "uma boa pergunta", comenta Michael Cornfield, cientista político da Universidade George Washington. "Ainda existem muitos preconceitos contra as mulheres, não apenas na política. Basta dar uma olhada nas indicações ao Oscar." Apesar de algumas candidatas bastante cotadas, nenhuma mulher foi indicada na categoria de melhor diretor este ano.
Distração desnecessária ou jogada inteligente?
Hillary Clinton perdeu a última eleição contra Trump, mesmo que apenas devido ao sistema do Colégio Eleitoral dos Estados Unidos, em que todos os votos de um estado vão para o candidato mais votado ali.
Isso prejudicaria uma candidata democrata na eleição presidencial deste ano? Não, responde o cientista político Berman. "Os eleitores que mais se distanciaram dos republicanos [sob Trump] são mulheres com alta formação educacional", disse. "Os democratas precisam desses eleitores agora. Por que a pessoa a competir contra Donald Trump não pode ser uma mulher?"
Tanto Warren quanto Amy Klobuchar, a outra candidata que ainda tem chances, possuem vantagens e desvantagens, continua Berman, seu sexo não importa.
Indagada se Warren ou Klobuchar teriam uma chance contra Trump, Marisha Kirtane, do WND, tem uma resposta curta e clara: "Por que não?", acrescentando que os Estados Unidos nunca tiveram uma presidente. "Mas desde as eleições de meio de mandato em 2018, temos mais mulheres do que nunca nos parlamentos estaduais e no Congresso americano."
A questão sobre as chances de uma mulher na corrida eleitoral contra Donald Trump causou, definitivamente, burburinho entre os candidatos presidenciais democratas.
A cientista política Berman afirma que, para os democratas, essa discussão acalorada não faz sentido e apenas distrai de questões importantes. Para seu colega Cornfield, por outro lado, a coisa toda é uma jogada inteligente de Elizabeth Warren: "Ela sabia que tinha que se diferenciar de Sanders de alguma forma, e os dois diferem apenas em nuances quando se trata de questões políticas."
Se uma mulher vencerá ou não a indicação democrata, isso só será decidido nas primárias que começam em 3 de fevereiro em Iowa e vão até junho. E se o candidato ou candidata democrata vai vencer ou não Donald Trump só ficará claro no decorrer da noite eleitoral de 3 de novembro. Portanto, ainda há tempo de sobra para discussões políticas acaloradas.
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